Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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domingo, 23 de maio de 2010

Por Socorro Moreira

Hoje malhei em ferro frio
viajei na maionese
conversei fiado
passeei no futuro
reencontrei o passado

O presente foi longo
mas não vi resultados
vou dormir sem
escrever nas estrelas,
apagando na lua
um verso extraviado.

Hoje pairou uma dúvida ...
Mas, que importa ,
se às vezes sonho errado?

Amanhã eu acerto o passo
reforço a cura
de uma inquietação
que virou paz !

Daqui a pouco
quando o dia amanhecer
eu te acho
em meus guardados !

Por Socorro Moreira

Viajar é encontrar
a poesia
no vento e nas nuvens...

Preciso do sol
pra pintar de moreno
a palidez do meu rosto


Catalisar processo bloqueado
é esperar que um açude sangre,
surpreendentemente
!

Da inquieta vontade de ser
nasce a decisão de não ter!

Por Socorro Moreira

Faz de conta


Que hoje é um dia qualquer da minha vida
Que ele foi recortado do passado
ou que chegou do futuro, ainda novinho

Faz de conta que o meu presente é esse dia
E nele eu reponho a poesia, o verde, a minha alegria.

Faz de conta que você contracena comigo
Que sorri, e me fala num carinho.

Faz de conta que estamos numa estrada,
Em busca de uma serra, em busca de um cantinho...
Que o dia está no infinito,
e de lá viver a eternidade
É preciso !

Faz de conta que contigo sou fada sem varinha
Que tu és mago com cajado, e lanterninha
Que a água está gelada, que a fonte de mim
É você quem mina e mima!

Pára um só minuto...
Abraça-me com todos os beijos que eu perdi
Como certo dia,
em que eu vi teus olhos,
e nem versos , fiz!

"Quem cala, consente"! - por Socorro Moreira

Quem cala, consente ?
O compromisso com a verdade,as vezes nos cala
a mentira piedosa,nem sempre agrada
Se alguém nos descobre,ela assume,proporções inestimáveis
O contrato da verdade,sem cláusulas de omissões,
nos torna livres de tudo que nos inquieta
Machucar alguém, porém,
dói mais do que qualquer verdade!
"quem cala consente..."
O não é um grito ...
Mesmo sussurrado,tem valor de sim !

Bob Dylan




Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan, (Duluth, 24 de maio de 1941) é um cantor e compositor norte-americano.

Nascido no estado de Minnesota, neto de imigrantes judeus-russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, ainda adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a Universidade de Mineapolis em 1959, voltou-se para a folk music, impressionado com a obra musical do lendário cantor folk Woody Guthrie, a quem foi visitar em New York em 1961.

Em 2004, Bob Dylan foi escolhido pela revista Rolling Stone, como o 2º melhor artista de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles e uma de suas principais canções, Like a Rolling Stone, foi escolhida como a melhor música de todos os tempos.

wikipédia

O lustre

Nessa hora da noite
final de domingo

após o jantar
e uma barrinha
de chocolate

começa aparecer
erupção cutânea
na barriga.

Como amanhã é segunda-feira
teria por desculpa
a indolência

mas ultimamente
adoro as segundas

até recebo entidades
sem temor de dormir tarde.

Essas manchinhas vermelhas
podem ser comparadas
a queimadura de pipoca
e beijo de abelha.

Na verdade,
são lembranças
do corpo -

afinal o corpo
é um bebê
que precisa
chamar atenção.

Nessa hora da noite
não assisto tv
nem leio livro

é tempo do marasmo
bocejar e bocejar
dentro do meu ventre:

eis portanto a razão
da manchinha vermelha

embora a origem
pessoalmente prefiro

seja queimadura de pipoca
ou beijo de abelha.

É bem mais romântico.
Combina com meu estado de espírito.

saxofone

Todos têm uma tábua de salvação:
a minha é uma esfera de ferro
atada ao pescoço.

Não há como boiar.

E quando penso
em estirar as pernas
no calçadão da praia

lembro-me que meu cajado
foi feito do etéreo:

dispersa nuvem,
inesperada sombra.

Posso tropeçar em uma concha.

Por Norma Hauer

CHÃO DE ESTRELAS
Há dias que nada temos a comentar sobre vultos que marcaram nossa musica popular, mas hoje temos outro nome importante: SÍLVIO CALDAS.

Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas (um nome tão grande para aquele que se se imortalizou como SÍLVIO CALDAS. Sílvio nasceu em 23 de maio de 1908, no bairro de São Cristóvao, aqui no Rio de Janeiro. Daí ter sido um fanático torcedor do São Cristóvão
Aliás foi ele que gravou o hino de seu clube e de outro, também de São Cristóvão:o Clube de Regatas Vasco da Gama. Quando Lamartine Babo compôs os hinos dos então clubes que formavam a Liga Carioca de Futebol, escolheu a dedo os cantores que deveriam gravá-los, cabendo a Sílvio o do Vasco da Gama, a Jorge Goulart o do AMÉRICA (que ninguém nos ouça:é o MEU time de coração) e o do Madureira (dos outros não me lembro).
Bom, mas vamos a Sílvio Caldas que desde pequeno já cantava em rodas particulares em seu bairro de São Cristóvão. Como cantor,estreou na Rádio Mayrink Veiga(mais uma vez a querida emissora que tanta alegria nos trouxe)no ano de 1929.No ano seguinte gravou a primeira composição que Ari Barroso teve gravada:"Faceira". Somente depois de lançar em disco a valsa "Mimi",de Uriel Lourival,teve contacto com Orestes Barbosa e começou sua "enxurrada" de sucessos. Foram 14 músicas de ambos e é difícil citar a mais bonita dentre:"Suburbana","Santa dos Meus Amores","Quase que eu Disse","O nome Dela eu Não Digo","Arranha-Céu","Serenata", "Vestido das Lágrimas" e a considerada o hino de nossa música popular:"Chão de Estrelas".Sílvio era como um passarinho,tendo composto "Andorinha" e,como as andorinhas,não se fixava em nenhum lugar,nem gostava de cumprir contratos. Quando menos se esperava,com horário marcado para apresentações na Rádio Tupi,enquanto músicos estavam a postos, ele se mandava para os garimpos de Mato Grosso.
Mas não era censurado por isso.O pessoal da rádio já o conhecia e Paulo Roberto, que dirigia as "Serestas de Sílvio Caldas,inteligente como era,improvisava um programa e apresentava o mesmo repertório em gravações.
Orestes Barosa havia feito parceria com Francisco Alves, que musicava suas letras. Houve um desentendimento entre ambos e a parceria acabou. Foi aí que entrou Sívio Caldas, e novas letras foram musicadas, dentre elas as acima citadas. Também houve um desentedimento entre os dois e Sílvio, que acabara de musicar "Vestido das Lágrimas" negou-se a gravá-la.Que fez Orestes? deu-a a um cantor adolescente, quase um menino, que gravara o samba de Ataúlfo Alves "Saudades do Meu Barracão". Seu nome Floriano Belhem.Somente em 1952, em seu primeiro LP(de 10") Silvio gravou "Vestido das Lágrimas",a beleza que se segue:

VESTIDO DAS LÁGRIMAS
Sílvio Caldas e Orestes Barbosa
Gravação:Floriano Belhem

Vou-me mudar soluçante,
Do apartamente elegante,
Que temdo antigo fulgor
Lindos biombos ornados,
De crisantemos dourados,
Cenário do nosso amor.
A nossa vida era calma,
Mas eu sentia em minh'alma
Um medo não sei de que.
Um dia,quanta tristeza,
Achei a lâmpada acesa
E não achei mais você.

Fechei a luz com vergonha,
Da minha face tristonha,
`Para a mim mesmo enganar.
Para não ver nos espelhos,
Meus olhos muito vermelhos,
De tanto e tanto chorar.
E solucei, vou ser franco,
Só o luar, cisne branco,
Ouvia o meu soluçar.
Um soluçar comovido
Com que eu molhava o vestido
Que você deixou ficar.

Se alguém se interessar por essa música e quiser ouvir a voz de Floriano Belhem, ela está no site:
http://download.yousendit.com/6905F3D2D11560B9

O CABOCLINHO QUERIDO
Assim o denominou César Ladeira, quando de seu reingresso na Rádio Mayrink Veiga em 1933. Reingresso porque lá já atuara no início de sua carreira em 1927.
Seu nome Sílvio Narciso de Nascimento Caldas ou simplesmente SÍLVIO CALDAS.
Sílvio Caldas nasceu em 23 de maio de 1908, aqui no bairro de São Cristóvão, portanto, há exatamente 102 anos.
No ano de seu Centenário (2008) Sílvio merecia muitas homenagens pelo muito que enriqueceu nosso cancioneiro, não somente como cantor, mas também como compositor.

Ao lado de Francisco Alves, Orlando Silva e Carlos Galhardo foi considerado um dos quatro grandes do tempo áureo do rádio no Brasil. Dos 4 Foi o que mais viveu, tendo falecido em fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.

Sílvio Caldas, filho de um afinador de piano, pode dizer-se que já nasceu dentro do meio musical. Aos cinco anos já se apresentava,. cantando, em festinhas infantis, sendo muito requisitado. E desfilava no carnaval , levado pelos integrantes do Clube de São Cristóvão.
Entre um canto e outro, aprendeu o ofício de mecânico de automóveis e transferiu-se, em 1924, para São Paulo, onde exerceu essa profissão. Mas o que lhe falava mais alto era a música. Assim em 1927, regressando ao Rio foi levado por um ator teatral conhecido como Milonguita à Radio Mayrink Veiga, onde atuou mediante o pagamento de cachê, durante esse ano, tendo se transferido para a pioneira Rádio Sociedade no ano seguinte.

