Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Au revoir Paris

Como havia prometido à minha amiga Claude, no retorno de minhas férias iria marcar presença no Cariricaturas. Em homenagem a ela, faço-o com uma reminiscência que escrevi no passado enquanto aguardava o voo de volta ao Brasil no Airport Charles De Gaulle.

Au revoir Paris

Cité lumière, cité joyeuse, cité cosmopolite
Pendent les jours sans soleil, peut même dissimuler que est triste...
Avec le soleil, Paris vive!
Bonjour!
Le Sena pulse,
L'ille de la Cité bouille
La Champs Elysées s'agite,
La Concorde accueille à tous
Du haut de la Tour Eiffel ses toits sont decouverts.
Dans les rues, parques et cafés, la joie est contagieuse.
Ses monuments, parques, musées et églises centenaires
Nous rapportent à un passé distant et nous faire reflexives!
Vient la nuit!
Bonsoir!
La nuit nous amène de retours au présent
Paris s'ilumine
Le Moulin Rouge, avec le ritme frenetique du Cancan
Crazy Horse – le monument incontournable de la nuit parisienne,
L'agitation de La Bastille
La bonne table du La Rotorde
La musicalité suave des acordeons et orgues
Le romantisme de la promenade nocturne sur le Seine
Touche notre coeur
Pour tout cela, Paris nous rendre captif
Paris nous passionne et nous dit que
L'Amour c’est bleu...
Au revoir, Paris!
J’espère que nous nous reverrons bientôt...
Paris, Airport Charles De Gaulle, avril, 30, 2001.
GUERRA E PAZ SEGUNDO LIMEIRA
- Mundim do Vale -

Se o poeta Zé Limeira
Vivesse ainda na terra
Lá da serra de Teixeira
Falava assim sobre a guerra:
- Sou guerreiro do improviso,
Mas a arma que preciso
É somente a minha mente.
Um atentado perverso,
Não cabe nesse meu verso
Nem inspira meu repente.

Eu pego a Ilha Malvina
E corto no meio da terra
Dou metade a Argentina
E o resto a Inglaterra.
No lugar que foi a luta,
Vou fazer uma disputa
De par ou ímpar e porrinha.
Convido pra maratona,
Cavalo e o Maradona
Para jogar com a rainha.

O Vietinã se cala
Comendo baião de dois,
No lugar que caiu bala
Eu mando plantar arroz.
A América eu vou dizer,
Pra nunca mais se meter
No que não lhe diz respeito.
Quem invade a terra alheia,
Merece uma mão de peia
Por invasão de direito.

Bin Laden eu desentocada
Como quem puxa tatu,
Porém eu não entregava
Pra evitar sururu.
Cortava barba e cabelo,
Colocava num camelo
Com o Bush na garupa.
O árabe na dianteira,
O tio Sam na traseira
Para dividir a culpa.

Pegava Sadan Hussen
Trazia pro Vaticano,
Mandava fazer o bem
Que nem padre Franciscano.
Entre o Iran e o Irac
Tinha explosão só de traque
Como festa da São João.
Arma lá, nem baladeira,
Igual aqui em Teixeira
Que ninguém vê um canhão.

As mulheres de Israel
Podiam mostrar cintura,
Tinham que tirar o véu
Para expor a formosura.
Usavam só saia e blusa,
Como nordestina usa
Caminhando pela rua.
Tinha que acabar o harém,
Ninguém mandava em ninguém
Cada homem tinha a sua.

Eu fazia a brincadeira
Do azul e encarnado,
Que nem aqui no Teixeira
Nas quermesses do passado.
O azul era o oriente,
O encarnado o ocidente
E o juiz um latino.
Com o dinheiro apurado,
Eu construía um estado
Para o povo palestino.

Aqui rimou Zé Limeira
Poeta do absurdo,
Sou matuto de Teixeira
Mas não sou cego e nem surdo.
Limeira sabe que a guerra,
É como questão de terra
Que só serve pra matar.
A guerra traz o terror,
E só tem um vencedor
Se ela nunca começar.

Mundim do Vale
Várzea Alegre - Ceará

A fatoração existencial de Matriuska


São poucos os títulos de livros que se permitem ao mesmo tempo a secura e o êxito. “Matriuska” é um deles. Esse é o título do livro de contos do caririense Sidney Rocha, cuidadosamente editado pela Iluminuras. Eis um sítio arqueológico encravado bem no meio do deserto cotidiano das altas tecnologias de mercado. De dentro dos dezoito pequenos contos brotam mulheres únicas, mas uma como contigüidade da outra, e todas carnavalizadas diante do inusitado que é o des-significado da vida.

