Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Uma rápida aventura de João de Barros - por José do Vale PInheiro Feitosa

Andava distraído o nosso Raimundo de Lau. Flutuava no mundo da lua.
Com a cara virada para o céu, andando ao leu.
Apaixonado pelos olhos verdes de Carolina.
Filha da família Peixoto do Exu, bravos feito inxu magro; inflamáveis como gasolina.
Destrutivos feitos uma carnificina, mais fatais que estricnina, mais explosivos que nitroglicerina, tão velozes quanto a lâmina da guilhotina, mais traiçoeiros que Messalina.

Não tem remédio que dê resultado para o amor de Raimundo por Carolina: acetilcolina, adrenalina. atropina, benzocaína, bradicinina, cafeína, codeína, digitalina, efedrina, fenacetina, hioscina, lecitina, pilocarpina, tuberculina, vacina ou zibelina.

Não existe corajoso para roubar aquela moça.
A começar pelo pretendente.
Raimundo de Lau estava cada vez mais macambúzio. Nem chá de macambira, chapéu de couro ou quebra pedra rebentava o tumor da tristeza do amante errante.
Por isto foram chamar João de Barros, o maior aventureiro que a região já teve notícia.

Mas ele não gostou da idéia:
- Eu? Tu tá doido macho, enfrentá aqueles cascavé de lajedo, nem nim son-io.

Ofereceram um dinheirão em escala crescente para ele que foi refugando, até chegar um montante muito elevado. Chegaram a valor tão alto, porque achavam o rapaz incapaz de cumprir o fato, apesar de sua fama. Por outro lado, com aquele valor o cowboy não teria como recusar mesmo com o mais legítimo instinto de sobrevivência.
-Tá beim, eu intrego Carolina prá Reimundo de Lau, mas quero um bocado do din-eiro agorin-a mermo.

Deram só uma parte pequena e entregaram o restante na mão do honrado Vicente Manoel de Souza Braga. Não iriam se arriscar com aquela missão quase impossível, era muito dinheiro para entregar para João sem o compromisso acabado. Mesmo assim, todos queriam ajudar Raimundo de Lau e contavam com a cobiça do dinheiro por receber, como forma de estimular o maluco. Com as artimanhas do aventureiro, ele seria capaz de, ao menos, aparecer no terreiro dos Peixoto.

João saiu perguntando, com quem encontrava, sobre a vida dos Peixoto. Do que gostavam, do que detestavam, do que tinham respeito, como dormiam, o que comiam, quem eram seus amigos e quais os inimigos. Passou o resto da tarde e da noite pesquisando sobre a vida da família. Agora já tinha informação sobre o outro lado.
Poderia começar a maquinar suas façanhas para vencer a grande barreira que o separava da enorme quantia de dinheiro que estava nas mãos de seu Mané Braga.

1) A Fortaleza Inimiga -
A casa dos Peixoto é guarnecida inteiramente com uma cerca viva de avelós e só existem duas porteiras de acesso, sempre fechadas por cadeados. Um jardim fica em volta da casa, que é totalmente cerrado com um muro alto, com dois portões de madeira fornida e bem fechados.
A casa foi construída a três metros do chão e em torno existem escadas de acesso aos jardins. Tem cinco portas de saída e onze janelas de pau d’arco de vinte centímetros de espessura. Por dentro possuem ferrolhos e tramelas de pau maciço.

2) O personagem central -
Um velho austero, carrancudo, enfezado, ganjento, infenso, labrego, nefário, pioca, rosnador, turrão, valente, zoilo e dado a ter lundu. É a descrição exata do velho Peixoto.
Senta-se na cadeira de balanço no alto da calçada da frente da casa, aproveitando a brisa fresca da manhã. Corta fumo na palma da mão e, na boca, segura a palha de milho que enrolará o cigarro.
Tá pensativo, uma amargura silenciosa cozinha no meio do coração. Tão querendo levar para longe a querida Carolina, a filha que havia guardado para cuidar-lhe da velhice.

