Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Por João Nicodemos

Beijo - por Socorro Moreira


Foco num beijo.
Vento carrega os meus , e sai por aí, beijando folhas,
que a sua força ,forte ou suave , deixou cair.
Beijo e suspiro combinam com a surpresa do carinho expresso...
É como um café, que a gente beberica,
e deixa na boca um gostinho de céu.
Beijo é remédio leve , sem tarja preta.
Ansiolítico do corpo e da alma.
Beijo está na pele
de quem levou uma pancada da brisa.

Proposições sobre o provável beijo leve - Por Rejane Gonçalves

Se eu fosse contar, começaria por admitir que o fato, supondo-se que tenha ocorrido, deu-se no momento em que o tempo pressente que oscila, por estar apoiado na separação dos dois pés.
Um, já fletido, calcanhar elevado, pronto para o deslocamento, aguarda tão somente que a parte dianteira, aquela que o complementa, alteie-se. Ela reluta em obedecer; não que desdenhe enquadrar-se na tal simetria, talvez porque haja um compromisso mais premente que a obrigue a manter os cinco dedos fincados no chão. O outro, em total retesamento, depende, para plantar-se na terra, da ajuda desse pé arqueado que, amparando-se na própria curvatura, à equidistância de um passo, permitirá ao equilíbrio uma sobrevida razoável, da qual dependerá a completude do movimento. Dentro dessa perspectiva do tecer-se, do não fazer-se ainda, da hesitação dessa hora de passagem, em que a luz começa a vestir-se, igualando-se a lâmina da faca posta com relutância na bainha, e a sombra principia a desnudar-se, preguiçosa, calma, peça por peça, pode ser que eu quase não tenha sentido – no ponto onde termina a carne mais arredondada do braço e onde se projeta a iniciação da carne que dará feitura ao ombro – um leve roçar de lábios, pouso suave de um louva-a-deus.
Passava da sala de jantar para o corredor e devo ter ficado à mercê das correntes de ar que se espremem pelos postigos das janelas, esses olhos que devassam e resguardam minha casa. Ao passar por eles, uma dessas correntes pode ter perdido força, começado a diluir-se, expirando-se, o último suspiro a se desvanecer, parte no meu braço, parte no meu ombro; mas, no jardim, o verde das folhas imóveis, o cheiro estagnado das flores pregadas às plantas, qual inseto absolutamente estático sob o feitiço do olhar de algum predador, diriam, indignados, que não.
Posso ter cruzado com ele, o homem, que estaria provavelmente indo da sala de jantar para a cozinha, teria mesmo visto quando passou muito rápido por mim, mas, nesse caso, se é certo que o vi, é de se esperar que eu tenha percebido alguma inclinação desse vulto, a cabeça abaixando-se, a boca sobressaindo-se, os lábios apontados, o dardo certeiro em direção ao ponto de encontro entre o meu braço e o meu ombro. Deslocara-se ereta a silhueta, me confirmaria o desassossego do olhar, em busca desse homem, num vai e vem do centro do olho para um dos lados que, a bem da verdade, não saberia precisar se esquerdo ou direito.
A imprecisão, eu lhes asseguro, não demonstra ser uma boa alternativa para quem pretende se aventurar a descrever quaisquer coisas, estejam em que tempo e espaço estiverem. Insidiosa, vaga, traiçoeira, ela nos amortalha os sentidos. Diferente da dubiedade que bifurca os caminhos, a imprecisão apenas os torna baços, e enxergar através de volutas de fumaça, convenhamos, não permite aos olhos cumprir plenamente a missão que lhes foi outorgada pelo cérebro; fica-se pela metade e a essência poderá, de última hora, passar da metade percebida para a encoberta. Os senhores me desafiariam presunçosos: e o tato? Digo que, aos cegos, o tato também não prestaria um bom serviço; a sujidade desses planos embaçados criará microrganismos na tessitura da pele que as palmas das mãos identificariam de pronto como corpos estranhos, o que pode acarretar um desvio considerável nos trâmites da mensagem, da qual foram encarregadas. Para que serve enfim a imprecisão, senhores?
