Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A restauração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Entre os séculos XVIII e este, quatro grandes manifestações da cultura implicaram na construção de grandes instalações. A primeira é mais óbvia, pois o crescimento da arqueologia e a acumulação de capitais levaram à juntada de grandes acervos e por eles os grandes museus. A segunda foi o teatro e logo em seguida o cinema. A quarta foram as óperas e nisso é surpreendente a sobrevivência de suas edificações.

O cinema continua em franca produção, mas migrou para um ambiente menor e mais íntimo, levando ao fim das grandes salas, algumas como aqui no Rio com mais de mil assentos. O teatro ainda não vendeu suas salas para as igrejas e academias, mas anda em sentido de reduzir cada vez mais o seu tamanho. Onde ele pode retomar às grandes salas é com os musicais de estilo americano. Aliás, da mesma matriz cênica e musical da ópera e opereta.

Nas grandes capitais da Europa e das Américas, incluindo alguns países Asiáticos, os prédios da ópera continuam como referência de importância. Mesmo que esta manifestação cultural não mais seja objeto de interesses dos compositores e libretistas de hoje, a programação anual continua despertando interesse de numeroso público. É bem verdade que se trata de um público de alta renda que pode pagar o valor de cada espetáculo, mas não deixa de marcar a persistência desta manifestação antiga com seus prédios enormes e belos, como já verificamos na recente restauração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

A Arte Libertária de Isadora Duncan

(26/5/1877-San Francisco, Estados Unidos, 14/9/1927 - Nice, França).

Angela Isadora Duncan, bailarina norte-americana nascida em San Francisco, Estados Unidos, considerada pioneira da dança moderna ao romper com os dogmas do balé clássico, fazendo da improvisação e da espontaneidade as principais características de seu modo de dançar, criando uma nova escola de dança. Não gostava de ser chamada de dançarina e era avessa a passos de balé clássico e sapatilhas de ponta. Buscando inspiração na Grécia Antiga, sua arte consistia em encontrar “o movimento que expressa a alma”.

A segunda dos quatro filhos do poeta Joseph Charles e da pianista e professora de música Dora Gray Duncan, morou em Chicago e, depois, em Nova York, onde sua maneira de dançar, com os pés descalços, vestida com túnica leve e tendo por cenário apenas uma cortina azul, não despertou entusiasmo.

Com um treinamento técnico incipiente, ela rejeitou as regras da balé clássico e partiu para criar um estilo próprio de dançar, com túnicas esvoaçantes e pés descalços como sua marca. Não muito afeita a casamentos viveu maritalmente com designer teatral Gordon Graig e o milionário parisiense Eugene Singer, dono das máquinas de costura do mundo de então, com os quais teve um filho de cada.

Em busca do reconhecimento de seu estilo revolucionário foi para Londres (1898) e consolidou e sua fama quando fez sua primeira exibição em Paris (1902). Depois percorreu quase toda a Europa, onde fez sucesso e apresentou-se nas principais capitais européias, na Grécia e na Rússia (1904). Em Paris (1902), desgraçadamente seus dois filhos, Deirdre e Patrick, morreram afogados no rio Sena (1913) juntamente com sua governanta inglesa, o que a levou a retirar-se temporariamente de cena.

Depois da primeira guerra mundial (1920) foi para Moscou, onde se casou (1922) com o poeta soviético Serguei Iessnin, mas se separaram dois anos depois. Yesenin suicidou-se (1925) e ela se estabeleceu na França e passou seus últimos anos em Nice, na Riviera francesa, onde morreu acidentalmente, sem fortuna e esquecida, enforcada pela própria echarpe, que se enrolou nas rodas do automóvel que dirigia.

Escreveu The Dance (1909) e o autobiográfico My Life (1927). Além desses e de vários artigos em periódicos, também postumamente foi editado o The Art of the Dance (1928).

Isadora Duncan é considerada a criadora da Dança Moderna. Através de sua técnica, ela atingiu movimentos purificados e soltos, fazendo o corpo da bailarina mais articulado e natural.
Ela fundou sua primeira escola de dança em 1904, em Grunewald (Alemanha), e revolucionou o panorama cultural fé sua época, propondo novos paradigmas para dança, indo de encontro ao tradicionalismo do balé clássico.

Isadora Duncan propunha uma arte libertária. “As coreografias de Isadora refletem questões diretamente relacionadas às urgências de seu tempo, como os traumas gerados pela guerra, a aproximação da natureza e a condição da mulher. Questões relevantes ainda hoje. Ela devolveu à dança, atenção e prestígio no rol das artes, transformando-a em uma possibilidade de reflexo artístico do nosso tempo”, analisa Fátima Suarez, dançarina formada pela Isadora Duncan Foundation de Nova York.

http://www.overmundo.com.br/agenda/um-olhar-sobre-isadora-duncan

Pensamento para o Dia 17/08/2009



“Tudo aquilo que se vê no universo inteiro é uma manifestação de Brahman (Divindade). Algumas pessoas perguntam: “Como nós, seres humanos insignificantes, podemos ser iguais ao Todo-envolvente?”. Isso não está correto. Vocês são o Onipotente e o Todo-penetrante Brahman. Devido à sua atitude mundana, vocês não estão reconhecendo a Realidade. Vocês estão se separando do Divino. Tudo aquilo que vêem é Brahman. Procurar Deus como algo diferente de vocês é um engano. Mas essa verdade não é reconhecida facilmente pelo homem. Quando vocês olham o oceano, as ondas e a espuma nas ondas - em sua seqüência interminável - parecem separadas umas das outras. Mas a verdade é que todas elas são uma. A água nas ondas e na espuma vem do mesmo oceano e tem as mesmas qualidades do oceano.”
Sathya Sai Baba

Roberto de Niro - New York, New York

Robert De Niro (nascido em 17 de Agosto de 1943 em Nova Iorque) é um famoso ator norte-americano conhecido por ter protagonizado diversos filmes do realizador Martin Scorsese. Apreciado por levar muito a peito os seus papéis de Niro engordou 27 quilos e aprendeu a jogar boxe para melhor encarnar o personagem Jake LaMotta em Raging Bull, afiou os dentes para fazer Cape Fear, e aprendeu a tocar saxofone em New York, New York (todos eles filmes de Scorsese).

É por isso considerado normalmente como um grande observador de tiques e detalhes físicos, assim como de ser um perfeccionista.