Simultaneamente com suas apresentações no rádio, continuava sua tarefa de mecânico, até que em 1930 veio sua grande chance de gravar. Foi uma música que não fez qualquer sucesso, mas que lhe abriu as portas para as gravações. Nesse mesmo ano gravou duas composições de Sinhô:”Recordar é Viver” e “Amor e Poeta”, acompanhado ao piano por Henrique Vogeler, um nome conceituado na época.
Ainda em 1930 atuou ao lado de Margarida Max, na revista “Brasil do Amor”, onde também se iniciava, como compositor e pianista , o futuro autor de “Aquarela do Brasil”:Ari Barroso. Sílvio cantou, de Ari, o samba “Faceira”, o primeiro sucesso de ambos. Aí sim, a porta se abriu para aquele que também viria ser conhecido como “Poeta da Voz”, título que lhe foi dado pelo radialista Paulo Roberto, que apresentava as “Serestas de Sílvio Caldas” na Radio Tupi. Foi nessa emissora que Sílvio atuou por mais tempo, embora tivesse sua passagem outras vezes pela Mayrink Veiga e pela Nacional.
No ano de 1930, Sílvio gravou 19 discos, mas apenas “Faceira” pode ser considerado sucesso.
No ano seguinte, para o carnaval,gravou “Bambina, meu Amor” e “Sestrosa”, ambas de Rogério Guimarães, mas que também não foram sucessos.
Em 1932 com “Maria” ...”o teu nome principia, na palma de minha mão...”, de Ari Barroso e Luiz Peixoto, “estourou” em todo o Brasil.
No carnaval de 33 gravou, ainda de Ari Barroso, o samba “Segura essa Mulher”. E nesse mesmo ano gravou, de Noel Rosa, “Vitória”, em parceria com o pianista Nonô (Romualdo Peixoto) que viria a ser tio de Ciro Monteiro e de Cauby Peixoto.
Nonô foi, durante muitos anos, pianista da Rádio Maryrink Veiga, a quem César Ladeira denominou “Chopin do samba”.
Em 1934 aparecem as duas primeiras composições de Orestes Barbosa gravadas por Sílvio Caldas, “Santa dos Meus Amores”e “Serenata”. Esta passou a ser seu prefixo musical. Em seus programas radiofônicos.
No mesmo ano de 34, gravou “Boneca”;”O Telefone do Amor”;”Inquietação” e “Por Causa dessa Cabocla”. No ano seguinte, gravou “Madrugada” e “Acorda Escola de Samba”, no qual Herivelto Martins dava início a suas composições enaltecendo as escolas de samba.
Em 1936 tomou parte do elenco do filme “Cidade Maravilhosa”, de Luiz de Barros. No cinema trabalhou ainda em “Luz dos Meus Olhos”, de José Carlos Burle, em 1947.
Em 1937, gravou “Adeus Felicidade”; “Sabiá”,um samba-canção de Jararaca e Vicente Paiva,( autores de “Mamãe eu Quero”) sucesso do carnaval desse ano, na voz de Almirante.
E foi em 1937 que gravou dois outros poemas de Orestes Barbosa:”Arranha-Céu” e “CHÃO DE ESTRELAS”, que se tornou o hino das serestas. Foi sobre o verso “tu pisavas os astros distraída” que Manuel Bandeira disse que se um dia fosse escolhido o mais bonito verso da canção brasileira, seria esse o escolhido.
Não dá para citar tudo que marcou a carreira de Sílvio Caldas, mas citaria “Quando eu penso na Bahia”(1937);”Pastorinhas” e “Professora” (1938);”Deusa da Minha Rua” ;”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”(1939).
Sobre “Pastorinhas”, há uma historia que deve ser resumida:essa foi uma marcha-rancho, de nome “Linda Pequena” , da autoria de Noel Rosa e João de Barro (o Braguinha”) gravada em 1936 por João Petra de Barros. Não fez sucesso.
No ano de 1938, para enfrentar a desclassificação de “Touradas em Madri” como campeã no concurso do carnaval de 1938, que era realizado na “Feira de Amostras”, mas foi considerada “passo doble”, Braguinha, foi buscar a “Linda Pequen”, alterou parte de sua letra e a lançou como “Pastorinhas”, na voz de Sílvio Caldas. Resultado: venceu o concurso.
Sílvio não parou aí com seus sucessos. Em 39 gravou “Deusa da Minha Rua” ...”na rua uma poça dágua, espelho de minha mágoa, transporta o céu para o chão...”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”; “Da Cor do Pecado” (que recentemente se transformou em nome de novela) ; regravou “Rancho Fundo” e “Maria”.
Interessante que “Rancho Fundo” foi gravado por Elisinha Coelho, em 1932 (?) com o nome de “Na Barra Funda”:-a mesma música,com outra letra. A segunda letra é da autoria de Lamartine Babo, o mesmo Lamartine que, compondo os hinos dos clubes de futebol que disputavam o campeonato carioca, deu para Sílvio Caldas os hinos do São Cristóvão (clube de Sílvio) e do Vasco da Gama.
De Custódio Mesquita e Sadi Cabral Sílvio gravou, em 1940, o fox-canção “Mulher” e a valsa “Velho Realejo”. No mesmo ano levou para o disco a valsa ”O Amor é Assim”, de Sivan Castelo Neto e as marchas “Andorinha” e “Sinhá-Moça Chorou”, de sua autoria.
Em 1941, dois sambas com nome de mulher fizeram grande sucesso no carnaval: ”Aurora” e “Helena”(não foram gravadas por Sílvio). Por causa dessas músicas, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Ciro Monteiro, em trio gravaram “Rosinha”, em que diziam:”não quero saber da Aurora, a Helena deu o fora e com a Rosinha é que vai ser”. De Ari Barroso, mais duas composições “Morena, Boca de Ouro” e “Três Lágrimas”.
No ano seguinte, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, duas composições para os soldados:”Fibra de Herói e Canção do Soldado”.
Não dá para citar nem a terça parte do que Sílvio gravou, mas quero citar duas composições de Georges Moran :”Não Voltarás, nem Voltarei”;”Ninotchka” e “Kátia”, de Georges Moran. Este foi um autor que se “abrasileirou e se enturmou” com nossos compositores.Nascido na Rússia, veio para cá antes da segunda guerra e se adaptou ao nosso meio musical sendo autor de várias composições gravadas por Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dircinha Batista, Francisco Aves...
Tivemos, com Sílvio, “Algodão”;”Feitiçaria”;”Sim ou Não”;”Minha Casa”; “Não me Pergunte”;”Cabelos Cor de Prata”;”Violões em Funeral”... Tudo em 78 rotações.
Com a chegada dos LPs, foi o primeiro cantor a gravar um, de nome “Saudades”, onde regravou várias composições suas com Orestes Barbosa., além de “Vestido das Lágrimas”, antes gravado por Floriano Belhem.
Na fase dos LPs gravou muitos sendo um com Pedro Vargas, “ao vivo” no Canecão. E o último, comemorando seus 80 anos, no Teatro João Caetano.
Sílvio Caldas, afastou-se do meio musical e se transferiu para seu sítio em Atibaia, em São Paulo, onde faleceu em 3 de fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.
Nessa data, foi lançado um CD em homenagem a esses 90 anos .
Norma

Sílvio Caldas



Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas (Rio de Janeiro, 23 de maio de 1908 — Atibaia, 3 de fevereiro de 1998) foi um cantor e compositor brasileiro.