Passara a tarde lendo, ao levantar-me da cadeira o fiz, ou pelo menos creio que o fiz, presa de uma espécie de sonambulismo que acomete aos que lêem quase ininterruptamente. Ainda sob o domínio do que acabara de ler, preferindo a inteireza da ação passada àquela do presente, tempo movediço em constante busca da completude; assim, mal-devolvida ao agora, torno-me, por enquanto, um zumbi. Daí me locomover desatenta, embriagada, quando gostaria de dizer, embevecida. Retornar a esse mundo de onde saí há bem pouco tempo, talvez se fizesse necessário à minha incapacidade de dar existência a certas sensações. Quem sabe eu não teria sentido o que de fato sentiu a moça, que servia bebida aos hóspedes de uma estalagem do século doze ou treze, quando ao passar de uma mesa à outra, a timidez de um cavalheiro pousou os lábios no tosco tecido da manga que escondia o braço e o ombro dessa filha de estalajadeiro. Nada impediria que, chegando ao balcão, ao invés de pegar outra bilha de vinho, ela tenha deitado os olhos sobre a manga do vestido, para saber se de fato acontecera, ou fora vítima do último açoite de uma corrente de ar. Aquele homem, ao qual já me referi e cujo vulto eu posso realmente ter visto, vai me dizer para abandonar todas as hipóteses. Bandear-me de vez para o lado seguro e cômodo do sim ou do não; e me aconselhará que à noite, nas minhas orações, eu me ajoelhe e mais que pedir a Deus, devo intimá-Lo a que me livre para sempre das imprecisões, caso não seja atendida, adote a postura do louva-a-deus; pois, quem assim não O comoveria?
Alertada por esse tal homem, cuja refutável presença confunde-me os sentidos, volto, sem muita convicção, ao louva-a-deus. Admito que fiz uso do louva-a-deus por causa do quanto é leve um louva-a-deus, por causa da suposta leveza de sua figura, mas, pensando bem, pode ter-se infiltrado no meu espírito, de uma forma inconsciente, passado como num vulto pelo meus olhos, a imagem das patas dianteiras desse inseto a lembrar mãos postas em devotada prece, sempre que ele pousa em quaisquer lugares que sejam. Pergunto, pois, aos senhores se reza ou não reza o louva-adeus. Seria ou não o beijo leve uma forma qualquer de oração, ou, pelo menos, uma passagem sutil do humano ao divino, ou o que chegaria mais perto disso, por assim dizer, a mais eficiente forma de camuflagem, levando-se em conta o fato de ele estar passando de uma coisa para a outra, sem nunca aportar. Seria o nosso enganador por excelência? Talvez venha mesmo a ser. Diz-me a carne descoberta, no ponto de encontro entre o braço e o ombro, que não. Ainda não seria essa a questão.
Aos senhores, confortavelmente acomodados em suas cadeiras, eu ousaria perguntar:
─ Qual, então?
─ A questão não é essa, nem aquela outra, nem nenhuma outra que, desde o começo, quiseste passar. A questão não seria tampouco o quanto é leve ou supostamente leve um louva-a-deus, se reza ou não reza o louva-a-deus e sim o que reza, deveras, o louva-a-deus. A questão não é quem ou o que foi responsável pela tal sensação, em uma parte qualquer de teu corpo, se eu ou o último suspiro de uma corrente de ar que arrancaste intencionalmente do jardim, mas sim, se eu estava, deveras, dentro dessa corrente de ar. Percebeste? Tua argumentação, tens de reconhecer, partiu da premissa errada. Se tiveres um pouco que seja de bom senso, um mínimo de respeito por nós dois, desentortarás o ângulo de tua equivocada perspectiva, que muito nos prejudicou: a mim e ao louva-a-deus. Melhor seria que nos tivesse matado na primeira linha, ou feito tentativas reais nesse sentido. Mata-se ou procura-se matar o que, ou aquele que tem vida, existe, em algum tempo ou lugar existiu, foi, é. Ao longo de toda essa inútil preleção nos camuflaste, éramos sempre os que estavam passando de um fato a outro, sem nunca aportar, deveras, num ou noutro. Todo o tempo nos enganaste, fomos sempre aqueles, dos quais não sabias se tinhas ou não certeza.
─ Senhores, por que o alvoroço? Ouçam-me, trata-se apenas de uma primeira resposta, uma réplica solitária, que não me parece, em absoluto, mostrar-se suficiente à uma mudança de foco no conjunto de minha argumentação; contudo, o debate continua aberto e a palavra livre a quaisquer intervenções, mas, se eu fosse recomendar-lhes algum tipo de comportamento no trato deste assunto, pediria para que não se descuidassem da hora de passagem, que se comprometessem a ceder um, basta um, senhores, um, dentre os cinco sentidos, ao mistério, ao imponderável, ao que poderíamos denominar, talvez com alguma propriedade, de rasgos sutis no tecido do tempo. Desse modo, pressuponho que nenhum dos senhores virá a arrepender-se. Depois.


