Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 10 de janeiro de 2010

Observando pássaros



Hoje foi um domingo muito especial para mim. Acordei as 4:30 da manhã. As 5:oo, estava no Encosta da Serra Hotel. Uma chuvinha fina me acompanhou da minha casa até o hotel, junto com um friozinho delicioso. Lá me juntei a Paulo Boute, um ornitólogo e guia turístico, e a Renata, uma paulista cliente do Paulo, amante da fotografia e observadora de pássaros. Saímos em direção à Chapada do Araripe as 5:30. Fomos pela estrada Crato-Exú. No meio da floresta o Paulo pega uma entrada a direita, onde vai dar na casa de um morador da serra, já seus amigos há um bom tempo. É lá onde o Paulo deixa o carro para, a partir dali, a pé, sair à procura de observar pássaros e registrar em fotografias. Foi a minha primeira incursão na prática, feito com um profissional e com equipamentos adequados.
Fiquei impressionado quão gostoso é a observação de pássaros livres na natureza, e mais o quanto temos de espécie na chapada que nem sequer imaginava. É uma sensação muito gostosa. O Paulo e a Renata me mostraram como é interessante fazer a chama dos pássaros, espera que venham, sentarem nas árvores ou arbustos, observarmos e registrar. É muito gratificante ver as suas belezas e melhor ainda saber que estão livres, para perpetuar a sua espécie. Vi aves raras e outras nem tanto, mas que, visto daquela forma e com equipamento adequado, um binóculo da marca "Leica" especial para a prática, nos dá a sensação maravilhosa de alegria, de liberdade, de conquista e de satisfação por estar aqui no Cariri, local tido como espetacular para a prática da observação de pássaros.
O Paulo Boute é um especialista na área. Ele vive trazendo grupos de observadores da Europa para fazer a observação das nossas aves, muitas delas exclusivas, como o Soldadinho do Araripe. Seu site, http://www.boute-expeditions.com/, é todo em inglês porque a grande maioria dos seus clientes são da Europa. Fiquei impressionado como ele tem intimidade com a Chapada do Araripe, com o Hotel, com o restaurante onde sempre come, enfim, como o Paulo já é caririense. Ele vem, faz seu trabalho de guia com os seus clientes, e vai embora.

Conheci o Paulo a cerca de um ano. Na realidade o nosso primeiro contato foi via e-mail. Ele de repente me mandou um e-mail, pois vira que eu trabalhava com elaboração de projetos na área cultural e turística e queria conversar comigo. Marcamos no Hotel Encosta da Serra e a partir daí criou-se uma amizade e o desejo de dar maior sentido às suas visitações aqui pelo Cariri. Ele me apresentou um projeto que tinha desenvolvido na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Fiquei encantado e com aquele projeto em mãos achamos que deveríamos fazer o mesmo aqui no Cariri.
Dessa vez ele veio com apenas uma cliente e ficou mais fácil de eu ir junto e sentir as maravilhas de observar pássaros. Então: agora estou com o projeto praticamente pronto e em breve o realizarei, para que essa prática se multiplique no Cariri, mas que observemos os nossos pássaros soltos, no seu habitat, livres de gaiolas, viveiros, alçapão ou qualquer outra armadilha para capturá-los.

Aproveitando o tempo chuvoso, pois logo que foi ficando um pouco mais tarde uma fina chuva em cima da serra nos impediu de continuar, resolvi levá-los para conhecer a Fundação Casa Grande, coisa que nunca nem ouviram falar. Aí foi unir a fome com a vontade comer. O Paulo e a Renata se encantaram com o projeto do Alemberg e Rosiany, como já é comum a quem vai à Nova Olinda, e dai já pintou também uma parceria onde em breve o Paulo virá ministrar uma palestra, ou mini-curso de observação de pássaros para as crianças da Casa Grande. Puxa, foi muito prazeroso ter um dia desses. Então, em breve nós vamos fazer esse evento aqui no Cariri e pretende-se, junto, fazer o lançamento de um livro com as espécies da nossa querida Chapada do Araripe.

Pretendo também levar o Paulo para fazer uma explanação do seu trabalho no nosso Fórum de Cultura e Turismo, para que todas as cidades do Cariri tomem conhecimento de como se faz a observação de pássaros e como curtir as suas belezas de plumagem e canto, mas soltos na natureza, assim como deve sempre ser.
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FOTO DO SOLDADINHO:Ciro albano (Direitos reservados)

MINHA CALÇA TOPEKA por Marcos Barreto de Melo

(ao meu pai nos vinte anos de sua ausência)


Eu não tinha cinco anos
Vi o meu pai viajar
Apressado, na carreira
Saiu sem nos abraçar

Foi pra um lugar distante
Uma cidade crescida
Para se examinar
Com um doutor desse lugar

Eu criança, não sabia
O que de certo acontecia
Não queriam me dizer
Pra eu não entristecer