O primeiro filme em que entrou foi “Greetings” de Brian de Palma. Após esse filme participou em muitos outros com papéis maiores e menores, mas nenhum deles com grande sucesso, até que atingiu a popularidade com o seu papel em Bang the drum slowly em [1973]. No mesmo ano começou a trabalhar com Scorsese (que lhe foi apresentado por Brian de Palma) no filme Mean streets. A partir daí, entrou em vários filmes de Scorsese como: Taxi Driver, New York, New York, Raging Bull, The king of comedy, Goodfellas, Cape fear e Casino. Neste filmes de Niro representa personagens normalmente simpáticas mas emocionalmente instáveis e que revelam tendências sociopáticas.

A meio da década de 80, de Niro começou a fazer também papéis cómicos, com os quais teve bastante sucesso tais como: Brazil, Midnight run, Wag the dog, Analyze this e Meet the parents.

Ganhou dois óscares da Academia de Hollywood; um como actor principal em “Raging bull” e um como actor secundário em The godfather: Part III.

Curiosamente, de Niro e Marlon Brando são os únicos actores que ganharam óscares interpretando a mesma personagem (Vito Corleone), Niro em The Godfather III e Brando (que se recusou a receber o prémio),no primeiro filme da saga .

Contrariamente ao que é normalmente suposto, de Niro tem descendência irlandesa e não italiana. Em Outubro de 2004 cancelou uma apresentação em Roma na Itália, após as autoridades italianas o terem acusado de apresentar estereótipos negativos da sua descendência nos seus filmes. Em Dezembro do mesmo ano voltou a Roma para apresentar pela primeira vez uma exposição de arte do seu falecido pai. As mesmas autoridades, surpreendidas, disseram que não guardavam ressentimentos.

De Niro é muitas vezes comparado com Al Pacino, os dois contracenaram em Heat de Michael Mann em 1995.

Em 2007, estará na ficção científica Stardust, baseada em história de Neil Gaiman, na qual contracenará pela primeira vez com a estrela Michelle Pfeiffer.

Fonte: NetSaber

Saudade Zen Amor - por Socorro Moreira


Existem saudades de todas as idades
Todas um dia morrem
Algumas passam logo,
e as que ficam adormecem,
e deixam de doer... Têm sono leve,
acordam fácil, assustadas ou agradecidas
Por quem as trouxe de volta.
_ Sou solidária com todas as saudades!




Serei Zen...
No dia em que as ligações por engano não me irritarem
Quando as críticas incongruentes não me afetarem
Quando a vontade de fumar não existir
Quando todos tiverem consciência de si...
Serei zen, na eternidade?
.
Impossível ser zen numa noite profana
Impossível expulsar
O anjo que me acompanha !


A gente descobre o amor sem senti-lo
Ele é impositivo, embora nada cobre
Ele resiste depois que tudo passa
Amor não tem saudades
Amor nem ata, nem desata
O amor sendo livre nos deseja livres
Promover a liberdade do outro,
e viver a própria liberdade,
Tem fórum de amor, no infinitivo!

Separe a gordura boa da ruim



(http://yahoo.minhavida.com.br/materias/alimentacao/Separe+a+gordura+boa+da+ruim.mv)

Controlando o consumo, você pode comer de tudo sem prejudicar a dieta
Apesar de a má fama ter sido espalhada há pouco tempo, a gordura trans sempre fez parte do time de gorduras prejudiciais à saúde. E, se você acha que ela só atrapalha a perda de uns quilinhos, melhor checar a sua despensa. Doenças do coração, derrames e até alguns tipo de câncer têm sido relacionados ao mau consumo de alguns tipos de gorduras.

Não à toa, portanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ordenou que todas as empresas alimentícias indiquem, no rótulo de cada produto, a quantidade presente desse tipo de gordura.

A mudança aconteceu em julho de 2006, transformando uma simples ida ao supermercado numa epopéia em busca do prato saudável. O problema é que, além da trans, há muitas outras variações desse nutriente. E haja cabeça para diferenciar um do outro e incluir cada um deles no cardápio, sem comprometer a saúde.

Para acabar com essa confusão de uma vez por todas, convocamos a responsável pela equipe nutricional do MinhaVida, Roberta Stella. Superdidática, ela montou um guia completo sobre todos os tipos de gordura consumidos por você do café-da-manhã ao jantar, passando ainda pelo lanchinho da tarde. Tome nota!

Coloque os vilões fora de combate
Roberta alerta para uma mudança notável no padrão alimentar dos brasileiros. "A elevada ingestão de alimentos ricos em gorduras ruins, aliada ao excesso de peso e ao sedentarismo eleva o risco de desenvolver doenças cardiovasculares".

Confira a lista dos tipos de gorduras prejudiciais ao organismo

Colesterol
Tipo de gordura com duas faces, o colesterol desempenha um papel importante no organismo, já que participa da produção dos hormônios sexuais e das glândulas supra-renais. Além dessas funções, o colesterol ajuda na formação da membrana celular e da bílis (substância produzida pelo fígado, fundamental para a digestão das gorduras).

O problema dessa gordura está relacionado ao seu excesso. "A quantidade de ingestão diária não deve ultrapassar 300mg", ressalta Roberta.

A razão disso é que, para ser transportado pelo corpo, o colesterol conta com a ajuda de uma proteína chamada LDL. No vai-e-vem, a proteína acaba deixando rastros da gordura pelo caminho, formando as placas prejudiciais à saúde.

Para ajudar a recolher os restos deixados pela LDL, o organismo conta com a participação da proteína HDL. Também ajudante no transporte do colesterol pelo corpo, ela entra em ação como uma espécie de faxineira varrendo todos os rastros nocivos. Por isso, é importante que as taxas de HDL sempre estejam acima das de LDL
O segredo para manter essa proporção em equilíbrio e ficar longe das doenças cardiovasculares é controlar os alimentos de origem animal, como carne, leite, derivados e embutidos, apresentam esse tipo de gordura.

Gorduras saturadas
Sólidas em temperatura ambiente e viscosas quando aquecidas, as gorduras saturadas são uma ótima isca para doenças cardiovasculares. Isso porque elas colaboram para o aumento de LDL, colesterol ruim, que circula pelo sangue.