(maio- 20l0)


Vivendo.



Hoje: Caminhei,
Pensei,
duvidei,
vivi,
Missão diária cumprida.

Abertura do Armazém Cultural Bar

Aviso...

Inexplicavelmente, ao acessar o Cariricaturas esta tarde, percebi que o título do Blog aparece em tamanho reduzido e em formato itálico.
Consultei um de nossos administradores e algumas tentativas foram feitas com o intuito de resolver o caso, mas tudo no layout, se modifica menos isso.
Se algum colaborador entender desses problemas (como resolvê-los) por favor comunique-se conosco.
Provisoriamente criei uma logomarca, enquanto os padrões voltam ao normal.
Abraço,
Claude

Recordações - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Lembrando a minha infância me veio à mente como o Crato era uma cidade tranqüila. As ruas eram calçadas com paralelepípedos. Poucos carros transitavam na rua Dr. João Pessoa. que era arborizada com fícus, umas árvores frondosas que já deviam ter uns cinqüenta anos de vida. Uma dessas árvores localizava-se na calçada da casa em que eu morava, sombreava e refrescava a nossa morada do sol causticante.

Na rua Dr. João Pessoa, além das muitas residências, havia também várias lojas de comércio: A Babilônia, Casas Tamoio, Armazém Recife, Elite Foto, de Diomedes Pinheiro, A Pernambucana, todas essas no mesmo quarteirão da minha casa. Num passado mais remoto tinha o Bar e Sorveteria Cairú e, posteriormente quando não existia mais o bar, o local foi ocupado pelo Banco de Crédito Comercial.

Gostava muito do lugar em que eu morava, pois era perto da Praça Juarez Távora, da Igreja de São Vicente Férrer e do Instituto São Vicente Férrer, escola em que estudei a partir dos meus oito anos de idade. Antes, com menos idade, estudei no Externato Cinco de Julho que funcionava no mesmo prédio da Escola Técnica do Comercio do Crato.

O local que eu morava ficava a um quarteirão e meio da Praça Siqueira Campos, portanto perto dos Cinemas Moderno e Cassino. Assistir filmes naquela época era um excelente programa, uma vez que não havia televisão. Hoje a cidade recebe excelentes imagens de televisão, porém não possui mais nenhum cinema, o que é pena...

Com a tranqüilidade da cidade, às vezes, minha mãe me deixava brincar na casa de minhas primas e de algumas amigas que moravam próximo da nossa casa. Permitia que eu fosse assistir a Bênção do Santíssimo no início da noite, realizada pelo Padre Frederico na Igreja de São Vicente. Em poucos segundos chegava lá, pois saía correndo, atravessava a Praça Juarez Távora e logo estava na Igreja.

Numa manhã ensolarada, como eu estava de férias, consegui autorização dos meus pais, para brincar na casa de uma amiga que morava numa rua paralela a João Pessoa. Encontrei a minha amiga chorando muito porque havia rasgado o seu livro e estava com muito medo que a sua mãe brigasse com ela. Queria colar o livro com água e me perguntou se dava certo. Falei que não. Procurei consolá-la e depois fui para casa. Tão logo cheguei, pouco tempo depois, minha amiga veio ainda chorando dizer que sua mãe estava me chamando. Ela me levou até a loja em que sua mãe era proprietária. Fiquei sem entender porque na presença de todos os clientes, ela com muita grosseria, me acusou de ter rasgado o livro da filha e que eu teria que pagar. Nesse dia senti o meu coração de criança dolorido por ter sido injustiçada e humilhada diante de tanta gente. Corri aos prantos para casa. Chegando lá, me dirigi ao consultório de dentista do meu pai, que ficava na sala da frente da nossa casa e, soluçando lhe relatei o ocorrido. Tenho a maior gratidão pela atitude dele que acreditou em mim. Quando meu pai abriu a carteira me entregando o dinheiro para pagar o livro, veio o meu reconhecimento de que sempre tive um pai presente, que dialogava e me apoiava. Com essa atitude, tive a certeza de que sempre poderia contar com ele.