3) Cenas iniciais-
A filha está na lida caseira e os outros filhos foram para a roça. Na casa só dona Santana, o velho Peixoto e Carolina.
Enrola o cigarro e com uma embira de palha de milho, o amarra. Passa saliva ao longo do cigarro, morde a ponta chupando com a boca desdentada com se fosse um bebê no mamilo da mãe e, tirando gosto, mete a mão no bisaco.
Puxa de dentro a pedra de fogo, o pedaço de ferro e o chifre carregado de algodão. De cara enfezada, segura o chifre pelos dedos mínimo e médio um ponto abaixo da pedra presa pelos dedos indicador e polegar. Em seguida bate o ferro da mão direita, com maestria, nas extremidades laterais da pedra da qual saltam faiscas. Elas começam a queimar o algodão na tabaqueira.
Encosta o cigarro, a fumaça levanta e ele dá uma tragada profunda. Solta a fumaça do peito e com um olhar bambo como se tivesse preguiça, assunta o tempo.

4) Controle da situação -
No alto da calçada avista toda a paisagem em volta.
Dali tem o controle de todas as suas terras, nenhum detalhe lhe escapa: o urubu no fundo azul do céu, o bentivi atacando o gavião, a cobra engolindo o sapo, os marrecos voando em bando e a rolinha abatida pela espingarda soca-soca de Zé Amâncio, lá na várzea distante.
Tem o controle de vida e pedra, de fogo e água, nada lhe assusta.

5) O que é que é isso, minha gente?
De repente um baque mole nos seus pés. Um som de carne no chão, uma matéria viva que se desenrola, se enroscando nas pernas do velho Peixoto. Presas de agulhas finas, pingando veneno.
Ô pulo grande da peste!
De uma coisa, seu Peixoto não gostava nesta vida e era de cobra.
A jararaca de meio metro se armou para o bote.
O velho Peixoto nunca vira bote de cobra, não havia tempo para tal. Bastava haver uma cobra num raio próximo e ele já a pressentia, era o suficiente para já sair rapidinho. Rapidinho é o modo de dizer, porque na verdade ele era mais rápido que a pronúncia da palavra já!
E estava longe.

6) E não pára não!
Deu um pulo para trás e berrou pela filha.
Era o dia de juízo final, outra cobra, desta vez era uma chocalhante cascavel que caía atrás das suas costas.
Pulou de banda aumentando o grito.
Mas não teve tempo para mais outro grito, uma cobra preta, destas gosmentas, caía com seu corpo gelado, no pescoço do coitado.
Aí não teve jeito, o velho, sem saber como, deu um salto que cobriu toda a escadaria. Caiu no jardim, no único lado que pensava estar livre de cobras.
Quando eu digo caiu, também não pára por aí. Sem catar as chinelas currulepes que se soltara dos pés, nem dando tempo de se livrar das topadas, o seu Peixoto queimou os pneus da sola dos pés na maior aceleração que tive notícia até hoje.
Parecia um avião tomando rumo para voar.

7) Um bólide acelerado -
A aceleração era tal que chegou a levantar poeira. E o coitado, ainda de pijamas, arregaçando as pernas da calça para se livrar de supostas cobras, saiu atropelando roseiral, pés de margarida, cravos e moita de jasmineiro. Não respeitou nem a horta de alfaces e os pés de coentro. Saiu por lá, esmagando tomates na sua tropelaria pelo mato adentro.
Eita velho para ter disposição.
Sumiu.
Num instantinho ele desapareceu de porteira a fora, sem saber como conseguia a façanha de abrir cadeados num piscar d’olhos.
Quando a filha chegou à calçada só encontrou as três cobras assustadas que procuravam se esconder daquela confusão toda. As cobras rastejando e o pai correndo a mais de mil.
A cena quase lhe faz rir da situação, mas logo ouviu uma voz:

8) O rapto da sabina -
- Ramo! Reimundo mandô eu vim ti buscá. Ligêro! Ramo!
Carolina olhou para os lados, não viu Sá Santana. O pai se afastava veloz.
Suspirou, agarrou a mão do rapaz e correu na direção da porteira. Entraram num algodoal a tempo de ver o Velho Peixoto, ainda arregaçando as pernas da calça, correndo no rumo da várzea onde estava Zé Amâncio.
Os dois foram na direção contrária e meia légua depois, por trás de um serrote, pegaram duas montarias e rumaram na direção da baixa Dantas ao encontro do pretendente.

9) Estava no alvo, mas a mão do cão desviou -
Zé Amâncio se concentra na rolinha que pousa no galho seco da espera, fecha um olho e acerta, atentamente, com a respiração presa, a sua pontaria.

