Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vamos brincar ?

Quebre o pote e a quartinha
Bote fogo na camarinha
Que ele vai se declarar

Toda a minha visão é catingueira.
Minha sede é de água de quartinha.
Sou o fantasma das casas de farinha.
Sou o pedaço de vidro em fim de feira.
Ave bala, que tem mira certeira.
Um cordel de palavra inconvescente.
Sou a presa afiada da serpente.
Que cochila nos pés do cangaceiro.
Esta noite eu retalho o mundo inteiro.
Com a peixeira amolada do repente.( Cordel do Fogo encantado)

A palavra é Serpente !
Pegue o embalo!

Pensando alto- por Socorro Moreira

"Quem vai pela cabeça dos outros ",  tá na "Feira" , no mercado das propagandas , por que não se despede das alianças , e vem dançar o "Baião do Polinário"?
Ai, meu Deus do céu, tomara que já passe  esse tempo de politicagem. Já abusei  o horário da propaganda eleitoral , e fico com a atriz   Dira Paes : "voto na educação"!
O Crato está pertubado com tantos cartazes , e a misturada  das  bandeiras dos  candidatos. A gente nem sabe  quem nos representa , na Câmara dos Deputados ...
Uns querem votar em branco , outros silenciam , e parecem desconfiados.Passa o carroceiro cantando  a música do Roque, e  eu falo, cá com meus botões: taí, esse é cabo eleitoral dos bons. Aposto que nem tá ganhando  um café. Respeito o eleitor humilde , que de graça, se apaixona !
Minha neta ( 4 anos) já se fez eleitora do Camilo , e ainda se justifica ! 
Mas,  não dá pra deixar de  reconhecer que Lula  é abençoado pelo povo . Se ele confia em Dilma, o povo  nela  credita, todas as suas esperanças.
Nena, minha  amiga secretária, só varre a casa,  propagando   políticos, mas afirma : " ninguém sabe de quem é meu voto . Eu só decido na hora !"
E eu fico na reza , no mal me quer, bom será?
Na bem melhor , posso e devo votar?
A resposta  é sempre  clara , mas silenciosa !

Divulgando ...

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"Aposentados beneficiados pelo STF têm que entrar com ação
Quinta-feira, 09 de setembro de 2010



A decisão que o Supremo Tribunal Federal tomou nesta quarta-feira ao obrigar o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) a reajustar os vencimentos de um aposentado ao teto instituído em 1998, mesmo este tendo se retirado em 1995, abriu um precedente para que os outros aposentados também peçam a revisão de suas pensões. Porém, estes terão que correr atrás de seus direitos, pois o instituto não alterará nenhum valor de forma administrativa.

Apesar do STF ter decidido em favor do aposentado e criar um primeiro caso para ser utilizado como jurisprudência em outros processos de revisão de pensão, além de induzir os juízes de instâncias menores a acatarem igual decisão a favor dos reclamantes, por ser um caso de repercussão geral.

"Você precisaria entrar na Justiça para conquistar esse direito, o INSS não fará o reajuste automaticamente", afirmou o advogado André Luís Marques, presidente do Instituto dos Advogados Previdenciários (IAPE) e sócio da Exposito & Marques.

Segundo o advogado, todos os que se aposentaram antes de 2003 e quiserem que seus vencimentos sejam calculados com o reajuste do limitador de tal ano (de R$ 2.400,00) terão que entrar na justiça para consegui-lo. Caso o Supremo Tribunal Federal promulgue uma súmula vinculante no caso, todos os juízes de primeiras instâncias serão instruídos a acatar a reclamação e dar parecer a favor dos aposentados.

Ainda assim, mesmo com a súmula vinculante o INSS não é obrigado a reajustar estes vencimentos de forma administrativa e para todos os aposentados que se enquadram no caso. Para se ter o benefício do reajuste conforme o novo teto salarial, avaliado em R$ 3.467,40, é preciso entrar na justiça.

Entenda o caso:

Na ação ganha pelo aposentado nesta quarta-feira, o caso era que o reclamante, que recebia R$ 1.081,50, cifra considerada o teto de acordo com o limitador vigente de 1995, exigiu que seu salário fosse reajustado com base na Emenda Constitucional de 1998, que estipulava o teto em R$ 1.200,00.