Já estava na calçada para ir deixar o dinheiro, quando a minha amiga se aproximou dizendo que sua mãe já sabia que eu não tinha rasgado o livro, portanto não precisava pagar. Não fiquei com raiva da minha amiga, pois ela estava com tanto medo, que não pensou no que estava fazendo ao me acusar. A atitude da mãe dela de me envergonhar em público me deixou magoada. Colocar uma criança numa situação constrangedora não é bonito. Entretanto, logo tudo foi perdoado e esquecido, pois apesar de ser uma menina, eu percebi que devia agradecer a Deus por ter um pai maravilhoso que na minha primeira aflição, me socorreu e aliviou o meu sofrimento.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Meu Pai - por Ana Cecília S.Bastos




Meu pai
Ao ver o "Nova Colheita", lembrei-me de algumas palavras que nós, seus filhos, escrevemos quando esse jovem professor fez 70 anos – aos 75, ele continua sendo uma das pessoas mais jovens que conheço, por sua inesgotável capacidade de emoção, sonho e encantamento diante da vida.

Naquela ocasião, reeditamos seus "Poeminhas de ainda era uma vez", nos quais ele recorda suas raízes, revivendo cenas e pessoas que lhe povoavam a infância.
São recordações encantadas, cheias de lirismo, e que para mim se misturam a outras que ele me conta, também nostálgicas, sempre delicadas, cheias ora de candura (como os nomes que as coisas tinham no Crato, onde havia biscoitos chamados passa-raiva, ou beijo de moça...), ora de tristeza profunda (como sua lembrança do Adagio no. 3, de Albinoni, que marca o dia em que ele, enquanto olhava crianças a brincar, ouve a notícia da deflagração da Segunda Guerra). Muitos dos versos que constam dos Poemas das Horas Contemplativas, que abrem essa "Nova Colheita," e que selecionei de alguns de seus primeiros livros, foram escritos naqueles anos: é a ânsia do Absoluto, afirmando-se contra o horror da guerra.

Os títulos originais desses livros: "Ramilhetes para Telúricos e Transcendentais"; "Sinfonia Interior"; "Poemas do Sangue e do Amor" são sugestivos desse contraste (essa é a minha interpretação, nunca perguntei a ele...).

No prefácio do "Poeminhas", comemorando os 70 anos do pai, registramos o sentimento que nos tomava então a nós, seus filhos:

É pai tão generoso que, mesmo quando presenteado (ou homenageado, como agora), somos nós os agraciados por sua ternura imensa.

Não existem portos seguros. Há tempestade e calmaria, as praias são provisórias. Mas o pai é tão íntegro, farol perene indicando ser possível chegar, que seguimos viagem, supridos de inesgotável reserva de afeto.

O afeto que o amor desses dois eternos namorados irradiou para nós é nossa herança mais preciosa. Eles sempre foram eternos namorados, indissociavelmente de ser pai e mãe. Nessa unidade, nunca deixava de prevalecer o singular de cada um. Entre ideais comuns, a solidez da fé, as preocupações diferenciadas, as imposições do dia a dia e o mundo dos sonhos, a possibilidade do lúdico e um respeito pela individualidade de cada um, fomos crescendo, sem nunca perder o gosto de viver, de estar juntos, sem desistir de sermos felizes e fiéis a nós mesmos. Muitas vezes, naturalmente, os caminhos parecem estranhos, obscuros – sem um porto seguro... Nas construções pessoais que fazemos, contudo, estão, indeléveis, essas marcas.

Dos dois vem, também, a possibilidade que vários dos filhos temos de transformar vida em palavra escrita – a marca do indelével... Meu pai incluiu no Nova Colheita um outro prefácio – o que ele próprio escreveu para o meu primeiro livro de poemas. Esse prefácio é, sem sombra de dúvida, a página mais bela de meu próprio livro.

Para meu pai – e ele escrevia isso então - a poesia é um fazer para doar. Em suas palavras: Sua essência é de uma interioridade tão íntima, que se teria por incomunicável, mas ao mesmo tempo, é de uma irradiação tão poderosa, que se não contém no universo espiritual de quem por ela é estigmatizado.

Em meu pai, a pessoa e o poeta são indissociáveis. Ele já faz poesia simplesmente ao ser como é; e nele, realmente, o fazer poesia é doar-se. Ele me disse uma vez, um pouco tímido diante da própria necessidade de deixar que aquilo que escreve se irradie: escrever poesia, porque não faz mal a ninguém. Sua poesia, sem rótulos, é feita de delicadeza e integridade. Em mim, muitas vezes essa posse em surdina da poesia é arrogância, auto-suficiência, isolamento, pouco saber. Tenho muito o que aprender desse desapego, dessa forma de liberdade que ele alcança e que generosamente revelava, fazendo para se doar, ao dizer, em seu prefácio ao livro de alguém que ensaiava seus primeiros poemas:

Ser você mesma, com inteira humildade, num mundo violento e esmagador e, ao mesmo tempo, rico em valores e caminhos...

e

Não se trair na poesia, nem trair a poesia, nada recusando daquilo que faz e constitui a dignidade humana.