Seu primeiro sucesso foi o samba de Ari Barroso intitulado Faceira (1931). Desde então, consagrou-se como um dos maiores cantores brasileiros. Chão de estrelas (1937), em parceria com Orestes Barbosa, foi um de seus maiores êxitos.

Dono de timbre inconfundível, que lhe valeu a fama de grande seresteiro, é conhecido também por alcunhas carinhosas, como Caboclinho querido, A voz morena da cidade ou Titio.

Curiosidades
Sílvio era um grande amigo do pai da cantora Maysa, e foi ele que a ensinou a tocar violão.


wikipédia

Pensamento para o Dia 23/05/2010


“Como um aspirante espiritual, você deve sempre procurar o que é verdadeiro e alegre, e evitar todos os pensamentos que são tristes e deprimentes. Quando sua devoção está bem estabelecida, mesmo se a depressão, dúvida ou vaidade aparecerem, você pode facilmente descartá-las. O melhor é que, como aspirante espiritual, você esteja alegre, sorridente e entusiasmado em todas as circunstâncias. Essa atitude pura é mais desejável do que até mesmo devoção e sabedoria. Se você está preocupado, deprimido ou em dúvida, você nunca pode alcançar Bem-aventurança, não importa a prática espiritual que você execute. Assim, a primeira tarefa do aspirante é o cultivo de entusiasmo. Nunca fique cheio de si quando for elogiado, nunca fique abatido quando for repreendido. Você deve analisar-se e corrigir suas falhas. Seja um Leão Espiritual.”
Sathya Sai Baba

Epitáfio

Deve haver uma maneira simples
de morrer sem ter que escrever tanto
e durante muito tempo somente
enganos, vacilos.

Dever haver um jeito tranquilo
de morrer sem muita onda
sem tantas palavras
e rimas inesperadas.

Deve haver guardado na primeira gaveta
último mandado de busca
no mais profundo da alma
se de fato chama-se alma
esta coisa ínfima e gloriosa
que se resguarda sob a dor
e confissão do corpo.

Deve haver um revólver de brinquedo
que faça de verdade o papel do original
um tiro, a pólvora, um beliscão no peito
sem tanto sangue sem tantas lágrimas

sem palavra alguma
apenas um ai, um ui
e adeus mamãe.

A NATUREZA DA CONSCIÊNCIA HUMANA: AS “FORMAS DISSOCIADAS DE PENSAMENTO” NA AURA (TEXTO DEDICADO ÀS “MENINAS” DO NOSSO BELO E DEMOCRÁTICO BLOG)


Assim como existe a fronteira entre a ignorância e o conhecimento também existe a fronteira entre o conhecimento e o autoconhecimento. Pode o ignorante compreender o universo de um cientista e intelectual? Da mesma forma, pode um intelectual compreender o universo do santo e místico? Certamente não. As fronteiras que delimitam estes universos, separam realidades distintas, ainda que os ignorantes, cientistas e santos estejam aparentemente no mesmo "plano de existência". A fronteira que delimita o ignorante do cientista chamaremos de CONHECIMENTO, e a fronteira que delimita o cientista do santo chamaremos de SENSIBILIDADE.

A realidade não é somente aquilo que percebemos. Aquilo que não percebemos não deixa, apenas por esta razão, de existir. Assim, o cientista não percebe diretamente o elétron, apenas indiretamente, por seus efeitos, o que não o impede de afirmar-lhe a existência. O que percebemos está inserido dentro de uma faixa ou cone de percepção. A medida que aumentamos a sensibilidade do cone de percepção novas sinalizações de fenômenos são captadas do mundo "irreal".

Mas será que podemos compreender algo sem que, para tanto, tenhamos que empregar esforço mental ou emocional? Acredito que não, pelo menos para o nível "normal" de consciência humana.

Podemos afinal efetivamente estudar o ser humano, ou mais precisamente, a consciência humana? A resposta positiva para essa pergunta tem por obstáculo fundamental o fato de se tratar de um estudo em que o "objeto" é ao mesmo tempo sujeito. Como pode um observador caracterizar um "objeto" se elementos como orgulho, pretensão, ansiedade, tensão, carência afetiva, auto-afirmação, insegurança, falta de confiança no outro ou em si mesmo,etc.- afetam a observação e interferem no "objeto" estudado?
(o texto acima foi retirado do cap. 3 da minha dissertação de mestrado defendida em 1992 na COPPE/UFRJ).

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(o texto abaixo foi retirado do livro MÃOS DE LUZ de BARBARA ANN BRENNAN, ED. PENSAMENTO, p.146)
“No correr dos meus anos de prática energética, tenho observado um fenômeno ao qual dou o nome de espaços móveis da realidade. Esses “espaços” me parecem semelhantes aos descritos no estudo de topografia, onde determinado “grupo” ou “domínio” contém uma série de características que definem as operações matemáticas possíveis naquele domínio. Em termos de psicodinâmica, existem “espaços da realidade” ou “sistema de crenças”, que contém grupos de formas de pensamento associados a concepções válidas e a concepções errôneas da realidade. Cada forma de pensamento contém suas próprias definições da realidade, como por exemplo: todos os homens são cruéis; o amor é fraco; ter tudo sobre controle é seguro e forte. Deduzo das minhas experiências que as pessoas, quando se movem na sua experiência diária, também se movem por diferentes “espaços” ou níveis de realidade, definidos pelos grupos de formas de pensamento. O mundo é experimentado de maneira diferente em cada grupo ou espaço da realidade.