Com a decisão do STF, o INSS terá que reajustar os vencimentos em favor do aposentado, além de pagar retroativamente ao pensionista. O Ministério da Previdência anunciou que irá cumprir a sentença judicial, mas não se posicionou a respeito do caso. O pagamento retroativo da diferença entre os dois limitadores - adicionado da inflação correspondente - ainda gera polêmica, pois o ministério nega tais despesas, e o relatório do Supremo Tribunal Federal sobre o julgamento não é claro sobre tais cifras."




Nem se despediu de mim - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quem pensa só nas letras, esquece o sentimento. Cante com as sílabas, evolua com os versos, mas nunca esqueça do rumorejar do teu interior. E não se engane este interior é igual ao mundo cá fora, com seus voluteios e assentos na penícula de paz da superficie dos açudes. Vejam como esta letra dos versos desta linda canção de Luis Gonzaga e João Silva guarda o mundo inteiro do povo do nordeste fluindo pelo seu linguajar

Nem se despediu de mim
Nem se despediu de mim

Já chegou contando as horas
Bebeu água e foi-se embora

Nem se despediu de mim

Te assossega coração
Esse amor renascerá

Vai-se um dia mais vem outro
Aí então, quando ele voltar

Quebre o pote e a quartinha
Bote fogo na camarinha
Que ele vai se declarar

Feira


O matuto estava arreando o burro , madrugadinha. Acabara de botar cangalha e apertara as cilhas no último buraco do loro, quando a mulher saiu na porta, vassourão em punho, e lembrou:

--- Tonho, não esqueça de trazer minha encomenda !

O homem montou no animal, enquanto pensativo curtia a aurora sanguínea que se espraiava no horizonte, como uma sangria desatada. Preparou, calculadamente, o cigarro de palha entre os dedos e o levou à boca desdentada, com o lume aceso. Tonho esporou o burro e tentou remontar, de cabeça, o pedido que a esposa lhe fizera na noite anterior. Ia providenciar a feira em Matozinho, comprar as bugigangas da semana e sabia que uns quatorze quilômetros o afastavam da vila. A mulher lhe pedira para passar na loja de confecções de Seu Lauro Maia, defronte à praça da Matriz e pegar uma agulha de crochê. Nem sequer precisa explicar, Tonho, a moça já sabe o que é, a marca, o tamanho, tudo – lhe adiantara Judite, antes de caírem na mama , na noite anterior. Ele imaginou que se tratava de uma agulha, uma vez que a companheira era muito habilidosa com as mãos e ganhava um dinheirinho bom, desde que se metera no ramo de artesanato, arte que herdara da mãe : a velha Gerônima do Baixio de Dentro. Nos últimos meses, Tonho se dedicava com afinco na construção de um puxadinho na casa, encompridando a cozinha e levantando uma despensa para acondicionar os cacarecos. Precisara aprender artes de pedreiro quando trabalho uma época em São Paulo, ainda solteiro.

Quando chegou em Matozinho,já dia claro, fez a via sacra de sempre. Comprou os picualhos na feira e, depois, dirigiu-se à Rua do Caneco Amassado, onde encheu a cara com umas mulheres-damas sentadas no joelho. Já de tardizinha, meio melado ou melado e meio, quando resolveu tomar o caminho de volta para o Baixio, lembrou da encomenda de Judite. Chegar em casa daquele jeito, puxando fogo , com o cheiro forte de extrato barato no cangote e ainda sem levar o solicitado, era encrenca certa. Resolveu, então passar na Armarinho de Seu Lauro. Em lá chegando, achou-o um pouco diferente, com luzes coloridas na frente. De qualquer maneira, de nada desconfiou. Primeiro porque há anos não entrava na loja e, depois, a cachaça no toitiço não permitia exercer atividades de Sherlock Holmes: Elementar, Caro Watson ! Entrou porta adentro e lá, encontrou uns clientes esquisitos, caladões, fazendo seus pedidos quase sussurrando. Dirigiu-se para uma balconista novinha e solícita e mandou:

--- Ei, vim pegar a encomenda de Judite !

A moça , estranhamente, não lembrava qualquer pedido feito por uma senhora com esse nome. Dirigiu-se às colegas, mas nenhuma parecia saber do estranho embrulho da esposa. A balconista, educadamente, lhe explicou o impasse e o acalmou:

--- Ninguém lembra da encomenda da D. Judite, mas vamos ver se a gente tenta descobrir...Para que servia mesmo , o senhor lembra, seu, seu...