Derrames e alguns tipos de câncer, como o de próstata e o de mama, também têm a origem associada aos excessos dessas gorduras no organismo sem falar que a gordura saturada é inimiga número um do emagrecimento. Para prevenir tudo isso, restrinja o consumo diário desse nutriente a, no máximo, 7% das calorias totais da sua dieta.

"Esse tipo de gordura está presente em maior quantidade nos alimentos de origem animal, como carnes, leite e derivados, ovos", alerta a nutricionista.

Gordura trans
Responsável pela forma, textura e sabor aos alimentos industrializados, a gordura trans tem origem na gordura vegetal (que é insaturada e não causa danos à saúde) e torna-se prejudicial depois do processo de hidrogenação.

Na prática, a gordura que era líquida e insaturada passa a ser sólida e saturada, sendo conhecida também como gordura vegetal hidrogenada.

Portanto, assim como a gordura saturada, a trans aumenta os níveis do mau colesterol no sangue e ainda diminui as taxas do colesterol benéfico ao organismo, o HDL.

Entre os alimentos que contêm gordura trans, encontramos bolos e tortas industrializadas, biscoitos salgados e recheados, pratos congelados, sorvetes cremosos e margarinas.

De acordo com Roberta, ainda não existe uma recomendação de quantidade ideal para o consumo de gordura trans. "Mas alguns especialistas dizem que ela não deve passar de 2 gramas por dia", afirma.

Time do bem

Engana-se quem pensa que todo tipo de gordura causa malefícios ao organismo. Entre a equipe do bem, os destaques vão para as gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas.
Gorduras monoinsaturadas
São líquidas em temperatura ambiente, mas iniciam a solidificação quando levadas à geladeira. Um bom exemplo de gordura monoinsaturada são os molhos à base de azeite, opacos na geladeira e transparentes em temperatura ambiente.

Além de fornecer energia ao corpo, esse tipo de gordura conta com mais uma vantagem: ajuda a diminuir o LDL, conhecido como colesterol ruim.

Para aproveitar os benefícios das gorduras monoinsaturadas, recorra ao óleo de canola e de soja, azeite de oliva, abacate, castanhas e amêndoas. Mas não exagere na dose. Se comparados a outros tipos de gordura, eles realmente não causam tantos malefícios ao coração. Mas, em contrapartida, são bastante calóricos e podem pôr o seu regime a perder.

Gorduras poliinsaturadas
Assim como as monoinsaturadas, esse tipo de gordura ajuda a diminuir o colesterol ruim. Por outro lado, se consumidas mais do que o indicado, as poliinsaturadas podem fazer os níveis de HDL (o bom colesterol) diminuírem.

Conte com elas também para ficar longe dos coágulos nas artérias. A ajuda acontece porque a gordura diminui a agregação das plaquetas.

As gorduras poliinsaturadas são encontradas nos peixes de água fria e nos óleos de soja, milho e girassol. Somando sua ingestão com as monoinsaturadas, as gorduras não devem ultrapassar os 20% do total de calorias diárias.

Admirável Flávia - Por Glória Pinheiro

Conheci Flávia Schilling no início dos anos 80 nos primeiros dias de aulas na PUC-SP.

Estava ela sentada ao meu lado, anônima, quieta, tranqüila, cabelos tipo “jogados ao vento”, simpática, segura, simples e gentil, com os olhos e a mente cheios de vitalidade. Começamos a conversar. Disse que antes estudava medicina. Admirada do salto de um curso a outro, perguntei por que estava a fazer um curso de conteúdo tão diferente. Respondeu que tivera que abandonar o curso que era em outro país e foi há 10 anos atrás. Indaguei qual era o país e ao saber tratar-se do Uruguai, logo me veio à mente o recém assistido filme de Costa-Gavras “Estado de Sítio”, filmado anos antes mas só então liberado no Brasil pela censura. Falou-me que realmente o filme tratava de um tema polêmico e foi aí quando lembrei da campanha para a liberdade de Flávia, da chegada dela ao Brasil.

Apesar de ter assistido de perto a campanha para libertação de Flávia e lembrar do reforço que esta campanha propiciou no processo da Anistia no Brasil, até então não me dera conta com quem estava conversando a não ser quando ela com um sorriso no rosto me disse:

- “Eu sou a própria”.

Recordo-me daquele agradável convívio de um ano, pois mudei de sala e de prédio, com uma pessoa desprendida, de imenso conteúdo intelectual, doce e terna, apesar de todo sofrimento porque passara. A prova do seu martírio e exílio, involuntários, de sete anos e meio nos porões da ditadura uruguaia estava ali estampada em seu corpo, trazia no pescoço marca terrível das torturas a que foi submetida.



"Flávia Schilling, tinha 10 anos quando chegou ao Uruguai acompanhando seu pai, Paulo Schilling, que foi exilado do Brasil pelos militares que comandaram o golpe de 31 de março de 1964. Aos 18 anos, em 24 de novembro de 1972, a adolescente de Santa Cruz do Sul, foi presa em Montevidéu acusada de militância clandestina no grupo político tupamaros.

Neste momento a ditadura ainda não havia se instalado oficialmente no Uruguai, onde teve início apenas em julho do ano seguinte, 1973. Mas um mês antes, em junho de 1973, foi retirada do presídio de Punta Rieles e levada para sucessivos quartéis, por mais de três anos quando viveu em regime de calabouço, incomunicabilidade total, humilhações e castigos corporais.

Oito anos depois, foi libertada em 14 de abril de 1980, depois de uma campanha nacional que atingiu grande visibilidade. Formada em Pedagogia pela PUC de São Paulo (em 1986) Flávia fez mestrado em Educação pela Universidade de Campinas, em 1991, e doutorou-se em Sociologia também pela USP, onde trabalha como professora da Faculdade de Educação. Autora dos livros “Querida Liberdade” e “Querida Família” que retratam seu tempo de prisão, Flávia tem uma produção consistente e volumosa de artigos e publicações acadêmicas. Tornou-se referência nas áreas onde atua."

Rosário e o meu diário - Por Socorro Moreira


Foram dias vazios e longos . Esperei-te diante da TV, assistindo filmes ou cenas de novelas. Esperei-te em luz, nos finais de tarde. Esperei-te em imagens, em cada aurora que escutei. Falei contigo, só como as loucas encontram os ditos. Até que achei, no canto do meu silêncio, a essência do nosso sentimento, e meu coração aquietou-se!
Acredito na paisagem depois das curvas, nas terras depois das águas, na vida depois da morte, no tempo que nunca é passado!
Maria é essa figura, que você indaga amiudamente : ”que mulher é essa, que chegou, inesperadamente?”