E mais adiante, sabedoria maior, privilégio reservado a telúricos transcendentais, ele dizia:

O homem, em suas limitações, e o mundo, em sua ordem e em sua desordem, não nos podem satisfazer.

Peregrinar para o Absoluto – é por aí que a nossa indigência se vai superando a si mesma, descobrindo roteiros de crescimento e transfiguração.

Ser ele mesmo, não se trair na poesia, peregrinar para o Absoluto. É isso que esse pai poeta realiza em si próprio... Ele, que é página tão bela, indelével, em nossas vidas.
Salvador, 04 de novembro de 1997.
Ana Cecília

Em: Cariricaturas em Verso e Prosa. Editado por Emerson Monteiro, Socorro Moreira e Claude Bloc, 2010.

Obs.: Aos 88 anos, José Newton Alves de Sousa, meu pai, continua sendo este de quem falam estas palavras.
 por Ana Cecília

Bolo de Iogurte de liquidificador- Fofíssimo !

Ingrediente
- 1 copo de iogurte natural
- 2 copos de farinha de trigo
- 2 copos de açúcar
- 4 ovos inteiros
- 1 colher (sopa) de fermento em pó
- 1/2 copo de óleo

Modo de Preparo
Bata bem todos os ingredientes no liqüidificador,
deixando o fermento por último. Despeje a massa em uma
assadeira redonda, com furo no meio, untada com
manteiga e polvilhada com farinha. Leve ao forno
pré-aquecido, à 180ºC (médio), até assar (ao enfiar no
bolo um palito, ele deve sair limpo).

Observação
- Utilize o copo de iogurte como medida dos outros
ingredientes.

Cyber Cook

Arroz de Polvo





* Ingredientes
* 2 polvos de 750 g
* 2 cebolas grandes sem casca ( uma delas fatiada para o refogado)
* 4 xícaras de chá de arroz  (lavado)
* 1 molho de coentro
* 1 molho de cheiro verde
* 1 dente de alho descascado e cortado
* 2 colheres de sopa de azeite virgem
* 3 Xícaras de água
* 1 xícara de vinho branco
* dois  raminhos de alecrim
* 3 tomates  partidos em 4 pedaços ( sem sementes)

* Modo de Preparo

1. Lave e coloque os polvos na panela de pressão com a cebola inteira descascada, e os raminhos de alecrim.
2. não coloque água, deixe cozinhar por 10 minutos depois que pegar pressão
3. Marque o tempo no relógio para o polvo não ficar duro nem borracha
4. Retire os polvos corte em pequenos pedaços, reserve o caldo do cozimento
5. Doure o dente de alho no azeite, 1 cebola , e refogue o arroz
6. Acrecente o polvo, a água reservada,o vinho, tomates , o cheiro verde e o coentro picados
7. 3 xícaras de água fervendo
8. Deixe em fogo alto até ferver depois tampe a panela e deixe secar como arroz comum

Receita anotada , no programa "Dia a Dia" de hoje, com algumas adaptações.
Dica : substituir por camarão, lagosta, lula  ou bacalhau.

Aparição - por Ana Cecília S.Bastos

Impressionada pelas palavras alheias.
Ladra de palavras sem disfarce.
Seria de bom grado escriba,
apenas ecoando palavras alheias,
perdida no silêncio úmido das bibliotecas,
onde o nome da rosa se oculta.

Porque dói ter a minha ideia,
Dizer a palavra que é a minha própria.
Nisso desapareço.

E meu fantasma me assombra.

NO TEMPO DOS GRUPOS ESCOLARES – POR PEDRO ESMERALDO

Hoje, ao passar pelo antigo casarão na Praça da Sé, lembrei- me do velho grupo escolar Teodorico Telles de Quental. Era uma casa alugada provisoriamente pelo governador para dar mais impulsos a favor das crianças, quer de classe média, quer de classe pobre. Era uma escola igualitária, não havia privilégio para nenhum aluno. Todos eram iguais perante a lei.

Naquela época, o inicio das aulas era impreterivelmente ás 7:00 horas da manhã. Não havia folga. Todos os trabalhos eram executados com muito rigor.

A professora tinha por obrigação preparar as suas tarefas com antecedência e apresentar aos alunos com dignidade. O bom aluno aprendia muito e ninguém saia reprovado, se obedecesse rigorosamente o critério de estudo.