A linguagem de Sidney Rocha é absurdamente adulta, adúltera, adulterada. A descontinuidade; a fragmentação; a vertigem; o desvão; o abismo; a circularidade dos labirintos; a plenitude do asfalto; a exoneração categórica do compartilhamento dos armários de rodoviária; a solidão esquizóide de uma camisinha desencolhida pela descompressão de um saco de lixo; a inutilidade premente e sem culpa da última vulgata desapropriada pelo sagrado em rota de fuga; e muito mais, além do fetiche, é claro, fazem parte do universo literário que brota aos punhados nos contos de “Matriuska”.

A sintaxe particular de Sidney Rocha na realidade não é única, ela é um desdobramento arquitetônico em fluxo que atravessa também a sintaxe de uma gama de outros desconstrutores, tais como, entre tantos, Robbe-Grillet, Claude Simon e Philippe Sollers. Mas, o que de fato isso importa? Nada. Mesmo porque a abordagem temática é outra e as intenções de descarnar o enredo até o osso passam necessariamente por outras vias. Restam aí, pois, a esfinge das pequenas narrativas como texturas refinadas da grande história e a dessacralização da eloqüência temática como fonte única da grande literatura.

O tema recorrente de “Matriuska” é a inserção da mulher no seu cotidiano, sem afetações heróicas ou humanistas. São sonhos, desilusões, desejos e fetiches, expostos sem truques teatrais ou arcabouços monumentais. Apenas o ser e o estar, sem maquinações de laboratórios ou defesas brilhantes de teses que não servem absolutamente para nada. A ambientação é urbana. Demasiadamente urbana. O livro tem cheiro de ferro, aço, vidro, plástico e asfalto. A cor predominante é o cinza chumbo do concreto. As arestas, as janelas, o riso tímido e os ruídos, ficam por conta do imenso tráfico de humanidade que existe em cada metrópole, mesmo que a província esteja registrada na carteira de identidade.

O sotaque de Sidney Rocha é extremamente simpático e envolvente. Suas pequenas histórias são rápidas, mas são duradouras. São novas trilhas abertas nesse emaranhado literário contemporâneo. São contos pequenos na quantidade de linhas, mas são enormes em seu feitio artístico. Nem os maneirismos de vitrine, as soluções programadas dos Best-sellers, os mistérios cinematográficos e nem as patéticas claquetes da chamada cultura alternativa você encontrará aqui. Também não espere a natureza ser salva, a corrupção ser extinta, o capitalismo ser desmascarado, o povo ser celebrado através do resgate das raízes culturais. Muito menos a confissão mirabolante dos sete anões no caso de estupro da panaca branca de neve.

Sugiro que a sua leitura comece exatamente pelo conto que dá título ao livro, exatamente na página 23. Quando a personagem começa retirar da bolsa todas as suas importâncias, o leitor é apresentado a um escatológico desfile de objetos e fetiches. Eis o valor de uma lembrança. Eis o ser inserido em sua significativa insignificância. É só um lampejo. É só um fôlego. A partir daí, então, você terá um universo inteiro aos seus pés, pois literalmente o seu mundo será colocado de cabeça para baixo. Esse é um livro próprio para quem tem o hábito da leitura. Mais definitivamente: é um livro impróprio para quem não largou o hábito e vive de antigas sagrações.
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Paisagem de interior - Jessier Quirino

Marcelo Mourão nos enviou um texto interessante para postar no Cariricaturas. A introdução é de sua lavra. O restante de nosso genial Jessier Quirino

Das leitura na praia
longe do computadô
uma viage as orige doutô
num causa nenhum muxoxô
em quem pensa que agauchô
só proque faiz churrasco
e torce pro Internacional
lê os versu do Jessier
nesse estilu de trova
que o amigo Piru uma veiz me apresentô
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Marcelo

Paisagem de interior

Jessier Quirino

Matuto no mêi da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véio rezador
jumento jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro e gibão
bodega com surtimento
poeira no pé de vento
tabulêro de cocada
banguela dando risada
das prosa do cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Bêbo lascando a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Mastruz e erva-cidreira
debaixo dum jatobá
menino querendo olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um motorista cangueiro
um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
avelós e lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo de galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
radio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um forró de pé de serra
fogueira milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mêi da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre, prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.


Jessier Quirino é paraibano de Campina Grande, arquiteto por profissão, poeta por vocação, vive atualmente em Itabaiana. É o autor dos livros "Paisagem de Interior", "A Miudinha", "O Chapéu Mau", "O Lobinho Vermelho" e "Agruras da Lata D'Água", além de cordéis, causos, musicas e outros escritos.
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O crítico do Jornal do Commércio - Recife fez o seguinte comentário, quando do lançamento de seu último livro: "A poesia matuta já é um estilo consagrado da literatura brasileira. Nomes como Patativa do Assaré, Catulo da Paixão Cearense e Zé da Luz são conhecidos em todo o país como os principais representantes do gênero.
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Um pouco menos famoso que os três, mas podendo ser considerado tão importante quanto, é Jessier Quirino, poeta paraibano que vem se destacando por seu estilo humorístico."
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Primeira chamada! Convite Exposição fotográfica e show!