Homem, o velho Peixoto chegou mais rápido que todos os avisos.
Literalmente passou por cima do caçador, que rolou na beirada da poça d’água e afundou na lama. Quem visse Zé de longe, parecia uma cena da segunda guerra mundial: um submarino japonês procurando americano, cujo periscópio era a espingarda enfiada ao seu lado, no fundo lamacento da poça.
- O que é isto seu Peixoto? - Zé gritou assustado com o inesperado que o atingira.
- Num é nada seu fio duma égua! Eu só tô fazendo uns exercícios que o médico mandou eu fazer. - O velho Peixoto respondeu ao dar fé do ridículo que fazia, mais de meia légua da sua casa, correndo como uma burra com medo de carga.
Voltou dizendo todos os palavrões que conhecia desde que nascera há 70 anos atrás. E olhe que em matéria de palavrão ele aprendeu foi muito. Mas a lista não foi suficiente para o que ele tirou de um canto escondido ao descobrir o rapto da filha.
Ô desgosto medonho, pois o pior é que não podia contar para ninguém como é que havia acontecido.
A bem da verdade a repetição desta história nem faria bem para a imagem do velho Peixoto e nem era boa de se recordar.

10) A recompensa.
Bom, quanto ao dinheiro que estava nas mãos de seu Manoel de Souza Braga, não é necessário dizer que João de Barros embolsou todinho e foi logo avisando:
- Se os Peixoto suberim que foi eu, vô dizê de queim foi o din-eiro e queim mim pagô.

Transparência - Por: José Nilton Mariano Saraiva

Como a transparecia é condição “sine qua non” à atividade pública, os que tiverem a iniciativa de acessar o site do Governo Federal encontrarão pormenorizadas e preciosas informações sobre as transferências/repasses efetuadas pelo Governo Federal (mês a mês), contemplando todos os 5565 municípios dos 27 estados da federação (da portentosa prefeitura de São Paulo/SP à minúscula prefeitura de Itaitinga/CE), com o detalhamento das destinações respectivas (por área, por ação e/ou aquelas pagas diretamente ao cidadão).
Se nos adstringirmos ao Crato, por exemplo, poderemos constatar que até o mês de março/2010 (última posição disponível), o município já foi aquinhoado este ano com transferências/repasses do Governo Federal da ordem de R$ 21.104.202,23 (janeiro: R$ 7.144.721,02; fevereiro: R$ 6.653.042,00 e março: 7.306.439,21), representativos de 1.218% dos recursos totais disponibilizados. Os valores repassados contemplam a Saúde, Assistência Social, Educação, Encargos Especiais, Organização Agrária, Bolsa Família e por aí vai.
Como um todo, o total destinado ao Estado do Ceará foi de R$ 2.695.892.336,75, dos quais nada menos que R$ 1.732.839.794,91 direcionados aos seus 184 municípios.
E atentem para o detalhe: o grau de minuciosidade é tanto que, dispostos em exatas 1020 (mil e vinte) páginas estão listados - UM A UM - os 15.292 cratenses beneficiários do programa Bolsa Família, com os respectivos e variáveis valores percebidos. Você conhece:
Antonia Félix dos Santos -CPF 16000295635 – pág. 89 – que recebe R$ 270,00);
Delcarlos Clemente dos Santos-CPF 12585262458- pág. 211, que recebe R$ 402,00;
Jacinta Tiodoro Rodrigues-CPF: 16255741967- pág.406, que recebe R$ 336,00);
Maria Risalva Machado-CPF: 16051617397, pág. 798, que recebe R$ 204,00) ou
Virgínia Nogueira Nobre-CPF: 20966966184, pág. 1012, que recebe R$ 204,00) ???
Pois é, são todos residentes no Crato e beneficiários do Bolsa Família.
Na área da “saúde”, por exemplo, estão lá disponibilizados tanto os valores destinados a intervenções de alta complexidade como para os direcionados a intervenções rotineiras, do dia-a-dia.
Isso tem nome: transparência.

Ora, pílulas !