- Achou-me num batente de rua, e comigo viveu madrugadas e tardes, mesmo de forma sonolenta.
O arrumar de coisas (querendo nada esquecer), a crescente excitação detonada pelo relógio, enquanto o clarão da lua cheia de agosto exacerba a emoção.

- E eu te acompanho pelas ruas, pelos becos. Hoje eu fico, enquanto você some como fumacinha de avião. Teu olhar se aparta do meu, teu cheiro de mato volta pro pé de jasmim, nem sei de qual jardim, e teu riso, se esconde na estrada, onde a minha mão te solta!
É a vida? É assim? Terá volta? Quem sabe nos envelhece, ou quem sabe nos renova?

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Girei nos canteiros da praça. Aqueles mesmos cheiros de pipocas, de filhoses...
Sem você sou cega sem guia. Tenho que enxergar teu vazio, e senti-lo em peso!

Mas um dia tudo volta. A separação é como um giro numa roda. Se eu conseguir não enlouquecer de saudades, meu amor será teu mais tarde!
Rosário é uma boneca cínica. Minha dor não a comove. Sabe que a nossa casa é uma gaiola sem portas e que as tuas coisas, se acomodam aqui e ali, penduradas como ela, querendo que o meu olhar as encontre. Aspiro a poeira dos teus sapatos, ainda perto da cama!

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Dia comprido. Recebi recadinhos com gosto de mel. Vi a rosa do céu com teu olhar, sempre apressado e astuto.

Abri mão de todas as luas e sóis. Ganhei um novo olhar sempre descondicionado. Precisamos que tu nos aproves. Aprove e prove a umidade do meu corpo, que a tua lembrança chove!
Menino dos meus olhos, eu tenho um rosário de beijos pra mordiscar, nesta noite, teu coração estrangeiro!

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Ainda é domingo. Chuvisca. A lua é clara e disforme. Desajeitada na luz, ela desloca minha saudade, pro sono chegar. O céu é claro, mas não vejo estrelas. Mudaram todas para enfeitar teus cabelos. Por isso, tanta prata?

Teus pezinhos não se arrastam pela casa. Sinto falta dos teus braços madrugados.

Cheiro no pescoço, já caído pelo sono, respira palmeira do terraço. Ao som de uma noite calada, só escuto o motor do ventilador.

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Manhã chuvosa. Não avistei Aurora. Acordei com cantigas de galo, pássaros, e o som de vassouras, rastreando folhas dos quintais da quadra. Teu olhar enxergaria os calos, nas mãos femininas das mulheres, jovens e velhinhas, que cheiram a alho, pó de café, lavanda e água sanitária.

Acho que vou buscar pão (aquele que tem a crocância do gergelim). Provavelmente, prolongue passos até a feira, olhar aquela misturada de coisas sem fim. Preciso de uns pauzinhos de canela, frutas doces, ver pessoas.Procurar teus cachos, nas bananas, nas espigas de milho, nas uvas, nos molhos de acácias. Quem sabe cruzo com o teu olhar, no moço que debulha o feijão; no azul pálido do céu; no chão pingado de lama, ou nos olhos de um gato ?
Teu dia também começa... O meu muitas vezes foi assim: ruas e rostos estranhos até o olhar harmonizar formas e cores.

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Bom dia, mi amor!

Aperte os olhos. Teu clique vai começar, num olhar e andar solitários, o que se esconde e parece invisível para todos, pra ti vai se descortinar!

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A praça começou a fazer zoada. Escuto fogos, cantorias na igreja, e sinto a poeira do povo. Noutros tempos era dia de comprar pano novo. As costureiras usavam seus dedais, literalmente, para pouparem os dedos. O que eu mais gostava era o caráter de virgindade das roupas. Tinha um só cheiro (inesquecível!) - o cheiro das roupas novas!
A partir de amanhã, quem sabe , encontre piedade, pra rezar aos pés da Penha; aspirar cheiros do Boticário espalhados no povo.Noutros tempos era “Magriff” ou “Madeira do Oriente”. Os tecidos eram de renda francesa, e não tinham esses fios rústicos que a gente tanto gosta. Adquirimos formas irreverentes de vestir e calçar, ao longo dos anos.
Lembro dos meus saltos, meias desfiadas, braceletes de ouro, aliança de tucum...
Bonecas de pano - eu e Rosário!
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(Agosto/2006)
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* Postagem inspirada no "queime depois de ler".
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Socorro Moreira

Butter Kuchen da Mamy - Por Claude Bloc


Ingredientes

400 gr. de farinha de trigo
250 gr. de margarina (ou manteiga)
250 gr. de açúcar
2 ovos inteiros
1 colher de chá de fermento em pó
Açúcar e canela (o bastante para cobrir a massa) .

Modo de fazer

Misturar o açúcar com a margarina (ou manteiga).
Bater bem.
Juntar à massa os ovos inteiros, misturando-os bem aos outros ingredientes.
Depois de tudo misturado, coloca-se a farinha de trigo e o fermento aos poucos, mexendo sempre, sem trabalhar muito a massa.
Untar uma assadeira das grandes, espalhando uma camada fina da massa. A seguir, polvilhar por sobre a massa o açúcar e a canela, misturados numa farofa.
Assar bem, até ficar com consistência de biscoito. Cortar a massa em quadrados (ainda quente) e servir com chá ou café.

Histórico

Minha avó gostava de fazer para os netos, uma receita de origem alemã que se chama Butter Kuchen (e que ela com bastante sotaque francês pronunciava de forma não muito interessante - “butocur”). Todos os netos adoravam degustar esse biscoito amanteigado, cuja tradução literal é “bolo de manteiga”. Esta é uma receita muito tradicional no norte da Alemanha que costuma ser servida na hora do chá.

Diz a lenda, que quando as forças de Napoleão tomaram poder na Região, havia o interesse em apoiar o maior consumo do café por lá. Sendo assim, o novo governador francês da região, chamou o líder deposto para uma “reunião" e lhe ofereceu café. O antigo governante, diante da oferta, respondeu em Alemão: Liber Tee (prefiro chá), que se pronuncia exatamente como a palavra francesa Libertè (liberdade). Foi, então, preso e assassinado. Não se sabe ao certo se o antigo líder o fez de propósito, mas depois disso, a lenda se espalhou e a população local boicotou o café. Até hoje a Frisia Oriental é uma das regiões de maior consumo de chá em toda a Europa, superando a Inglaterra. Eles têm um chá com a própria mistura, o famoso Ostfriese Teemischung, além de manter toda uma tradição no modo de servi-lo e também nos acompanhamentos e porcelanas especiais.