Aguardo vocês!


Gibran khalil Gibran

Prefácio

"Vim para dizer uma palavra e devo dizê-la agora.Mas se a morte me impedir, ela será dita pelo amanhã,porque o amanhã nunca deixa segredos no livro da Eternidade.Vim para viver na glória do Amor e na luz da Beleza, que são reflexos de Deus.

Estou aqui, vivendo, e não me podem extrair o usufruto da vida,porque, através da minha palavra atuante,sobreviverei mesmo após a morte.Vim aqui para ser por todos, e com todos,e o que faço hoje na minha solidão,ecoará amanhã entre todos os homens.

O que digo hoje com apenas meu coração,será dito amanhã por milhares de corações."

Gibran Khalil Gibran

Seu nome completo é Gibran Kahlil Gibran.Assim assinava em árabe.Em inglês, preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada: Khalil Gibran e é mais comumente conhecido com o simples nome de Gibran.

1883- Nasceu em 06 de janeiro em Bsharri,nas montanhas do Líbano,a uma pequena distância dos cedros milenares.Tinha oito anos, quando um dia,um temporal se abate sobre sua cidade.Gibran olha fascinado,para a natureza em fúria e. estando sua mãe ocupada,abre a porta e sai a correr com os ventos.

Quando a mãe, apavorada, o alcança e o repreende,ele lhe responde com todo ardor de suas paixões nascentes:

" Mas mamãe, eu gosto das tempestades! Gosto delas, gosto!"(Um de seus livros em árabe será intitulado 'Temporais").

1894-Emigra para os Estados Unidos,com a mãe, o irmão Pedro e a irmã Sultane.Vão morar em Boston.O pai permanece em Bsharri.

1898-1902-Volta ao Líbano para completar seus estudos árabes.Matricula-se no Colégio da Sabedoria, em Beirute.Ao Diretor, que procura acalmar sua ambição impaciente,dizendo-lhe que uma escada deve ser galgada degrau por degrau,Gibran responde:

"Mas as águias não usam escadas."

1902-1908-De novo em Boston.Sua mãe e seu irmão morrem em 1903.Gibran escreve poemas e meditações para Al-Muhajer ( O Emigrante ),jornal árabe publicado em Boston. Seu estilo novo, cheio de música,imagens e símbolos,atrai-lhe a atenção do Mundo Árabe.Desenha e pinta numa arte mística que lhe é própria.Uma exposição de seus primeiros quadros, desperta o interesse de uma diretora de escola americana, Mary Haskell,que lhe oferece custear seus estudos artísticos em Paris.

1908-1910-Em Paris estuda na Académie Julien.Trabalha freneticamente e frequenta museus, exposições, bibliotecas.Conhece Auguste Rodin.Uma de suas telas é escolhida para a Exposição das Belas-Artes de 1910.Nesse ínterim, morrem seu pai e sua irmã Sultane.Em 1910,volta a Boston,e no mesmo ano muda-se para Nova Iorque,onde permanecerá até o fim da vida.

Mora só, em um apartamento sóbrio, que ele e seus amigos chamam de As-Saumaa (O Eremitério ).Em Nova Yorque, Gibran reúne em volta de si, uma plêiade de escritores libaneses e sírios, que embora estabelecidos nos Estados Unidos, escrevem em árabe, com idênticos anseios de renovação.O grupo forma uma academia literária que se intitula Ar-Rabita Al -Kalamia ( A Liga Literária )e que muito contribuiu para o renascimento das Letras Árabes.

Seus porta-vozes foram,sucessivamente duas revistas árabes editadas em Nova Yorque: Al-Funun ( As Artes ) e As - Saieh ( O Errante ).

1905-1920-Gibran escreve quase que exclusivamente em árabe, e publica sete livros nessa língua:

1905- A Música ; 1906- As Ninfas do Vale; 1908 - Espíritos Rebeldes; 1912- Asas Partidas ;1914-Uma Lágrima e Um Sorriso; 1919-A Procissão; 1920-Temporais;(após sua morte será publicado um oitavo livro sob o título de Curiosidades e Belezas,composto de artigos e histórias, já aparecidas em outros livros e de algumas páginas inéditas.