"Tudo está fluindo.
O homem está em permanente reconstrução; por isso é livre : liberdade é o direito de transformar-se."
(Lauro de Oliveira Lima)



O desenvolvimento de uma Indústria Farmacêutica, a partir do fim do Século XIX, trouxe um impacto enorme no tratamento de patologias várias e na melhoria significativa da qualidade e esperança de vida. O seu nascimento coincide com o exato momento em que a Medicina começou a se afastar do empirismo do encantamento, dos fluidos e humores e vestiu-se de uma couraça científica. A partir deste momento, singrou mares nunca dantes navegados. Hoje contamos com um arsenal terapêutico e diagnóstico capaz de fazer a humanidade viver saudável e produtiva por pelo menos mais quarenta anos. A Imaginologia, os Transplantes, as Cirurgias minimamente invasivas, a cirurgia robótica, a Inseminação Artificial, a Fecundação In vitro, a Clonagem, o Mapeamento Genético levariam qualquer esculápio novecentista a ficar de queixo caído. Poucos avanços médicos, no entanto, tiveram tanto impacto na vida e costumes da humanidade como aquele acontecido em Junho de 1960, há exatos 50 anos.
Desde épocas imemoriais, tentaram os estudiosos controlar os meios de reprodução. Os Egípcios já descreviam alguns métodos de barreira utilizando perigosamente excremento de crocodilo e emplastros vegetais, no sentido de evitar a gravidez. As preocupações com o superpovoamento da terra já azucrinavam estudiosos como Malthus , no início do Século XIX, preocupados com o crescimento desordenado da população, bem acima da produção de alimentos. Um dos mais populares métodos anticoncepcionais teve sua popularização justamente neste período: a Camisinha. Feita com pele ou tripas de animais, aperfeiçoou-se sobremaneira após a descoberta da vulcanização da borracha , nos meados dos novecentos. Em 1870, um alemão, o Dr. Mansiga inventou o Diafragma. Estes métodos seminais foram uma crescente exigência da sociedade européia, em intenso processo de urbanização, em plena Revolução Industrial.
Mais uma vez devemos à combatividade de duas mulheres a busca incessante pelo controle da natalidade. A escocesa Marie Charlotte Stopes , no início do Século XX, escreveu um primeiro Guia de planejamento Familiar e fundou, com o esposo, a primeira Clínica dedicada ao Controle da Natalidade, aí pelos anos 20, no Reino Unido. Não menos combativa, a norte-americana Margaret Sanger fundou, na mesma época, uma Clínica idêntica em Nova York e também a Liga de controle da Natalidade. Sanger teve a Clínica fechada por duas vezes e freqüentou os porões de algumas cadeias. Deve-se à tenacidade de Sanger a busca por um contraceptivo oral barato, após contactar o cientista George Pincus que se uniu aos doutores Chang e Rock e estudando profundamente a ação dos hormônios femininos, desenvolveram a primeira pílula anticoncepcional , aprovada pelo FDA , no histórico 23 de junho de 1960. No Brasil, a pílula aqui aportou em 1962 e nunca mais Pindorama foi o mesmo.
A pílula surgiu , como num alinhamento de planetas, em plenos anos 60, junto com mudanças que avassalaram definitivamente a face da terra. Os Movimentos Hippi e Beat, o Feminismo, os Beatles, a Revolução Cubana, a explosão mundial do Rock, as revoltas estudantis de Paris, a Ditadura Militar, Woodstock. A partir daquele momento, o corpo voltou-se para o hedonístico e fugiu do meramente reprodutivo. As mulheres puderam partir para o mercado de trabalho, buscando caminhos próprios. Abandonaram definitivamente o guarda-chuva masculino. O Bíblico “Crescei e Multiplicai !” transformou-se , rapidamente, no “Controlai e Trabalhai !”. E mais: o controle da reprodução levou o sexo feminino a uma liberdade sexual até então inimaginável, as donzelas puderam por fim provar de todas os frutos da árvore do bem e do mal. Amarras religiosas, éticas, morais se esfaceram como que por encanto. O Sexo deixou de ser uma exclusividade do casamento e das contravenções amorosas. A Lua de Mel antecipou-se do matrimônio para os primeiros namoricos. As famílias minguaram de tamanho e já há casais que simplesmente optam por nunca ter filhos, decisão que enlouqueceria qualquer patriarca bíblico. Minorias, que até então viviam sufocados em seus armários, arrebentaram as portas e gavetas na certeza que a felicidade deve ser perseguida por todos. Casamentos se dissolvem quando naturalmente acabam ,quando vencem seu prazo de validade, ninguém mais pode ser condenado às galés perpétuas.
Este é um mundo melhor ? Certamente que sim ! Claro que existem novas armadilhas, novos abismos nas novas veredas que a humanidade trilha nestes novos tempos. Neste momento, no entanto, mais que nunca em toda a história do homem, exercemos o direito sagrado de tropeçar, cair e muitas vezes saltar escarpa abaixo. A vida , afinal, é este pantanal cheio de escolhos e escolhas. Estamos em permanente reconstrução, ora pílulas !
J. Flávio Vieira