Apesar de toda a história, não há porque não degustar o biscoito com café. Esta receita é muito econômica, de fácil preparo e de sabor delicado.

Espero que apreciem e se deliciem! (mas cuidado, não abusem – risos)
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Tradição Oral - Bisaflor conta histórias - Por Stela Siebra Brito

Florbela casou-se muito jovem. Teve oito filhos, dezenove netos e cinco bisnetas, que, carinhosamente, chamam-na de Bisaflor. Esta amável bisavó contou histórias para os filhos, depois foram os netos que se aninharam no seu colo e adormeceram embalados pelas aventuras da turma do Sítio do Pica Pau Amarelo, de príncipes e princesas, dragões, caiporas, bruxas, ogros. Agora são as bisnetas que se deleitam com histórias de sapo que virou príncipe, de jabuti que foi a festa no céu, de macaco que enganou onça e por aí vai.
Carmen, a neta mais velha de Bisaflor, pensando em socializar o conhecimento das histórias da tradição oral narradas pela avó, organizou um grupo de pessoas interessadas em aprender e recontar histórias.
Assim, uma vez por semana, Bisaflor ia contar histórias na Associação Comunitária de Campo Belo. E foi uma experiência tão bonita! É que Bisaflor também gostava de ouvir histórias e, sempre antes das narrativas, queria saber como as pessoas estavam, em qual bairro moravam, perguntava às mais velhas pelos netos, perguntava às mais jovens pelos maridos, pelos filhos. E vai que, de pergunta daqui, responde dali, conversa vai, conversa vem, era um papo tão gostoso, davam risadas, cantavam, relembravam o que parecia desmemoriado.
As tardes de contação de histórias com Bisaflor ficaram famosas. Ela feliz, o grupo feliz. Era uma troca de histórias: Bisaflor ensinando e aprendendo, o grupo aprendendo e ensinando histórias de trancoso, de verdade, de sabedoria, de vida.
A família de Bisaflor também estava feliz com o Era uma vez se espalhando na cidade pela voz da anciã, com graça, com força, naturalidade e encantamento.
Então, tiveram a idéia de escrever as histórias narradas por Bisaflor. Depois idealizaram que seria bom publicar aquelas histórias todas, tão bonitas, tão imaginativas e encantadoras, que já tinham feito tanto olhinho brilhar ou arregalar, já tinham provocado suspiros e sorrisos, deleites na alma e nos corações das pessoas, pequeninas ou adultas.
Enfim, eram histórias tão boas de se espalharem cada vez mais por esse mundão... E quem melhor do que um livro pra sair por aí, de biblioteca em biblioteca, de casa em casa, de bairro em bairro, de sítio em sítio? De cidade em cidade, de mão em mão, de coração a coração?
E foi assim que surgiu a primeira edição do livro BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS, narrando contos da tradição oral, originários de diversos povos: indígenas, brasileiros, africanos, europeus, asiáticos, americanos, orientais.
Depois, com a explosão dos blogs na internet, provocando uma divulgação sempre maior dos pensamentos e das experiências que as pessoas desejam compartilhar, Carmen convocou sua amiga Stela para colocar as histórias de Bisaflor na internet. Sorte que Stela tem uma amiga blogueira juramentada e, também apreciadora de histórias, que é Socorro Moreira. Portanto, toda semana, aqui no Cariricaturas, Bisaflor vai contar uma história. E começa hoje, agora. Crianças e adultos se deleitem e entrem no mundo mágico das fabulações.
O CÁGADO TOCADOR DE GAITA

M eu pai sabia de uma história contada por seu bisavô, que escutou de uma velha parenta índia que viveu no tempo em que se entendia a fala dos animais.
A velha índia contou que havia um cágado tocador de gaita, dos bons, cuja arte causava grande admiração a todos os outros animais, e a alguns, até inveja.
É o caso do jacaré, que morrendo de inveja do cágado, só pensava em sair por aí tocando gaita ou então, ficar na beira do rio, tomando banho de sol e tocando gaita.
Um dia o jacaré foi ao local onde o cágado costumava ir beber água, deitou-se na areia e ficou esperando o amigo, que chegou saudando-o:
- Olá amigo jacaré, como vai?
- Na vidinha de sempre. Estou aqui, amigo cágado, tomando meu banho de sol.
O cágado bebeu água até se fartar, sentou-se ao lado do amigo, puxou a gaita do bolso e começou a tocar. O jacaré, que já tinha arquitetado um plano, elogiou a música do cágado, e depois acrescentou:
- Será que eu levo jeito pra tocar gaita? Eu tenho tanta vontade de experimentar, o amigo bem que podia me emprestar um pouquinho.
Disse isso olhando com olho pidão para o amigo cágado, que, sem desconfiar das suas intenções, lhe passou a gaita. O jacaré se atirou na água no mesmo momento, levando consigo a almejada gaita. O cágado ficou fulo de raiva, mas naquele momento estava em desvantagem, não podia fazer nada, “mas, me aguarde amigo jacaré”.
Alguns dias depois o cágado já tinha em mente uma forma de reaver sua gaita e, ainda, criar uma situação constrangedora para o jacaré. Foi a um cortiço, engoliu um monte de abelhas e lambuzou o fiofó com muito mel. Depois, dirigindo-se ao lugar onde o cágado costumava tomar banho de sol, escondeu-se entre as folhas, botou o rabo pra cima e aguardou.
O jacaré chegou e postou-se a tomar banho de sol. O cágado abriu a boca e soltou uma abelha que saiu zunindo, zum... zum... zum; daqui a pouco soltou outra abelha, depois outra e todas saiam zunindo, o que chamou a atenção do jacaré, que, supondo ter por ali um cortiço de mel, enfiou o dedo no fiofó do cágado, que o apertou com força. O jacaré gritou “ai” e o cágado perguntou:
- Cadê minha gaita? Só solto seu dedo quando me der conta da gaita -, falou assim e ia apertando cada vez mais o dedo do jacaré, que se pôs a chamar pelo filho, entoando uma cantiga:
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
O rapaz não entendendo bem o que o pai queria perguntava de lá:
- O quê, meu pai, é sua camisa?
Da beira do rio o jacaré respondia:
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
Mais uma vez o rapaz não ouvia direito o que o jacaré pedia.
- Ô, meu pai, é o seu chapéu?
- É não, meu filho,
é a gaita do cágado,
é a gaita do cágado.
- Ô, meu pai, é sua alpercata?
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
- Ô, meu pai é seu facão?
E novamente o jacaré respondia a cantilena, e pensava: “ai que vexame”.
Já estava com o dedo quase torado, quando finalmente Gonçalo chegou com a gaita. O jacaré a entregou ao dono, que, só então, soltou seu dedo.
O cágado saiu tocando gaita beira de rio acima, feliz da vida com sua música.
O jacaré teve que mergulhar rapidinho nas águas, pois não agüentava mais a mangação do outros animais.
Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma de pato, senhor rei mandou dizer que contasse quatro.