Naquele tempo ninguém falava em droga, aliás nem se sabia se existia essa erva. Os vícios que o pessoal adquiria eram de fumar e, por excesso, de bebida alcoólica. Também a violência provocada por excesso de bebida era de arrepiar cabelo. Geralmente nesse Pé de Serra do Crato, em pleno fim de semana, haviam noitadas terríveis, às vezes causando a morte.

A escola ficava localizada na Praça da Sé, na esquina da atual Rua Leandro Bezerra. Era um velho pardieiro, talvez construído no século XIX, que atendia precariamente as exigências dessa escola. A casa era ampla, com vários quartos, também amplos com um terreno espaçoso que abrigava as crianças na hora do recreio. Para mim foi uma ideia maravilhosa, pois gostava de entrar em contato com todas as classes sociais. Só assim observei melhor o comportamento do pessoal de baixa renda.

Em frente ao grupo, observa a grandeza da velha Praça da Sé. Era uma praça desprezada pela prefeitura, talvez porque não haviam recursos suficientes para transformá-la em praça chique e que oferecesse aos bons momentos de lazer.

Após as aulas, principalmente no período da tarde, a maioria dos alunos ia jogar bola sobre a graminha verdejantes da Praça da Sé que dava o nome ( capim de burro). Era um planta nativa, rasteira e que de servia proteção ao solo da erosão pluvial.

Em outros tempos, o governo estadual resolveu construir outra escola mas distante do centro da cidade, com salas amplas, adaptadas para as crianças e adolescentes do ensino médio.

Bem, bons tempos se foram. Hoje em dia, os alunos estudiosos e ansiosos para subir na vida têem que se esforçar para aparecer com muito interesse e conseguir algum lugar de destaque na vida futura.

Crato- CE, 04 de Agosto de 2010.

FORMAÇÃO ROMUALDO: UM MILAGRE PALEONTOLÓGICO

(foto no set de filmagens)

Em fase de finalização o documentário do diretor Jackson Bantim que registra a Formação Romualdo, tesouro de fósseis tridimensionais do Geopark Araripe. A pesquisa e roteiro ficaram por conta do Dr. Antonio Alamo Feitosa, Professor da Universidade Regional do Cariri - URCA.

Fonte: Blogue Bantim Produções

Para Karimai- Por Nívia Uchôa

"O vazio não apaga a dimensão da amizade"



As razões pelas quais escrevo é para falar do grande vazio que nosso amigo, irmão, sociólogo, pintor, desenhista, gravador, escultor, pai e líder espiritual Karimai deixou impregnado em nossas mentes.No entanto, sua voz calma, seus conselhos, seus pássaros, suas cores, seu olhar ainda imprime a sensação de estar entre nós.

Seu semblante de paz, sua ternura, suas estradas, caminhos coloridos, suas gentes transmutam o espírito caloroso de alívio no viver.

Aprendi as cores com Karimai em conversas sobre arte, vida e cotidiano.

Vejo em suas obras a dimensão de ser um ser.

Não olho apenas, mas, vejo o encontro com a eternidade sempre.

Seria impossível fotografar o que ele pintava.



Nívia Uchôa

Vida itinerante de uma bancária - por Socorro Moreira



Capítulo I


16 de Setembro de 1974.
Estou a caminho da cidade Iguatu, para assumir minhas funções de bancária.
Enquanto o trem balança nos trilhos, meu pensamento voa, querendo adivinhar meu novo destino.
Deixei para trás minhas turmas de alunos, e isso me deixa pesarosa. A impressão que sinto é de que nasci para ensinar Matemática. Mas, todos me considerariam louca, se trocasse as vantagens de ser funcionária do Banco do Brasil, por um giz e um apagador. Mesmo assim, sinto que a minha vocação natural foi contrariada.
O trem é um meio de transporte lento... Passa estrada, passa casa, passam lembranças e sentimentos. André Caio e Victor ficaram na companhia da minha mãe, do meu pai, e do pai. Só  irei revê-los, no final de semana... Uma dor estranha de irresponsabilidade materna, me oprime.
E lá cheguei. Estava em companhia de Aldenir Silvestre, Anderson Xenofonte, Rafael, cratenses, do meu concurso, que também assumiram na mesma Agência.
Atravessei a ponte do rio  Salgado que margeia a cidade. Chegamos, na terra dos sapos.
Apresentei-me ao Sub-Gerente, e fui designada para trabalhar na retaguarda, somando papéis de caixa, e contabilizando partidas de extracaixa.
Importe, era a palavra inicial... Rasguei tanto as primeiras partidas, que pedi ao chefe que descontasse o material estragado, no meu primeiro salário. Até que desarnei, e fui pegando agilidade.
Desde o princípio, sonhei com uma transferência para a cidade do Crato.Um genro de Seu Pierre, que morava em Brasília, foi o intermediário.
A experiência de voltar a dormir num a cama de solteiro foi inesquecível. Comecei a gostar, embora sentisse muita falta da família. Uma mãe mocinha (21 anos) deixa o filho cochilar no peito, mas não consegue segurar o sono. E os meus foram praticamente desmamados naquela época. Voltaram às mamadeiras, salvos pelo carinho dobrado da avó: Dona Valda!
Parecia que o tempo não corria... Comecei a preencher as noites, ensinando Matemática, no quarto pedagógico do Colégio São José. Ensinar é um vício!
Durante o dia sofria o drama das diferenças contábeis. À noite brincava com os números, enquanto ensinava, e assim passaram-se 3 meses. Chegou minha transferência para o Crato.
E essa notícia tão alegremente recebida marcou minha vida.
Fica para o próximo capítulo, meu tempo de trabalho, na Ag. do Banco do Brasil, em Crato!