E os cobras, onde estão? – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Dedicado ao primo e amigo José Flávio Pinheiro Vieira
Não faz muito tempo que as cidades do Cariri não tinham uma universidade. Muitos cratenses, por falta de recursos, não conseguiram concluir um curso superior por não existir na região aquele que correspondesse à opção desejada. Outros concluíam os cursos de Economia e Direito, ou os de formação para professores até então existentes no Crato, como História, Letras, Geografia e Ciências. Para os pais era um sacrifício incalculável manter os filhos estudando em um grande centro. Muitas famílias cratenses foram forçadas a migrar do Crato para Recife, Salvador, Natal, Fortaleza, João Pessoa e outros centros universitários para acompanharem os filhos que para lá seguiam, a fim de obterem uma formação profissional. Isso representava um grande prejuízo para a região, que se empobrecia com a partida de preciosos valores humanos.

O professor Manoel Batista Vieira, carinhosamente conhecido por Vieirinha por todos os cratenses, fazia parte da linha de frente de excelentes mestres que consagraram o Crato como cidade pioneira na educação no interior do Estado e centro cultural do sertão nordestino. Durante muitos anos ele lecionou latim e português em vários colégios do Crato.

A história a seguir me foi narrada pelo primo e cunhado Huberto Esmeraldo Cabral e confirmada pelo filho do Professor Vieirinha, o médico José Flávio Pinheiro Vieira.

Quando os filhos do velho Vieirinha precisaram ingressar na universidade, ele decidiu acompanhá-los. Requereu a aposentadoria e mudou-se para capital pernambucana.

Para o professor Vieira, homem afeito às coisas do sertão, acostumar-se a viver numa grande cidade foi uma dificuldade indescritível. Sua vida ali, no meio de tantos rostos estranhos, fazia com que para ele, os dias se arrastassem como se fossem séculos. Até que um dia, viu um aviso para seleção de professor de português para um colégio da rede pública. Após muito matutar, e incentivado pelo amigo Monsenhor Rubens Lócio, resolveu se inscrever. Ao chegar à mesa de inscrição, a funcionária perguntou de onde ele era e se possuía experiência como professor. Ele mostrou toda a documentação comprobatória, afirmando que era cearense de Várzea Alegre e lecionara por alguns anos nos colégios do Crato, conforme ela poderia observar em sua documentação. Ao verificar que ele era do interior cearense, a funcionária encheu-se de superioridade e desejando intimidá-lo perguntou: “O senhor vai ter coragem de se inscrever? Aqui só tem cobra!” E o professor Vieirinha respondeu: “É moça, não custa nada “os minhocas” enfrentarem ‘os cobras’.” As palavras daquela funcionaria encheram de brios o professor Vieira, que fez uma revisão apurada de todo latim e português, que havia aprendido em anos de estudos no Seminário do Crato e no Seminário Maior de Fortaleza, onde concluíra teologia.

Após prestar as provas exigidas pelo concurso, no dia marcado para divulgação do resultado, o professor Vieira voltou ao local onde fizera a inscrição e procurou a mesma funcionária. Ela começou a consultar a lista dos aprovados, procurando encontrar o nome dele de baixo para cima. E ele observava: “Olhe mais em cima, moça”. E ela continuava olhando os nomes em ordem decrescente. Quando já percorria a metade da folha, ela lhe disse: “É, parece que o senhor não passou!” E o nosso Vieirinha insistia: “Mas moça, olhe mais em cima, por favor. Bem mais em cima!” Ela, a contragosto, obedeceu, até que chegou ao topo da lista. E tomada de grande surpresa, exclamou: “Puxa! O senhor foi aprovado em primeiro lugar!” E nosso Vieirinha com a humildade e misto de bom humor que lhe eram característicos, perguntou: “Moça, e os cobras onde estão?”