As formas de pensamento são realidades energéticas, observáveis, que irradiam cores de vária intensidade. Sua intensidade e sua definição de forma decorrem da energia ou da importância que a pessoa lhes deu . As formas de pensamento são criadas e mantidas pelos seus donos por intermédio dos pensamentos habituais. Quanto mais definidos e claros forem os pensamentos, tanto mais definida será a forma. A natureza e a força das emoções associadas aos pensamentos dão à forma sua cor, sua intensidade e seu poder. Esses pensamentos podem ou não ser conscientes. Uma forma de pensamento se constrói a partir da constante ruminação de um temor como este, por exemplo: “Ele vai me deixar”. O criador da forma de pensamento agirá como se aquilo fosse acontecer. O campo de energia da forma de pensamento influirá de modo negativo no campo da pessoa a que ele se refere. Terá provavelmente o efeito de empurrar a pessoa para longe. Quanto mais força se der a essa influência negativa, enchendo-a de energia, consciente ou inconscientemente, tanto mais eficaz será ela no criar o resultado temido. Tais formas de pensamento, por via de regra, tanto fazem parte da personalidade que o indivíduo nem sequer se dá conta delas. Começam a formar-se na infância e baseiam-se num raciocínio de criança, quando são integradas à intensidade. São como um excesso da bagagem que a pessoa leva dentro de si, sem reparar ao seu efeito, que é muito grande. Essas formas de pensamento conglomeradas ou sistemas de crenças atraem muitos “efeitos” na realidade externa da pessoa.

Como essas formas não estão profundamente sepultadas no inconsciente, mas se encontram na borda da consciência, podem ser superadas por métodos como o trabalho de corpo do núcleo energético, jogos de associação de palavras e meditação.”

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COMENTÁRIO: Como podemos observar nos dois textos acima, a natureza da consciência depende fundamentalmente de uma ação disciplinada voltada para a própria consciência do observador. O fato real e a fantasia se misturam na consciência de um observador incauto ou desatento consigo mesmo. O pensamento, a palavra e a ação construtiva dependem de uma disciplina interior para visualização entre o que de fato é verdadeiro e o que é forma-pensamento (picuinha, devaneio, fantasia, projeção, julgamento desprovido de base filosófica, ou seja, retórica ou argumento falso etc.).

Nesse sentido, todo cuidado é pouco. E não devemos nos sentir ofendidos por causa de indivíduos que só enxergam os defeitos alheios e nada enxergam a respeito de si mesmos. A famosa frase: “não queira ver o cisco no olho de seu irmão (ã), enquanto na sua existe uma trave” – Jesus Cristo, cai bem nesse contexto. Devemos ter uma atitude holística, multidimensional e plural para podermos enxergar a grandiosidade do ato de viver em harmonia e assim respeitarmos a diversidade nesse universo de múltiplas e infinitas realizações e criações.

Assisti recentemente um documentário feito pela BBC de Londres sobre a vida dos animais rasteiros e fiadores. É impressionante a diversidade de formatos de teias e técnicas de construção e captura das aranhas. O mesmo poder acontece para o restante dos animais, vegetais e humanos. Por isso, precisamos ser prudentes ao julgar os fatos e as realidades nos diversos mundos que nossas percepções alcançam. A consciência é infinitamente maior e complexa daquela que imaginamos possuir. Não julgueis! O sexo não diferencia nada em termos de consciência entre os seres humanos. O eu, o tu e o nós são uma coisa só - e não possui gênero definido: ELES são O Criador em Ação!

Sabedoria das Margaridas-Por Liduina belchior.

Quero aproveitar este Pensamento do dia e homenagear minha prima Margarida Belchior.Lá vai:"Sucesso não é tudo. Nadine Stair reconheceu na retrospectiva de sua vida: "Se eu pudesse viver minha vida novamente, colheria Margaridas ". Essa mulher bem sucedida tem orgulho daquilo que que conseguiu.Não quer abrir mão disso. Mas há uma coisa que faria diferente. Dedicaria mais tempo a coisas simples, a atividades lúdicas. E colheria um ramalhete para si. Este lhe seria mais precioso do que os arranjos nobres e caros que poderia comprar de sua florista. Nele estaria contido mais dela mesma, de sua fantasia, de seu amor, de seu gosto. Haveria mais liberdade. Maisprazer na vida. Mais alegria" Autor: Anselm Grun.

O CANTO DO SABIÁ - Por Marcos Barreto de Melo

Toda tarde tu me chegas
Pra cantar no meu terreiro
E eu fico a te procurar
Entre os galhos do oitizeiro
Mas, não é pra te espantar
Quero só te escutar

Sabiá sei que tu cantas
Por querer me alegrar
O meu peito consolar
Só porque me viu chorar
Quando pela estrada andei
Procurando o que deixei

Meu sabiá, eu chorei
E a você vou negar não
Chorei porque não achei
Aquele velho cajueiro
Onde desenhei um coração
Com as iniciais do amor primeiro

Porque não vi o engenho
A doce cana caiana
A garapa, a rapadura
Aquele doce umbuzeiro
O gado no pasto berrando
E o vaqueiro campeando

Sabiá, também chorei
Quando para o curral olhei
E não vi mais a fartura
Do leite cru no capucho
Porque não vi apitando
O carro de boi na estrada

Sabiá, se eu chorei
Foi porque não encontrei
O riacho de água doce
Onde eu ia me banhar
Chorei ao ver os terreiros
Onde eu corria e brincava
E ao lembrar-me dos brinquedos
Que eu mesmo inventava

Marcos Barreto de Melo

Crato Tênis Clube , em 22 de Maio de 2010

60 anos do Crato Tênis Clube !
NA FRENTE , UMA FAIXA : NOITE DE SERESTA COM HUGO lINARD E PEIXOTO , Á PARTIR DAS 22 HORAS.