Mas o tempo foi passando
Vi meu pai se demorando
Resolvi a perguntar
Ninguém quis me responder

Fiz a ele uma carta
Dessas cartas de criança
Que a tia junta as palavras
Pra carta ser mais bonita

Como eu nada sabia
Já que ninguém me dizia
Pedi a ele um presente
Sem saber sua agonia

Pra trazer na sua bagagem
Quando de volta viesse
Pedi a ele uma calça
Dessas que só homem veste

Em pouco tempo chegou
O presente que eu pedia
Era uma calça topeka
Do jeitinho que eu queria

Eu fiquei muito contente
Com a minha primeira calça
Mas, não podia entender
Porque veio antes dele



Vestido com minha topeka
Me danei a passear
E com a minha tia Cristina
Fui ao grupo escolar

Mas, não era para estudar
Era só para brincar
Pra sorrir, me distrair
Pro tempo logo passar

Sentia uma coisa ruim
Não sabia explicar
Disse isso a minha mãe
Ela me disse: é saudade

Foi essa a primeira vez
Que a danada me pegou
Era uma dor incontida
No meu peito escondida

Depois de um certo tempo
Tudo foi se clareando
Meu coração se apertando
Com medo do que viria

Quando enfim ele voltou
Minha alegria ruiu
Nunca mais vesti a calça
Pois só queria de presente
Ver o meu pai novamente
Inteiro como saiu

Marcos Barreto de Melo

SSA, 2009

Destino do leitor - Rejane Gonçalves

Destino do leitor
Rejane Gonçalves

Que ao leitor jamais seja permitido curar-se. As palavras devem abrir uma ferida permanente na carne do leitor e tu cuidarás para que ela não sare. Há meios eficazes para isto. Pega-se um estilete de ponta muito fina, remove-se um pequeno pedaço da casca que se sobrepôs à pele e fechou o corte, criando um empecilho: a pedra na porta do túmulo. Não tenhas piedade, só um pouco de delicadeza, assim, mansamente, arranharás a superfície rosada que aparecerá por baixo daquela diminuta porção de casca que levantaste; daí espera-se que o sangue aflore, aperta-se um pouco a carne, se preciso, para que o sangue escorra, estanca-se com um chumaço de algodão o sangue, pois não é bom que o leitor fique debilitado e sob hipótese alguma que ele morra.

Novembro-2009

Dalva de Oliveira e o amor - por Eurídice Santana

Acabei de assistir ao último capítulo da estoria de DALVA DE OLIVEIRA...
Acompanhei todo o drama que "ambos",ela e o Herivelto passaram por um Amor obsessivo que tiveram...obviamente muito mais ela! Infelismente!
E aqui vou tentar expressar o que senti em todo esse desenrolar da vida de dois grandes artistas da época.
O que me pareceu foi que,a Dalva,estrela de primeirissima categoria,ao se envolver com o Herivelto,deixou desenvolver uma forma de AMOR DOENTIO...amor de submissao,obediencia...entrega sem limites...renuncias até no seu verdadeiro papel de mulher...a espera de um homem que "nunca" soube respeita-la como ser humano,nunca! Homem de orgias,que se achava o tal,humilhando-a de todas as formas,inclusive na sua maneira simples de se vestir,rebaixando-a,sem dar o devido valor a joia que possuia...e,tais desencontros levou a uma separaçao amargurada da parte de ambos.
Resumindo,Dalva viveu toda sua existencia com esse amor preso nas suas entranhas,por mais que tentasse recomeçar,tentasse AMAR novamente....o que nunca conseguiu!
E ele,por sua vez,por frustraçoes de fracassos profissionais,de nao ter conseguido seguir sua carreira de cantor e compositor como achava que podia,amargurou-se a tal ponto que,partiu para baixarias nas publicaçoes de materias em jornais da época...e,sem que em nenhum momento siquer pensasse nas consequencias desses atos,levando o juiz a tomar a guarda dos filhos pequenos de Dalva...e ela,com mais esse martirio,sucumbiu à bebida...e,ao seu declinio total...morrendo por um amor obsessivo,onde nada e nem ninguem poderia cura-la.
E,é lamentavel verificarmos que,ainda nesse mundao,existem muitas DALVAS DE OLIVEIRA por aí...sem parar para sua propria dignidade de mulher,gente,é lamentavel mesmo!
Que esse seriado tenha servido às mulheres assim...que ainda nao acordaram para suas realidades...
Que acordem para sua propria valorizaçao como ser humano,acordem!
Parabens aos filhos que tiveram a coragem de expor a verdadeira face de sua mae...seu sofrimento,sua alma...parabens..
Deixo aqui um instante de reflexao para todas vcs mulheres,que um dia amaram de forma incompreendida,e nao buscaram seus limites,sua dignidade,sua vida.

Euridice
SAUDADE
(Clarice Lispector)


“Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
que a presença é pouco:
Quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida.”
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