--- Tonho ! Bem, ela pegava a bichinha, deitava e passa o dia todo enfiando e desenfiando...

--- Hummmm ! Acho que já sei do que se trata , seu Tonho! Me diga uma coisa, era grande, média ou pequena ?

--- Acho que é grande que ela usa e com a ponta meio torta, como um anzol...

---- Certo, certo... Bem grande, não vai ter problema, agora torta... e não tem perigo de enganchar, não ? Me diga uma coisa, Seu Tonho e o Senhor, não quer levar nada? O que fica fazendo enquanto D. Judite está enfiando, desenfiando ?

--- Ah, minha senhora, nem se preocupe, eu tou lá no puxado, acabando a minha mão... É um duro danado... De tardizinha tou de perna bamba...

--- Olhe , seu Tonho, admiro o vigor de vocês, mas não é muito bom exagerar não. Vão devagar com o andor... Vocês ficar tisgos... Vocês nunca trabalham junto não, seu Tonho, se mal pergunto ?

--- Não, ela só gosta de trabalhar sozinha ou com Isaura Pandora, uma amiga dela. E ainda apuram um dinheiro danado... trabalham também sobre encomenda, viu? E eu só gosto de plantar com Isacc que mora lá perto de nós.

--- Bem, seu Tonho, vou pegar a encomenda de D. Judite, tenho certeza que ela vai adorar.

A mocinha volta com um pacote imenso e, quando tira o papel para mostrar a Tonho, ele quase cai de costas.

--- Minha senhora, pelo amor de Deus, que diabo de agulha de crochê é essa? Isso é para costurar empanada de circo? Lona de Scania truncada? Parece uma rola, meu senhor! Chame seu Lauro que quero falar com ele!

--- Seu Tonho, o Armarinho de Seu Lauro é do outro lado da praça, se mudou já faz uns seis meses. Isso aqui, é um pênis mesmo pois agora aqui funciona um Sex Shop.

Tonho saiu cambaleando: mais pela visão inesperada que pelos eflúvios etílicos. Meu Deus, o que ainda falta comerciar neste mundão sem cancela? Pegou o rumo de casa. No meio da estrada, parou para uma tirar água do joelho. Quando terminou, deu as três balançadinhas de praxe e, antes de enfiar a bicha de volta, de braguilha adentro, contemplou-a murcha e contrita pelo frio de julho e sem disfarçar o complexo de inferioridade, lascou:

--- Agulha de crochê... Entra prá casa , alfinete véio dos seiscentos...


J. Flávio Vieira

A poesia de Isabella Pinheiro


O mundo que vejo não é o mundo que quero



Quero o mundo com cores

Borboletas e muitas flores

Quero o mundo sorrindo

Quero o mundo feliz

Quero o mundo comigo

Quero o mundo sem mendigo.



Vamos parar de poluir

Vamos juntos trabalhar

E o mundo salvar

Vamos nos ajudar



Um papel faz diferença

Vamos todos cuidar

E no lixo jogar

Vamos deixar o mundo uma beleza.

Vamos cuidar da natureza!

Nós e a Música Popular Brasileira !




A Volta

Composição: Ronaldo Bôscoli

Quero ouvir a tua voz
E quero que a canção seja você
E quero, em cada vez que espero
Desesperar, se não te ver
É triste a solidão
É longe o não te achar
É lindo é o teu perdão
Que festa é o teu voltar
Mas quero que você me fale
Que você me cale
Caso eu perguntar
Se o que te fez mas lindo ainda
Foi a tua pressa de voltar
Levanta e vem correndo
Me abraça e sem sofrer
Me beija longamente
O quanto a solidão precisa pra morrer
Levanta e vem correndo
Me me abraça e sem sofrer
Me beija longamente
O quanto a solidão precisa pra morrer
O quanto a solidão precisa pra morrer

*Sempre gostei de letras de cançoes. Cantá-las , entendendo a mensagem . Descobrir se elas fazem  jus às melodias. Não sei de quem mais gosto, se do poeta ou do músico !
E quando a música marca uma história nossa, quando a elegemos num momento mágico ( geralmente sentimental), ela passa  a nos companhar, como joia de família, só  que ninguém deseja, nem consegue furtar.
Tenho uma irmã que tem "Eu sei que vou te amar", em todas as vozes, arranjos, versões  e  gravações. Eu tenho infinitas canções,  que gosto de ouvir, cantarolar, e guardar , como uma carta  do passado , que nunca se amassa.
Acho primorosos os repertórios de Elis, Nana, Elizete, Gal, Bethânia, Nara, Rosa Passos, Cida Lôbo, Leny de Andrade,  grandes intérpretes femininas  da música popular brasileira, entre outras.
Todos os dias, sinto vontade de homenagear  um dos nomes da nossa música, ou vários !
Façam  isso, vocês também !
Revelem as suas preferências musicais.
No Cariricaturas, elas serão respeitadas !