Estávamos em grupo, buscando um cantinho noturno pra conversar , e aquele anúncio parecia holografia do que desejávamos.
Um grupo dos nascidos , quando o Tênis começava !
E a música dirigiu a memória : repertório cuidadoso, música bem tocada e bem cantada pelos sempre cada vez melhores, nossos músicos.
Não vivemos a energia da nostalgia.Música boa não tem idade !´

BILHETE PARA ZÉ DO VALE



1.
Enquanto eu lia aquele texto das ‘saudades’ de uma das tias ‘raitec’, eu pensava o quanto de sensibilidade para captar a alma feminina havia ali. Acho bonito quando um homem se expressa assim, tão conhecedor do universo feminino, lembrei até de Chico Buarque. E me deliciei com o teu texto, cujo final, muito carregado de humor, transbordava numa brincadeira que, para mim, é sinal de confiança, amizade e cumplicidade.
Gosto de olhar a vida assim: sabendo confiar e brincar, reconhecendo e louvando as amizades, plantando gentilezas e colhendo ternuras.

2.
Recebi teu ramalhete poético que me deixou muito feliz com a homenagem, com o carinho, com a delicadeza. Retribuo com as cores dessa manhã de domingo, em Olinda, com a brisa do mar, o sino das igrejas antigas, o colorido do casario, cheiros de madressilvas e açucenas, a poesia da vida, enfim.
Com o carinho de
Stela

FIM DE TARDE - "Antes que o Pau Chegue"


Para a 6ª versão do evento FIM DE TARDE, a Sertão Pop Produções está trazendo três atrações, todas do Cariri. O nome "Antes que o Pau chegue", é em alusão ao dia seguinte, que será o dia do "Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha"

A Banda Nóia é uma perfeita mistura de Cariri. Ótimos músicos interpretando canções dos bons tempos de décadas passadas. Tocam muito e farão um som bem dançante. O Dr. Divine é de Juazeiro e vai nos brindar com o rock and roll dos anos de 70 e 80, assim como o Dj. Dick que mora no Crato e que vai fazer rolar uma música super retrô.
O PINK FLOYD BAR fica localizado no Sítio Romualdo, entre a cidade de Crato e o Distrito de Arajara, em Barbalha.

Gosto não se discute - Emerson Monteiro

Triste do amarelo se todos gostassem do encarnado, eis frase que ouvia vezes sem conta de minha sábia mãe, contemporizando o atrito entre os filhos, falando essas coisas da sabedoria popular, segundo ela, aprendidas de seu pai, fiel apreciador dos dizeres do povo. E eu guardo com carinho algumas dessas pérolas definitivas que bem representam filosofia natural, transmitida de geração a geração pela oralidade.
Bom, quanto à questão do gosto, aos poucos a humanidade vem descobrindo o valor da diversidade nos assuntos da civilização. Vinícius de Moraes, numa de suas composições, afirma: Se todos fossem iguais a você que maravilha viver. Diz, mas já sabendo que a vida significa a contagem regressiva da morte, daí a beleza hipotética de seus versos. As dez mil coisas formam o teatro do Universo. O que seria da comédia se todos gostassem da tragédia?
Em matéria de literatura, vale lembrar que Franz Kafka em vida não chegou a publicar uma única de suas obras geniais, restando só à posteridade o raro prazer de apreciá-las. E outro expoente das letras, Jean-Paul Sartre, recusou o prêmio Nobel da Literatura vistas suas razões políticas, desmerecendo no gesto a tão ambicionada comenda dos autores mundiais.
No Brasil, quando Euclides da Cunha publicou Os sertões, trabalho de fôlego a retratar, na visão das elites brasileiras, no conflito de Canudos, retirou-se para uma fazenda no interior paulista pressentindo o fracasso da edição, e ele escolhia se distanciar para não presenciar de perto. Contudo, rápido o livro se esgotava e, ainda hoje, é reconhecido e admirado por muitos.
As diferenças formam o grande todo. Existem pessoas que preferem chã de dentro invés de músculo, e nem por essa razão todo dia se deixa de matar boi. Tem quem coma seus tecidos, independente do nome das partes ou da consistência da carne.
Isso porque há gosto para tudo. Caso as pessoas a quem decepcionamos vez em quando, as quais chegam a formar verdadeiras multidões, exigissem mais de nós ao nos conhecer, por certo facilitariam, com isto, nossa caminhada e economizariam fortunas em sofrimento para si e para outros.
Ser exigente nas escolhas, portanto, evita transtornos futuros e suprime a ilusão dos que se imaginam superiores, quando, na verdade, pecados e virtudes acham-se distribuídas em proporções equitativas no espaço da natureza, sem injustiças ou privilégios, vindo daí o segredo valioso da conformação. E maiores são os poderes de Deus.