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

o gari verde




O gari verde

O gari verde não madura nunca
Para que a sua dor não se perceba.
Empurra o seu carrinho com a cacunda,
Empurra a dor adunca da limpeza

Com a vassoura e o ancinho da desgraça.
Ninguém vê o gari verde sofrendo,
Gemendo como se fizesse graça.
O gari vai da Praia de Iracema

À Volta da Jurema se apagando.
A calça curta verde, as meias verdes
Com a camisa azul-e-verde vão

Compondo a imagem do gari doendo
Por onde passa, para a Fortaleza
Bela brilhar ao sol como as palmeiras.

__________

Em 9 de maio de 1895 nascia Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira - muito dele e um taquinho meu.

Dos engenhos da minha terra
só os nomes fazem sonhar:

- Esperança!
- Estrela-d´Alva!
- Flor do Bosque!
- Bom Mirar!

Ascenso Ferreira era poeta da declamação. Como nossos cantadores, os versejadores dos poemas de cordel. Assim como Patativa do Assaré. Como temos falta da declamação, quem sabe um violão ou um piano. Numa noite de espíritos, como uma vez, para minha total e acho que merecido atendimento das necessidades. Em Luanda, Angola, a embaixatriz nos levou para um recital num antigo casarão português, no segundo andar com piso de madeira e bar por cenário. Janelões naquele clima bem nordestino, aberto para o mesmo oceano Atlântico.

Mestre Carlos, rei dos mestres,
Aprendeu sem se ensinar...
- Ele reina no fogo!
- Ele reina na água!
- Ele reina no ar!

Quando o verso se presta para a voz, lembre de Ascenso Ferreira, não feito uma técnica de Jogral, mas como um canto de tudo que completava aquele poeta.

Sertão! – Jatobá!
Sertão – Cabrobó!
- Cabrobó!
- Ouricuri!
- Exu!
- Exu!

Poesia não é um modo escrever, é a vida como ela se escreve. O poeta nordestino que sabia dizer:

Ai! Que saudade dos bêbados de fim de feira
dos interessantes bêbados de fim de feira
que o imposto de consumo afugentou!
......
- Patrão; eu sô é home!
não arrespeito outoridade....

- Bote uma bicada mode esquentá o frio!
- Bote uma bicada mode esquentá o calo!

O poeta da irreverência a quebrar os cristais dos salões:

Eu vi o Gênio da Raça!!!

(Aposto como vocês estão pensando que eu vou falar de Rui Barbosa)

Qual!
O Gênio da Raça que eu vi
foi aquela mulatinha chocolate,
fazendo o passo do siricongado
na terça-feira de carnaval!

E qual coisa é mais preciso para nós nesta terra?

“Branquinha”,
“Branquinha”,
É suco de cana
Pouquinho – é rainha,
Muitão – é tirana.

Vejam este poema o qual Ascenso nomeou Nordeste:

O ferreiro malhando no topo das baraúnas.
Nas lombadas da serra o sol é de lascar...
Nem uma folha só fazendo movimento!...

- Nana! Ô Nana!
- Inhor!
- Chega me abana...

Pouco a pouco porém, vem vindo um frio lento
trazido pelas mãos de moça do luar...

Que gozo nos coqueiros acarinhados pelo vento!...

- Nana! Ô Nana!
- Inhor!
- Chega me esquentar....

E conheces o TREM DE ALAGOAS: Vou danado pra Catende,/ vou danado pra Catende,/ vou danado pra Catende,/ com vontade de chegar....Cana-caiana,/ can-roxa,/ cana-fita,/ cada qual a mais bonita,/ todas boas de chupar...E esta que tanta gente repete até como de outros autores, intitulada GAUCHO: Riscando os cavalos!/ Tinindo as esporas!/ Través das cochilas!/ Saí de meus pagos em louca arrancada!/ - Para quê?/ - Pra nada!/ E este ÊXTASE? Emana do teu ser tão grande calma, / um langor tão suave, expressivo, profundo,/ que tenho a sensação virgem de que minh´alma,/ desgarrada de mim, anda solta no mundo./ Vejam como o poeta é crônica, como esta A COPA DO MUNDO: No meio daquela confusão toda/ De rádios berrando,/ Fogos pipocando,/ Bêbados Cantando!/ Maria embocou pela porta de Chico Tenório adentro,/ Do qual se encontrava lha muito tempo of-side,/ E exclamou alucinada: - Chiquinho, meu bem,/ O Brasil ganhou a Copa do Mundo,/ Vamos também fazer nosso goal, meu amor!