Por Elisa Lucinda

Incompreensão dos Mistérios


Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.

"1. O MENINO MALUQUINHO De ZIRALDO
2. Era uma vez um menino maluquinho. Ele tinha o olho maior que a barriga
3. fogo no rabo e vento nos pés
4. umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo) e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinhos no sótão).
5. Ele era um menino impossível! A melhor coisa do mundo na casa do menino maluquinho era quando ele voltava da escola A pasta e os livros chegavam sempre primeiro voando na frente
6. Um dia no fim do ano escolar o menino maluquinho chegou a casa com uma notícia "Mãe, tenho aqui uma bomba” "Ai, o meu neto é um bombista, um maluco!" gritou o avô.
7. "Ele vai matar o gato!" gritou a avó. “ Tira-me essa bomba daqui!"-gritou a empregada lá de casa
8. Mas o menino explicou: "A bomba já explodiu… Lá no colégio." "Esse menino é maluquinho!" disse o pai, nervoso." E foi conferir o boletim
9. Este susto não era nada comparando aos outros que ele pregava. Às vezes sem qualquer ordem do pai e da mãe trancava-se lá no quarto e estudava e estudava e voltava do colégio com as provas terminadas. Tinha dez no boletim que não acabava mais E ele dizia aos pais todo feliz: "Só tem um zerinho aí. Num tal de comportamento!..."
10. O papagaio que o menino maluquinho soltava era o mais bonito de todos rodopiava doido caía de ponta cabeça dava cabeçadas e a sua linha cortava mais que um fio de pesca
11. E o papagaio quem fazia era mesmo o menino pois ele havia aprendido a amarrar a linha a colar papel de seda e fazer com pó a cola para colar o papagaio triangular como o pai lhe ensinara do jeito que havia aprendido com o pai e o pai do pai do pai.
12. Era preciso ver o menino maluquinho na casa da avó!
13. Ele deitava e rolava pintava e bordava e se empanturrava de bolo e sumo E ria com a boca cheia e dormia cansado no colo da avó suspirando de alegria E avó dizia: "Este meu neto é tão maluquinho"
14. O menino maluquinho tinha dez namoradas
15. Ele era um namorado formidável que desenhava corações nos troncos das árvores
16. e fazia versos… e fazia canções.
17. E escorregava nos paralelepípedos da sua rua porque ERA MESMO distraído
18. rasgava os fundilhos das calças no arame da cerca e tinha tanto adesivos nas canelas e nos cotovelos No colégio tinha o apelido de Múmia!
19. Chorava escondido se tinha tristezas
20. O menino maluquinho tinha lá os seus segredos e nunca ninguém sabia os segredos que ele tinha (pois segredo é assim mesmo). Tinha uns mais segredáveis E outros que eram menos.
21. O menino maluquinho jogava futebol. E toda a escola esperava por ele para então começar o jogo.
22. A equipa estava cheia de craques e ninguém queria ficar na baliza Só o menino maluquinho que dizia sempre: "Deixa comigo!" E ia rindo para a baliza para o jogo começar.
23. E o menino maluquinho voava na bola e caía de lado e caía de frente e caía de pernas para o ar e caía de rabo para o chão
24. E todos diziam: "Que futebolista maluquinho!" E a escola ria e gostava de ver a alegria daquele futebolista
25. E, como toda a gente o menino maluquinho cresceu. E como tudo na vida Os anos foram passando
26. Cresceu e tornou-se num rapaz muito ajuizado Aliás, tornou-se no rapaz mais ajuizado do mundo!
27. E foi então que toda a gente descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho ele tinha sido era um menino FELIZ!!!!!!!"