Stela Siebra Brito

Enurese noturna - Por Socorro Moreira


Enurese notuna : o terror dos pais e das crianças.

"O fazer xixi na cama tem um nome técnico: enurese nocturna. O termo deriva da palavra grega “ fazer água”. As crianças mais novas levam algum tempo até conseguirem controlar os esfíncteres de dia e cerca de um ano depois desse controlo diurno conseguem também fazê-lo de noite. Esse controle ocorre aos dois/ três anos de idade mas se for até aos cinco anos não é considerado problemático porque as crianças não se desenvolvem todas ao mesmo tempo, há diferenças entre elas. É normal que as crianças molhem a cama de vez em quando, especialmente quando são mais novas. Fazer xixi na cama uma vez ou outra não é considerado um problema. A enurese só é vista como uma dificuldade a ser tratada quando a criança tem mais de cinco anos, faz xixi na cama duas ou mais vezes por semana durante pelo menos três meses de noite ou de dia.
Para além de um constrangimento para os pais, esta disfunção limita as actividades sociais da criança, em vários aspectos, podendo levar a criança a isolar-se.A enurese é a emissão repetida de urina, durante o dia ou durante a noite, na cama ou nas roupas, em crianças com 5 anos de idade. Na maioria dos casos é involuntária, mas por vezes poderá ser intencional.
A enurese não pode ser causada por uma doença orgânica como espinha bífida, diabetes ou bexiga neurogênica: nesses casos, as perdas de xixi são classificadas como incontinência urinária. As causas da enurese nem sempre são fisiológicas mas sim psicológicas ao contrário daquilo que é incutido aos pais.
O risco de uma criança poder vir a apresentar enurese aumenta se o seu pai ou a sua mãe também passaram pela mesma situação em criança, se faleceu um familiar muito próximo, se os pais se estão a divorciar, ou ainda, se nasceu um irmão. Esta “incontinência” poderá ter diversas causas, que são diferentes de caso para caso, que podem ser hereditárias e emocionais uma vez que os aspectos emocionais se transmitem pela relação entre pais e filhos.
Factores como a ansiedade e o stress estão na origem da enurese nocturna, mas quase sempre tem causas relacionais: uma mãe deprimida e pouco disponível, mães ansiosas e angustiadas, pais demasiado autoritários entre outros aspectos relacionais. A incapacidade da criança conter a angustia faz com que não controle os esfíncteres deixando fluir de uma forma simbólica aquilo que não consegue conter. Mães e pais ansiosos contribuem para a ansiedade dos filhos que pode levar á enurese mais tarde. Muitas vezes também funciona como chamada de atenção para uma mãe pouco atenta, ou de retaliação para pais autoritários.
É importante que os pais se dirijam, numa primeira consulta, ao pediatra da criança para excluir a hipótese de ser alguma malformação e a psicoterapeuta de seguida, com o objectivo de ajudar os filhos a superarem a enurese. É importante que a criança se sinta motivada para melhorar, podendo os pais em casa também ajudarem, como por exemplo, lembrarem a criança de ir à casa de banho antes de dormir, não falar sobre o assunto a outras pessoas quando a criança está presente, não envergonhar nem castigar a criança, dar-lhe banho antes de ir para a escola de maneira a que odor não seja alvo de gozo por parte dos colegas e evitar o uso de fraldas, o que provocaria um retrocesso na criança.
Grande parte dos problemas de enurese resolvem-se com algum tempo de psicoterapia da criança e apoio aos pais em simultâneo (feito pelo mesmo psicólogo que faz a psicoterapia) levando ao bem-estar da criança e da família.

Lídia Craveiro

Quando eu era menina , o prêmio maior, no final do ano escolar era o gozo de férias fora da casa paterna.

Existia sempre um parente , uma tia , em cidades vizinhas , que nos acolhia com alegria.

Um desses lugares era Mauriti - casa dos tios Romeu e Auri.

Considerava a meninada de lá, avançada , em relação ao comportamento das cratenses : começavam a namorar na primeira infância , quando ainda fazíamos xixi na cama.

E esse era o meu pavor , quando chegava na casa dos meus tios: molhar a rede, enquanto dormia.

Já havia completado 10 anos , e isso ainda me acontecia. De manhã quando eu acordava , a minha avó( companheira de viagem) já se achava limpando o chão molhado. Eu já sabia ...Tinha pisado na bola , mais uma vez !

Nunca mais havia pensado no assunto, depois que cresci...

Ontem, conversando com Victor ( meu pediatra doméstico) , o assunto foi ventilado.

Ele rascunhou rapidinho essas observações :

Enurese Noturna

Ato de urinar após o sono.

Terapia comportamental - Por Victor Arturo Moreira Bonates


Treinamento vesical: visa adaptar o músculo detrusor da bexiga cheia à retenção forçada com o adiamento da micção. É um processo questionável, podendo até ser prejudicial. Pode ter sucesso, quando associado ao alarme noturno (uso de despertador).
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A micção projetada: objetiva estimular o despertar com a bexiga cheia e proporcionar a sensação de acordar seco. Envolve familiares que deve acordar a criança, fazê-la ir ao banheiro com o intuito de suavizar a bexiga.
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Reforço psicológico: trata do reconhecimento e premiação pelos dias acordados seco. Usa-se o mapa de estrelas ou outro marcador de dias. Esse método tem eficácia em 20 % dos casos.
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Restrição hídrica: ingerir pouca água no jantar e proibir líquidos, antes de dormir. Índice de sucesso em 53 %.