RECEITA DE AMOR - Por Xico Bizerra

Insônia das brabas, olhos teimosos sem querer fechar. Abriu um livro e leu um Poema qualquer, de forma aleatória. Fechou o livro, beijou a mulher e recitou-lhe um verso. Amaram-se. No outro dia, a mulher tomou-lhe das mãos o livro, abriu-o, em uma página qualquer, e leu um Poema, também de forma aleatória. Amaram-se. Toda semana iam à Livraria à busca de novos livros de Poesia. Nas bodas de prata, deram-se, um ao outro, um livro de Poemas. Ficam na cabeceira da cama, ao lado de seus retratos, 25 anos atrás.

Por Xico Bizerra.

Momentos com o mar - por Claude Bloc

Para quem está com saudade do mar...

Mucuripe - ao por do sol

Passantes...

Luz e sombra.
Claude Bloc
Perdas
- Claude Bloc -

Resgatei de mim a ação do verbo “chorar”. Bani-o. Percebi os abismos que traz. Estes que se ajuntam atrás da dor.

Não consigo ser racional o tempo todo, nem também me abster da consciência de que devo mudar a cada dia... de que devo resistir bravamente diante das tomadas e retomadas de decisões. Mas sou flexível demais, boba demais, ingênua até e uma simples brisa consegue me entortar e me machucar.

A tristeza não arranca aplausos, simplesmente flui. Traz em si as nossas falhas e os nossos tropeços inerentes à vida. Por isso, nem sempre consigo ser lógica, como também muitas outras vezes não sei lidar com as perdas. Só sei que perder pode não ser o fim, mas sempre dói.
Claude Bloc
Hera
- Claude Bloc -


Sou tempo,
sou fera...
sou menina,
sou espera...
sou ave
de arribação
sou folha seca,
sou sertão
sou jardim
sou água,
rio manso
sem trégua
Sou fogo
sou brasa..
Sou brisa
sou hera...

Mas o que sou enfim
se me comovo
quando lanças teu olhar sereno
sobre mim?
.
Texto e foto: Claude Bloc

Pintando o sete - Mário Eduardo Viaro (para Socorro Moreira )

Palavras usadas nos sistemas de contagem da humanidade revelam empréstimos culturais que remontam à pré-história

Mário Eduardo Viaro

Entre as classes gramaticais mais estáveis, a dos numerais é das que melhor se mantêm nas línguas, sendo forte indício para afiliações de línguas nos estudos histórico-comparativos. É verdade que nem isso é totalmente certo: o japonês tem uma lista de numerais de origem chinesa independentemente dos numerais japoneses típicos, e o mesmo vale para línguas orientais como o coreano. Nas indoeuropeias, porém, os numerais possuem um grau de conservação bastante grande.

Seu conservadorismo formal se deve ao fato de serem uma espécie de tecnologia e, em última análise, um empréstimo cultural que remonta à pré-história. Por isso, sistemas distintos podem conviver na mesma língua (como no japonês) e tratamentos diferentes são dados a ordinais e números muito grandes. Entender suas transformações fonéticas é um bom caminho para a compreensão dos métodos utilizados pela etimologia.

Mário Eduardo Viaro é professor de Língua Portuguesa na USP, autor de Por Trás das Palavras
(Globo: 2004).

A ideia do "um"

O número "um" é um dos mais instáveis nas línguas indo-europeias. A forma portuguesa flexiona-se em gênero e número e aponta para o latim unus. Sob a forma do acusativo unum, promoveram-se as mudanças fonéticas usuais: queda do -m final (apócope) e queda do -n- intervocálico (síncope), com nasalidade da vogal anterior, o que resultava em duas vogais (um u nasal e outro u, ou o, átono). Essa forma resultante gerou a grafia moderna "um".

A palavra no gênero feminino, una (na verdade na forma acusativa unam) sofreu as mesmas mudanças. Ainda hoje, na língua falada, como provam as gravações feitas pelos foneticistas, é ainda muito comum a forma resultante diretamente do latim, ou seja um u nasal seguido de a, que ainda existe no galego (grafado por meio de um dígrafo bastante inusitado: unha). Esse encontro entre o u nasal e o a causava normalmente a perda da nasalidade, como se vê na palavra "lua", que vem de lunam (embora ainda haja hoje pessoas, normalmente muito idosas da zona rural, que pronunciem o u nasal de "lua", como provam estudos dialetológicos).

No entanto, no caso do numeral, dada a sua frequência (intensificada pelo uso também como artigo indefinido), a solução foi transformar a nasalidade do u em uma consoante: "uma". Esse fenômeno se chama epêntese e há casos parecidos com o i nasal: o latim vinum se transformou em vio (com o i nasal) que, por fim, se tornou "vinho". Perceba que o ponto de articulação da consoante nasal depende da vogal anterior: no caso do u, gera-se uma bilabial (m), no caso do i, uma palatal (nh).

O que vem primeiro

O ordinal "primeiro" vem de primarium, acusativo de primarius, por sua vez, derivação sufixal de primus, que era a forma usada em latim clássico. A irregularidade de primus se justifica pelo fato de ser um superlativo do advérbio *pri. Assim, a terminação -mus é a mesma de -issimus que gerou a terminação -íssimo em português. Esse *pri, que aparece como sufixo, significa algo como "antes". Conclusão, primus seria "o que vem antes de todos", pois os ordinais tinham a característica de apresentarem-se como uma fila de seres.

A mesma metáfora se vê em inglês first e em alemão erst, em que -st também indica superlativos e fir- remonta a "antes" no inglês, por exemplo, em be-fore, e er- também, no alemão, está vinculado a essa ideia, como em eher (antes, de preferência). Em russo também vemos a mesma metáfora na palavra pervyj e em grego prôtos também.