* Atendendo o pedido de Jair Rolim 

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS

A história que Bisaflor conta hoje foi escria por sua amiga Rachel de Queiroz, e está narrada no livro "Xerimbabo".

BEZERRO SEM MÃE

Foi numa fazenda de gado, no tempo do ano em que as vagas dão cria. Cada vaca toda satisfeita com o seu bezerro. Mas dois deles andavam tristes de dar pena: uma vaca que tinha perdido o seu bezerro e um bezerro que ficou sem mãe.
A vaquinha até parecia estar chorando, com os peitos cheios de leite, sem filho para mamar. E o bezerro sem mãe gemia, morrendo de fome e abandonado.
Não adiantava juntar os dois, porque a vaca não aceitava. Ela sentia pelo cheiro que o bezerrinho órfão não era filho dela, e o empurrava para longe.
Aí o vaqueiro se lembrou do couro do bezerro morto, que estava secando ao sol. Enrolou naquele couro o bezerrinho sem mãe e levou o bichinho disfarçado para junto da vaca sem filho.
Ora, foi ma beleza! A vaca deu uma lambida no couro, sentiu o cheiro do filho e deixou que o outro mamasse à vontade. E por três dias foi aquela mascarada. Mas no quarto dia, a vaca, de repente, meteu o focinho no couro e puxou fora o disfarce. Lambeu o bezerrinho direto, como se dissesse: “Agora você já está adotado.”
E ficaram os dois no maior amor, como filho e mãe de verdade.

Por Norma Hauer


ROBERTO ROBERTI = ARLINDO MARQUES JÚNIOR
Ele nasceu, aqui no Rio de Janeiro, no dia 9 de agosto de 1915, teve uma vida longa, falecendo em 16 de agosto de 2004, aos 89 anos.
ROBERTO ROBERTI ainda cedo "encontrou-se"com a música popular brasileira compondo,aos 20 anos, "Queixas de Colombina", gravado por Carmen Miranda em 1935. Foi quando iniciou uma parceria com Arlindo Marques Júnior, que perdurou durante anos, quase sempre, com sucessos.
Da dupla, além de "Queixas de Colombina", podemos citar: "O Homem sem Mulher Não Vale Nada", com sua resposta:"Encontrei Minha Amada", ambas gravadas por Orlando Silva;"Música Maestro", com Dircinha Batista; "Nós, os Carecas", com os Anjos do Inferno;"Abre a Janela", com Orlando. Duas composições suas (com outros parceiros) "estouraram" no carnaval, sendo que uma até hoje faz parte dos desfiles carnavalescos (populares) e é sempre apresentada no baile carnavalesco anual realizado na Cinelândia: "Aurora", em parceria com Mário Lago. Com Herivelto Martins compôs "Isaura", gravação de Francisco Alves.

Sempre há umas histórias que não aparecem na Internet.
No ano de 1941, duas composições com nome de mulher foram sucessos no carnaval:"Aurora", de Roberto Roberti e Mário Lago e "Helena", de Antônio Almeida e Constantino Silva.
Com o tema das duas, Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior compuseram "Até Papai":
"por causa da Helena, por causa da Aurora,
até papai só chega em casa a uma hora".