Fonte: Ernane Luiz Rhodem (urologista)


Esse texto foi pensado( como avó) pelos avós- colchões ao sol !
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A banalidade da tragédia - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Queime depois de ler (Burn after reading)” é título de filme dos irmãos Coen, Ethan e Joel. O filme virou campeão de bilheteria nos EUA e Canadá nas três primeiras semanas de exibição. Foi apresentado no festival de Veneza e já saiu em DVD nas locadoras brasileiras.

Como alguns filmes dos últimos anos, ele traça um perfil do EUA moderno, decadente, perdendo o rumo da sua liderança como modelo para a civilização. Igual a “Crash – no Limite”, em que o cruzamento de várias histórias evidenciam um painel do estágio atual da sociedade: consumista, atrelada a um poder fútil, dependente de planos de saúde, guardando tensões étnicas no seu interior, violenta e dramática.

Aliás, o diretor Mexicano Alejandro González Iñárritu usa muito bem esta narrativa em que as vidas das pessoas vão se cruzando num enorme painel que ultrapassa países, cidades, classes sociais, gêneros e idade. É o caso de seu filme Babel, quando um rifle de um Japonês que caça na África e ao presentear para um morador local, abre a possibilidade de incidente internacional.

O “queime depois de ler” parte da constatação que a obsolescência da “inteligência” americana herdada da guerra fria é a própria matriz para compreender a decadência do país. Pois a partir de um caso sem nenhuma importância (mas os personagens se acham da maior importância) real para o país e o mundo, abre-se toda a futilidade da vida americana. Forma-se um triângulo entre um amante inconseqüente, funcionários de uma academia de ginástica e o casal composto pelo homem de segurança demitido (que acha que ganhará a vida escrevendo livros de memória ou com consultorias) e uma médica arrogante.

O drama da história é muito mais que aquelas coincidências da tragédia grega, que existia como componente da ordem olímpica. Aqui a coincidência é a banalidade, aliás nem coincidência pois se acha muito mais como uma indução do banal (o desejo de uma cirurgia plástica que faça o upgrade do personagem) para aquela violência típica dos irmãos Coen.

Os brasileiros de minha idade que pensaram numa cultura nacional devem sentir um estranhamento angustiante neste filme. Todos os padrões de futilidade e superficialidade se encontram no Brasil contemporâneo. É como se dissessem: escritores, músicos, poetas e seresteiros preparem seus cânticos. Vocês serão assim.

A Mulher da rua do poeta - Pachelly e Geraldo Urano

Para Sempre Drummond- Corujinha baiana


31/10/1902, Itabira (MG)17/8/1987, Rio de Janeiro (RJ)

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes,
as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Nasceu em ltabira (MG) em 1902. Fez os estudos secundários em Belo Horizonte, num colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o de novo para ltabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Pouco ficaria nessa escola: acusado de "insubordinação mental" - sabe-se lá o que poderia ser isso! -, foi expulso do colégio. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas. Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, o poema "No meio do caminho", que provocaria muito comentário.
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No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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Ingressou no funcionalismo público e em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro. Em agosto de 1987 morreu-lhe a única filha, Julieta. Doze dias depois, o poeta faleceu. Tinha publicado vários livros de poesia e obras em prosa - principalmente crônica. Em vida, já era consagrado como o maior poeta brasileiro de todos os tempos.
O nome de Drummond está associado ao que se fez de melhor na poesia brasileira. Pela grandiosidade e pela qualidade, sua obra não permite qualquer tipo de análise esquemática. Para compreender e, sobretudo, sentir a obra desse escritor, o melhor caminho é ler o maior número possível de seus poemas.
De acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples, o eu-lírico extrai poesia
Nesse caso enquadram-se poemas longos, como "O caso do vestido" e "O desaparecimento de Luísa Porto ", e poemas curtos, como "Construção".

O primeiro poema de Alguma poesia é o conhecido "Poema de sete faces", do qual transcreve-se a primeira estrofe:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombradisse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.

A palavra gauche (lê-se gôx), de origem francesa, corresponde a "esquerdo" em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar "acanhado", " inepto". Qualifica o ser às avessas, o "torto", aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar. É assim que o poeta se vê. Logicamente, nesta condição, estabelece-se um conflito: "eu " do poeta X realidade. Na superação desse conflito, entra a poesia, um veículo possível de comunicação entre a realidade interior do poeta e a realidade exterior.

Variantes da palavra gauche - como esquerdo, torto, canhestro - aparecem por toda a obra de Drummond, revelando sempre a oposição eu-lírico X realidade externa, que se resolverá de diferentes maneiras.

Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra. A temática social, resultante de uma visão dolorosa e penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945), obras que não fogem a uma tendência observável em todo o mundo, na época: a literatura comprometida com a denúncia da ascensão do nazi-fascismo.

A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.
O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para uma realidade presente. A terra natal - ltabira - transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Transformar essas impressões em poemas significa reinterpretar o passado com novos olhos. O tom agora é afetuoso, não mais irônico.

Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão. Neste contexto questiona-se a existência de Deus.

Nos primeiros livros de Drummond, o amor merece tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura capturar a essência desse sentimento e só encontra - como Camões e outros - as contradições, que se revelam no antagonismo entre o definitivo e o passageiro, o prazer e a dor. No entanto, essas contradições não destituem o amor de sua condição de sentimento maior. A ausência do amor é a negação da própria vida. O amor-desejo, paixão, vai aparecer com mais freqüência nos últimos livros. Depois da morte de Drummond, reuniu-se no livro O amor natural uma série de poemas eróticos mantidos em sigilo e que foram associados a um suposto caso extraconjugal mantido pelo poeta. Verdadeiro ou não o caso, interessa é que se trata de poemas bem audaciosos, em que se explora o aspecto físico do amor. Alguns verão pornografia nestes poemas; outros, o erotismo transformado em linguagem da melhor qualidade poética.
Metalinguagem: a reflexão sobre o ato de escrever fez parte das preocupações do poeta.
O tempo é um dos aspectos que concede unidade à poesia de Drummond: o tempo passado, o presente e o futuro como tema.