Já o número "um" possui a mais complexa etimologia dos numerais, pois remonta a uma forma indo-europeia *Hoi(H)nos, que não é universal (mas se vê no alemão eins e no inglês one). Outra palavra para o mesmo significado foi *sem que aparece, por exemplo, no latim semel "uma vez". Em grego, a aspiração do s- inicial gerou a forma hen. Vemos a mesma forma em simplex (simples), que proveio de *sem-plek-s "com uma só dobra", em contraposição com *kom-plex (dobrado junto), donde viriam "complexo", "complicar", "complicado" etc.

"Dois" se impôs ao mundo

Os numerais subsequentes fornecem as maiores comprovações de que o que dissemos para o "um" está correto. A palavra "dois" é a forma dialetal do antigo dous que se impôs em quase todas as falas, embora não faltem pessoas que ainda pronunciem a antiga palavra, em sua versão monotongada, em Portugal ou mesmo no Brasil (há registros em Mato Grosso, no Pará e nos açorianos de Santa Catarina).

Esse dous vem do latim duos, acusativo de duo, que, por sua vez, vem do indo-europeu *duoh1, por meio do ensurdecimento das consoantes (a chamada Lei de Grimm, da qual já falamos). Dele se deriva também o inglês two e o alemão zwo, palavra que se usa ainda em dialetos e na língua oficial, para dizer-se o número dos telefones. Como o um, flexiona-se a palavra para "dois" e o português tem o feminino "duas", que é a mesma forma do acusativo latino de duae. O espanhol perdeu essa forma do feminino e somente diz dos, que corresponde à monotongação de dous. O ordinal "segundo" é uma forma do verbo sequi latino: o étimo secundus significava, originalmente, "aquele que segue" o número "um".

A inflexão do "três"

O "três", diferentemente de "dois", não flexionava (a não ser no neutro tria, que desapareceu completamente). Os demais números também não tinham flexão alguma. A forma indo-europeia era *treies. No germânico, a Lei de Grimm transforma o t numa interdental, que é preservada no inglês three e no islandês. O alemão drei, porém, mostra que as demais línguas germânicas optaram por mudar esse som, considerado instável.

O que há no "quatro"

O latim quattuor, donde provém o numeral "quatro", mostra notável conservação da consoante *kw- do indo-europeu *kwetuôr. Nas outras línguas, esse som se transformou em uma labial (como ocorreu, mais tarde, também com o romeno patru).

Assim, em gótico, a forma era fîdwor, que equivale ao four do inglês e ao vier do alemão (o v do alemão tem som de f).

Os problemas do "cinco"

O "cinco" apresenta uma série de problemas. O indo-europeu dizia *penkwe, forma que, por assimilação regressiva, se tornou quinque em latim (em vez do esperado *pinque). Já o germânico fez uma assimilação progressiva *penpe, que originou o fünf em alemão. O primeiro qu- se simplificou no latim vulgar (como se observa em italiano cinque).

Na Península Ibérica, por influência analógica do "quatro", a antiga palavra cinque modificou sua vogal final e se tornou "cinco". Tais analogias são comuns em numerais que se seguem: por exemplo, no russo (e nas demais línguas eslavas), o esperado número para "nove", a saber *nevjat', se tornou devjat' por causa do número
seguinte: o "dez" se diz desjat'.

As transformações de 6 a 7

O "seis" é uma transformação do latim sex. Observe que x é uma consoante dupla [ks] e o primeiro [k] tem tendência a vocalizar-se nas línguas românicas: noctem se tornou "noite", pectus se tornou "peito", factus se tornou "feito" etc. A forma indo-europeia era *suek's, donde também o inglês six e o alemão sechs.

O "sete" vem do indo-europeu *septm, donde se vê também não só o latim septem mas também o grego heptá (com a mesma aspiração do s- como visto em *sem e vocalização das nasais silábicas), o inglês seven, o sânscrito saptá etc.

A evolução do "oito"

O "oito" tem a reconstrução atual do indo-europeu *h3ek'teh3. Essas consoantes h1, h2, h3 são as chamadas laringais saussurianas, largamente aceitas pelos indoeuropeístas. As palavras indo-europeias são construtos e nenhum pesquisador sério imagina pronunciá-las. De *h3e- nasce o o- latino de octo, por exemplo. Em alemão, a palavra é acht, pois o [k] tende a ser pronunciado como o j do espanhol (grafado ch). Em inglês, temos eight, com um arcaísmo gráfico gh que não é pronunciado hoje em dia, mas lembrava o antigo som equivalente ao do alemão. Da mesma forma que noctem deu "noite" em português, octo gerou "oito". Observe-se que noctem é o acusativo de nox e remonta ao indo-europeu *nokwts, que gerou o grego nıks, o gótico nahts (cf. inglês night, alemão Nacht) e o sânscrito náktam.

Noves fora, 10

O número "nove" provém do latim novem, que sofre a comuníssima apócope do -m. A palavra indo-europeia era *h1néun, donde também grego ennéa, gótico niun (inglês nine, alemão neun), sânscrito náva. Todos os fenômenos fonéticos são facilmente explicáveis (a transformação do *n silábico indo-europeu em *a, por exemplo, é igual à transformação do *m de *septm).

Por fim, o dez viria de *dek'mt, donde latim decem, sânscrito dasha, gótico taihun, como se pode ver no inglês ten e no alemão zehen (a transformação do *d em t no germânico segue a primeira Lei de Grimm e o t em z em alemão segue a segunda).

Fonte: Revista Língua Portuguesa