Vestidos de Mar

Que segredos nos conta o vento?
Que música nos canta o mar?
Lembranças de beijos
Lembranças do sabor e das cores do beijo

De mar vestidos
De mar desnudos
Mergulhamos no verde-azul
De beijos e carícias

O sol queimou nossas peles
O mar banhou nossos corpos
O vento soprou segredos...
E a terra acolheu nossos desejos.

Beijo-bálsamo salpicado na minha asa ferida,
Mulher-pássaro que sou
Nascida para voar
Nas sacras águas da vida
(StelaSiebraBrito)

Pensamento para o Dia 04/06/2010


“As pessoas dizem: "Serviço ao homem é serviço a Deus". Sem dúvida, o serviço à humanidade é santo, mas a menos que esteja fundido a um ideal maior, as pessoas não irão se beneficiar dele, não importa quão grande a magnitude do serviço. Você deve ter fé na divindade essencial de cada pessoa e ter o Senhor em sua mente. Se você também aderir ao caminho da Verdade e da Conduta Correta, então ele será considerado como serviço ao Senhor. Mera repetição do slogan é inútil, se o serviço é feito sem a fé na Divindade que está em tudo, e com um olho no nome, na fama e nos frutos de sua ação.”
Sathya Sai Baba

Expocrato - Uma visão goela abaixo.


Estamos no ano de 2010. Os tempo evoluíram tanto que não sabemos direito o que nos vem pela frente. A cada minuto temos a sensação que o segundo que passou já está obsoleto. Tudo é ultrapassado, as novidades não são mais ditas, são observadas e descobertas a cada instante. Em um mundo midiático, guiado para você, funcionando de acordo com as suas preferências (ah se fosse realmente assim!), gostos e ideologias, vem ainda muitas sensações de engolir a seco. Você vive frequentando lugares e vivendo de acordo com o que te faz bem. É a democracia da escolha, do gosto, da sensação de prazer. Será que a nossa constante insistência em viver é obsoleta? Será que temos realmente que admitir que estamos ultrapassados? que temos que pendurar as chuteiras e deixarmos de ser ranzinzas?
As últimas versões da Expocrato, há cerca de 10 anos, vem me dando essa sensação. Engulo à seco e choro intimamente quando tenho o desprazer de ver a programação musical dessa festa que acontece exatamente no Cariri, região cantada, versada e dita como expoente da cultura do nosso país. Nessa festa que tomou rumos e proporções inacreditáveis. Nesse evento que traz para todo o caririense a sensação de unidade, de sentir a alegria de que ser dessa região é ser feliz, e que, ainda, temos orgulho de receber os turistas, seja em hotéis e pousadas, que ainda são poucos para o evento, seja nas nossas casas, que se abrem impressionantemente para receber os nossos familiares e convidados. Mas a festa cotinua e a farra com as nossas emoções e nossos princípios culturais anda à solta. Marcada pela imposição goela abaixo de quem faz a programação musical da expocrato e desfaz os nossos gostos, as nossas preferências e ditatoriamente diz: "Não! Você tem que ver e ouvir o que nós queremos, e tem mais, vai pagar caro por isso!". "We don't need no education". Nós não precisamos de educação. Nós não precisamos ser controlados. Nós queremos é ter acesso e direito aos nossos direitos. Nós queremos música de verdade, diversão e arte. Não nos interessa seus cofres cheios e os nossos bolsos secos. Não nos interessa a sua ignorância inconsequente. Precisamos e queremos sim, a nossa alma e o nosso coração vivos e felizes por ser parte da história viva da região do Cariri, e por sermos disseminadores de tudo isso, por esse mundo afora.
Descruzemos os braços. Façamos a nossa parte. Vamos nessa Cariri!

CLIQUE - Por Edilma Rocha

Foto by Edikma Rocha

Dicas para um bom começo de dia


Quem nunca ouviu dizer que o café da manhã é a refeição mais importante do dia? Pois é, isso porque a noite é o período em que nós ficamos sem nos alimentarmos por aproximadamente 8 a 10 horas, então porque não “perdermos” alguns minutos antes de sairmos de casa para trabalharmos ou ir a escola, 15 minutos é o suficiente.