Toda a trajetória do poeta - qualquer que seja o assunto tratado - marca-se por uma tentativa de conhecer-se a si mesmo e aos outros homens, através da volta ao passado, da adesão ao presente e da projeção num futuro possível.

O passado renasce nas reminiscências da infância, da adolescência e da terra natal. A adesão ao presente concretiza-se quando o poeta se compromete com a sua realidade histórica (poesia social). O tempo futuro aparece na expectativa de um mundo melhor, resultante da cooperação entre todos os homens.

Obra

Poesia: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); Poesias (1942); A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Viola de bolso (1952); Fazendeiro do ar (1954); A vida passada a limpo (1959); Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco (1973); A paixão medida (1980); Corpo (1984); Amar se aprende amando (1985); O amor natural (1992).Prosa: Confissões de Minas (1944) - ensaios e crônicas; Contos de aprendiz (1951); Passeios na ilha (1952) - ensaios e crônicas; Fala, amendoeira (1957) - crônicas; A bolsa e a vida (1962) - crônicas e poemas; Cadeira de balanço (1970); O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972) - crônicas; Boca de luar (1984) - crônicas; Tempo vida poesia (1986).

Carlos Drummond de Andrade e a POESIA


Procura da Poesia

Carlos Drummond de Andrade

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

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As sem-razões do amor

Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


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COMENTÁRIO do CARIRICATURAS

Muitos textos na internet são falsamente atribuídos a autores de renome. Recebemos muitos desses tipos de textos por e-mail, ou encontramos outros tantos em sites, através de pesquisas.
Por isso, nem sempre podemos ter a certeza da fidedignidade do que encontramos na net. Se atentarmos para detalhes, já pela tipologia, logo podemos perceber que esses textos não apresentarem as mesmas características do autor citado, nem mesmo o tipo de linguagem, nem o mesmo estilo...

Vejam, por exemplo, um texto que circulou pelo Youtube como sendo de Drummond, até que o próprio autor se identificasse como sendo Paulo Roberto Gaefke.

Eis, pois, o texto em video. Compare com o estilo de Drummond e deduza...



Texto do vídeo: Paulo Roberto Gaefke
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Projeto Água pra que te quero ! - Nívia Uchôa


Candeia e a História do Samba





caricatura de Mário Tarcitano (tarcitano@artnet.com.br)

Antônio Candeia Filho, 17/8/35 - 16/11/78. Filho de sambista, o menino Candeia até poderia guardar mágoa do samba. Em seus aniversários, ele contava com certa tristeza, não havia bolo, velinha, essas coisas de criança. A festa era mesmo com feijoada, limão e muito partido-alto. No Natal, a situação se repetia.
Seu pai, tipógrafo e flautista, foi, segundo alguns, o criador das Comissões de Frente das escolas de samba. Passava os domingos cantando com os amigos debaixo das amendoeiras do bairro de Oswaldo Cruz. Assim, nascido em casa de bamba, o garoto já freqüentava as rodas onde conheceria Zé com Fome, Luperce Miranda, Claudionor Cruz e outros. Com o tempo, aprendeu violão e cavaquinho, começou a jogar capoeira e a freqüentar terreiros de candomblé. Estava se forjando ali o líder que mais tarde seria um dos maiores defensores da cultura afro-brasileira. Arte negra era com ele mesmo.

Compôs em 1953 seu primeiro enredo, Seis Datas Magnas, com Altair Prego: foi quando a Portela realizou a façanha inédita de obter nota máxima em todos os quesitos do desfile (total 400 pontos).

No início dos anos 60, dirigiu o conjunto Mensageiros do Samba. Em 61, entrou para a polícia. Tinha fama de truculento e suas atitudes começaram a causar ressentimentos entre seus antigos companheiros. Provavelmente, não imaginava que começava a se abrir caminho para a tragédia que mudaria sua vida. Diz-se que, ao esbofetear uma prostituta, ela rogou-lhe uma praga; na noite seguinte, ao sair atirando do carro num acidente de trânsito, levou um tiro na espinha que paralisou para sempre suas pernas.

Sua vida e sua obra se transformaram completamente. Em seus sambas, podemos assistir seu doloroso e sereno diálogo com a deficiência e com a morte pressentida: Pintura sem Arte, Peso dos Anos, Anjo Moreno e Eterna Paz são só alguns exemplos. Recolheu-se em sua casa; não recebia praticamente ninguém. Foi um custo para os amigos como Martinho da Vila e Bibi Ferreira trazê-lo de volta. De qualquer maneira, meu amor, eu canto, diria ele depois num dos versos que marcaram seu reencontro com a vida.

O couro voltou a comer nos pagodes do fundo de quintal de Candeia que comandava tudo de seu trono de rei, a cadeira que nunca mais abandonaria.

No curto reinado que lhe restava, dono de uma personalidade rica e forte, Candeia foi líder carismático, afinado com as amarguras e aspirações de seu povo. Fiel à sua vocação de sambista, cantou sua luta em músicas como Dia de Graça e Minha Gente do Morro. Coerente com seus ideais, em dezembro de 75 fundou a Escola de Samba Quilombo, que deveria carregar a bandeira do samba autêntico. O documento que delineava os objetivos de sua nova escola dizia: Escola de Samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo.

No mesmo ano de 75, Candeia compunha seu impressionante Testamento de Partideiro, onde dizia: Quem rezar por mim que o faça sambando.

Em 78, ano de sua morte, gravou Axé um dos mais importantes discos da história do Samba. Ainda viu publicado seu livro escrito juntamente com Isnard: Escola de Samba, Árvore que Perdeu a Raiz.

Com a palavra final, Candeia (do samba Anjo Moreno):


Sim, me disseram que o céu é harmonia e paz
...........................................
Mas se eu for pra lá, ao descansar
Vou cantar e sambar
Com um anjo moreno
Axé, mestre Candeia... saudade.


Texto de Chico Aguiar
(faguiar@br2001.com.br)
Bibliografia
Candeia, Luz da Inspiração, de João Baptista M. Vargens, Editora Martins Fontes-Funarte 87.
Biografia do Candeia que traz ainda um pouco da vida do subúrbio do Rio na transição da primeira metade para a segunda metade do século XX. Compre este livro na Booknet.
Enciclopédia da Música Brasileira, Art Editora 77.
As letras e partituras das obras inéditas e gravadas de Candeia se encontra na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFRJ à disposição dos interessados.