1918-1931-Gibran deixa pouco a pouco de escrever em árabe,e dedica-se ao inglês,no qual produz também oito livros. Em 1918 - O Louco;em 1920- O Precursor;1923-O Profeta;em 1927-areia e Espuma;em 1928 - Jesus, O Filho do Homem; em 1931-Os Deuses da Terra ;( após sua morte serão publicados mais dois: em 1932- O Errante;em 1933- O Jardim do Profeta).Todos os livros de Gibran, em inglês, foram lançados por Alfred Knopf, dinâmico editor norte-americano,com inclinação para descobrir e lançar novos talentos.

Ao mesmo tempo em que escreve, Gibran se dedica a desenhar e pintar.Sua arte, inspirada pelo mesmo idealismo,que lhe inspirou os livros, distingue-se pela beleza e pureza das formas. Todos os seus livros, em inglês, foram por ele ilustrados com desenhos evocativos e místicos,de interpretação às vezes, difícil, mas de profunda inspiração.

Seus quadros foram expostos várias vezes,com êxito em Boston e Nova Yorque.Seus desenhos de personalidades históricas são também célebres.

Gibran morre em 10 de abril de 1931,no Hospital São Vicente, em Nova Yorque,no decorrer de uma crise pulmonar que o deixara inconsciente.

Fontes:

www.starnews2001.com.br/kahlil2.html

Google Imagens

Sal
- por Claude Bloc -

Aguço meus sentidos
Para no mar
Deslizar
Sorver as ondas
Com os mesmos gostos
De sal
De antigamente.

Teço em meus teares
Os segredos da noite
e
Com a harmonia
De uma artesã paciente
Traço detalhes
Entalho saudades
Elaboro mais um sonho
Laboro
lampejos
Duplo desejo
De estar no mar.
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Texto e foto por Claude Bloc

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Órfãos de Padre


Nos dias de hoje, a Igreja Católica atravessa uma “entressafra” de bons Padres. A percepção é mais latente no momento da missa onde a celebração sai de sua “rotina”, o sermão. Nesta hora é que se percebe a qualidade do celebrante. No caso do Crato, e por que não do Cariri, desde a transferência de Padre Raimundo Elias para Europa, milhares de fieis ficaram órfãos de Padre.

Particularmente, como freqüentador assíduo de suas missas, achei na época do anúncio de sua ida para o Doutorado na Espanha, muito difícil encontrar um Padre que o substituísse a altura, mas guardava dentro de mim a esperança de encontrar alguém que passasse o “básico”. Básico significa para mim: alguém com formação e estudo suficientes para ter o compromisso de previamente organizar um sermão, baseado nas leituras da missa e que através destas deixasse aos presentes, dentro de um limite de tolerável de tempo, uma palavra de reflexão de uso prático. Resumindo: deixasse mensagens que eficientemente acrescentassem algo de motivante e real na vida de cada um.

Este desabafo é de alguém que buscou insistentemente um pastor. Fui a muitas paróquias, às vezes, em horários diferentes só pra saber se havia outro celebrante. Nada! Encontrei discursos vazios, mal organizados ou desorganizados mesmo! Frases superficiais e pouco, ou pouquíssimo, acrescentadoras. Faltava até credibilidade no que era dito pelo tom de descompromisso com o qual por algumas vezes se “jogavam” os trechos bíblicos. Comecei a achar que o problema era comigo! Não estava sendo tolerante o suficiente ou estava buscando uma cópia que simplesmente não iria aparecer do dito Padre. Comecei então a perguntar aos amigos e conhecidos onde eles assistiam a missas e se haviam encontrado um bom Padre. A resposta era sempre: “estamos indo a missa, mas os Padres...”

Neste mundo contemporâneo de tantas necessidades a maior delas deve ser a do alimento da alma. Principalmente num país em desenvolvimento como o nosso, a missa ou a celebração religiosa que seja, acaba por ser a única oportunidade de reflexão orientada de grande parte da população. Sem dúvida, a responsabilidade é enorme e os prejuízos podem ser igualmente profundos. Espero que com esse depoimento, alguns Padres procurem buscar o desenvolvimento de suas habilidades de oratória e renovar seus estudos bíblicos, filosóficos e psicológicos tão importantes na orientação de seu rebanho. Espero ainda que jovens vocacionados ao sacerdócio compreendam que seu público está mais atento ao que é oferecido, e que é preciso muito mais preparo e conhecimentos para alcançar os corações do povo de Deus.


Dimas de Castro e Silva Neto

Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção
pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri

Até o mar

hoje me parece estranho

Águas verdes

é o sangue da esperança.

No meu calor

teu frio se aconchega

No meu peito

adormeçem os desejos

E o sol retorna

querendo fruta,pão e chão...

Pra que pensar ,

se nesta manhã ,

estamos num quadrante amoroso

sem porta para a solidão?