É interessante como nos sentimos bem melhor depois que nos alimentamos após um jejum de tantas horas, eu mesma já fiz o teste, as vezes acordamos indispostos nos sentindo sem energia para enfrentarmos o dia que normalmente não é nada fácil para todos nós. E ao colocar algum alimento na boca já me senti melhor, é verdade, preste atenção vocês também, como é interessante melhoramos automaticamente.

Bom na verdade eu sou suspeita para falar, porque o café-da-manhã é a refeição do dia que eu mais gosto, tenho que admitir que as guloseimas do café-da-manhã me deixam com água na boca, pães salgados, pães doces, iogurtes, torradas, geléias, sucos… nossa que coisa boa que é tomar um bom café-da-manhã. E não pensem que faço isso simplesmente porque é importante para a saúde, o café-da-manhã chega a ser um ritual, e posso garantir que esses 15 minutos a menos de sono valem a pena, e pode parecer mentira, mas o café-da-manhã aumenta suas chances de começar bem o dia.

Essa é uma boa dica para quem acorda de manhã de mau humor ou cansado, faça o teste e veja que o café-da-manhã pode ajudar e muito.


Boas dicas...

O café da manhã deve receber muita atenção já que é a primeira refeição do dia. Após uma longa noite de sono, nosso organismo necessita de energia logo pela manhã para nos manter ativos e com disposição ao longo do dia.

Pão branco ou pão integral?

37% dos participantes da enquete consomem pão branco, enquanto que 20% consomem a versão integral.

O pão integral garante mais energia, já que é um tipo de carboidrato complexo, ou seja, a glicose cai lentamente na corrente sanguínea mantendo constante a glicemia; além de auxiliar no funcionamento do intestino por conter fibras solúveis e insolúveis. Pra quem está de dieta, opte pelo pão integral (1 fatia tem em média 70 calorias) ou, se não está habituado, comece intercalando com o pão branco (pão francês tem em média 134 calorias).

E as torradas? Com 14% dos votos, é uma outra opção que você pode estar colocando no seu café da manhã. Também possui a versão integral, que é mais saudável. Duas torradas fornecem em média 50 calorias.

Mel, margarina ou geleia?

39% utilizam a margarina, enquanto que apenas 2% preferem mel e 2% a geleia. A margarina é calórica e rica em gordura, opte sempre pela versão light e fique de olho nas informações nutricionais para fazer a melhor escolha. O mel também é calórico (1 colher de sobremesa tem em média 30 calorias) mas é mais saudável que a margarina. Fornece energia e alguns nutrientes; pode estar colocando no pão, na torrada ou em frutas. A geleia é uma alternativa para fugir da rotina: pão com margarina. Geleias naturais são mais indicadas para quem está de dieta.

Açúcar ou adoçante?

O açúcar ficou com 31% dos votos contra 12% do adoçante. Para uma pessoa saudável, o ideal é consumir pequena quantidade de açúcar; o adoçante é mais indicado para quadros de diabetes.


Cereais, doces ou frutas?

22% consomem cereais no café da manhã, 14% doces e 18% frutas. Cereais e frutas são as melhores escolhas quando o assunto é alimentação saudável e equilibrada. Juntos, fornecem vitaminas, minerais e fibras essenciais ao bom funcionamento do organismo. Já os doces (ex.: biscoitos), pode optar pela versão integral mas o consumo deve ser moderado.

Iogurte, suco e shake

Para quem gosta de iogurte no café da manhã, pode estar acrescentando 1 colher de sobremesa de granola ou aveia para deixar mais saboroso e nutritivo. Sucos são boas opções, desde que sejam naturais e, de preferência, sem adoçar. Em relação ao shake, não é aconselhável consumir se for substituir alguma refeição. Pesquisas comprovam: quem faz um bom café da manhã sente menos fome durante o dia. O shake é uma espécie de "engana estômago". Ao pular uma das principais refeições do dia, logo o desejo de comer é descontado na próxima refeição, seja no lanche ou no almoço.


Capriche no café da manhã!

http://nutrimaisvida.blogspot.com/2010/02/resultado-da-enquete-o-que-sempre-tem.html