Com "Se a Orgia se Acabar", também da dupla,ocorreu algo referente ao antigo DIP. Orlando gravou esse samba exatamente com esse nome, onde aparece a palavra "orgia".
Pois bem, após essa gravação, que marcou sucesso, o famigerado DIP resolveu que a palavra "orgia" era imoral, por representar vadiagem. Tal palavra foi proibida. Que fizeram os compositores: mudaram o nome para "Fui Traído", e Carlos Galhardo a gravou, no qual a frase final da 1ª estrofe foi transformada de:

"mas eu choro se a orgia se acabar"
para "mas vou chorar se o samba se acabar."

"Grande" DIP, importar-se com mesquinharias.


A porta do lado - Por Dráuzio Varella




Em entrevista dada pelo médico Drauzio Varella, disse ele que a
gente tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos
que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos
mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada.

E aí ele deu um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente...

É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na
garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de
simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua
vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.

Eu acho que esta história de dois carros alinhados, impedindo a
abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de
algumas pessoas melhor, e de outras, pior.

Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos,
mas não entende por que eles parecem ser tão mais felizes.

Será que nada dá errado pra eles? Dá aos montes. Só que, para
eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor
diferença.

O que não falta neste mundo é gente que se acha o último
biscoito do pacote. Que "audácia" contrariá-los! São aqueles que nunca
ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga
e não deixam barato.

Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente.
O mundo versus eles.

Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também.
É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema
solúvel. E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser
resolvidos assim, rapidinho. Basta um telefonema, um e-mail, um pedido
de desculpas, um deixar barato.

Eu ando deixando de graça... Pra ser sincero, vinte e quatro
horas têm sido pouco prá tudo o que eu tenho que fazer, então não vou
perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.

Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e
gente idem; pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a
"porta do lado" e vou tratar do que é importante de fato.

Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do
bom humor, a razão por que parece que tão pouca coisa na vida dos outros
dá errado."

Quando os desacertos da vida ameaçarem o seu bom humor, não
estrague o seu dia... Use a porta do lado e mantenha a sua harmonia.
Lembre-se, o humor é contagiante - para o bem e para o mal - portanto,
sorria, e contagie todos ao seu redor com a sua alegria.
A "Porta do lado" pode ser uma boa entrada ou uma boa saída... Experimente!


HOME TEXTOS PARA REFLEXÃO

Vicky Leandros - L'amour Est Bleu (Love Is Blue)

Saramago...


Reparos

- Claude Bloc -

Reencontro-me a cada vez que retorno
ao hálito azul do dia
ao regalo da noite,
rompendo estrelas.

Reconheço-me a cada dia
nas melodias em tom menor
nas raízes das tardes febris
nos olhares latentes,
nos acordes noturnos.

Revejo-me em míseras esperas
na solidão dos amores,
nas saudades presentes...

Repito-me em palavras indomáveis
na evocação das flores
no horizonte do ocaso
aberto em cores.

Reduzo-me à nudez das entrelinhas
onde verseja a inocência
na hora da verdade.

Revivo o sossego de tua presença
o vôo alçado em tuas mãos
pela força da vida,
vencida.

ESCLARECIMENTOS...


Pronto! Tudo voltou ao normal.


Eu havia recebido fotos de Pachelly, lindas por sinal, para mexer no "look" do Cariricaturas, mas estava aguardando um momento a mais para pôr a novidade em forma de propostas.

Acatei a recomendação de Dihelson, que tem muita experiência em construção de Blogs (e layouts) e entende do jogo das cores (as que convém ou não). Segundo ele, já que o livro foi lançado agora e que a foto de Pachelly caracteriza tanto o livro quanto o blog, seria melhor dar um tempo mantendo a imagem e tudo o mais (Concordei com sua sensatez).

O teste que fiz, com a logomarca do"Cariricaturas em Verso e Prosa" foi exclusivamente tentando perceber a reação das pessoas frequentadoras do Cariricaturas em relação a mudanças, constituiu-se apenas numa motivação para debate de opinião.
Realmente (concordo plenamente) a figura central (máscara) no blog pareceu mais assustadora e agressiva que bela. Sabia que não iria "decolar", mas toda tentativa é válida quando se quer acertar, mudar, refenestrar uma idéia.

Portanto, agora tudo voltou ao normal. Sem máculas.

Sugiro que olhem o ZOOMCARIRI (do Pachelly) que mudou de visual. Está lindo!

Quem sabe mais adiante, quando passar esta fase de "namoro" com o nosso "Cariricaturas em Verso e Prosa", apareçam sugestões para mudarmos a imagem do nosso Blog. Por enquanto, ficamos por aqui.

Boa semana para todos.

Abraços saudosos, pois estou de volta à minha ilha: Sobral

Claude