Toulouse-Lautrec


09 de setembro

1901
Morte do pintor francês Henri de Toulouse-Lautrec

Toulouse-Lautrec nasceu na França e começou a pintar com apenas 10 anos de idade. Durante a adolescência, ele quebrou as duas pernas e, por ter uma doença degenerativa dos ossos, elas não acompanharam o crescimento do resto do seu corpo. Por causa desse problema, ele mergulhou cada vez mais na arte de pintar. Durante a vida adulta, Lautrec foi o pintor que melhor representou a vida noturna de Paris do final do século XIX, pintando retratos de gente comum, a vida do circo, os salões de dança, as dançarinas e as pessoas conversando e se divertindo. Lautrec morreu em 9 de setembro de 1901 com apenas 36 anos.

Ferreira Gullar


Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930) é um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo.
diversos segmentos das artes brasileiras.

"Quando surge uma idéia, vou para a rua. Tenho prazer em conceber o poema no meio das pessoas que passam e nem suspeitam que ali, naquela hora ele está nascendo"

§

"Quando o poema chega, é um acontecimento inusitado, uma erupção, como um vulcão. Está tudo bem e de repente ele começa a colocar fogo pela boca."

§

"Posso fazer dez poemas por dia, porque eu sei fazer. Mas nunca farei isso. Eu sempre fui assim, sempre escrevi o poema necessário."

§

"A poesia não fala de tudo. Existe uma parte da vida sobre a qual a poesia não fala, mas eu também sou essas outras coisas."

(publicadas na revista Cult, nº 3
em outubro de 1997)


Ferreira Gullar


POEMA

Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia, as camisas
e guerras na cadeira, o paletó -
dos - andes,
bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
morrem comigo.

Ou não:
o sol voltará a marcar
este mesmo ponto do assoalho
onde esteve meu pé;
deste quarto
ouvirás o barulho dos ônibus na rua;
uma nova cidade
surgirá de dentro desta
como a árvore da árvore.

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens
a mesma história que eu leio, comovido.


Forró Quentinho
Jackson do Pandeiro
Composição: Almira Castilho

Se perguntar quem é que está chamando
Faça o favor de ficar bem quietinho
Chama Maria, chama Rita e Chica
Pra dançar comigo o forró quentinho

Forró quentinho, forró quentinho
Forró quentinho, forró quentinho
Forró quentinho, toque mais um bucadinho

Forró quentinho que dança gostosa
É bossa nova lá no meu sertão
Ele é parente da rumba e do mambo
E é bem parecido com samba e baião

Forró quentinho, forró quentinho
Forró quentinho, forró quentinho
Forró quentinho, toque mais um bucadinho


{Não sei bem se a música é de Almira, primeira esposa de Jackson do Pandeiro.
Porque ele a amava tanto, que editou muitas de suas músicas no nome dela...
Ou seja, provavelmente... Músicas que vocês veêm com o nome de Almira Castilho, na verdade, são composições de Jackson... ou não! O que dificulta a identificação dos reais compositores de muitas canções}
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Quem vai pela cabeça dos outros? – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Há muito tempo que eu não escuto uma expressão popular usada insistentemente pelos moradores da região do Cariri, por volta das décadas de 1950 e 1960: “Quem vai pela cabeça dos outros é piolho.” Era equivalente a outra sabedoria de pára-choques de caminhão, “Se conselho fosse bom era vendido...” Ambas estão em desuso, talvez por influência dos modernos escritórios de consultoria que vendem seus conselhos para empresas multinacionais, que os compram a peso de ouro, para que depois, nós paguemos a conta. De minha parte, toda vez que eu fui pela cabeça dos outros, terminei de uma forma ou de outra “quebrando a cara.

Nos primeiros anos da década de 1980, o Rotary Clube do Crato trouxe à nossa cidade um famoso psicólogo de Fortaleza para aconselhar os casais cratenses. Como bom rotariano que éramos, eu e Magali comparecemos. Foi numa tarde de um sábado, com auditório lotado de casais, onde muitos ensinamentos foram derramados por aquele mestre das ciências da alma. Numa palestra bastante agradável, o psicólogo, que também era sacerdote católico, discorreu sobre sexo, como viver em harmonia e principalmente a educação e formação dos nossos filhos. Enfim, coisas que todo pai e mãe desejam e gostam de ouvir para imediatamente porem em prática. Entre os muitos conselhos que ele nos deu, havia um aparentemente pertinente. “Levem os filhos qualquer dia ao local de trabalho, para que eles vejam a luta de vocês para ganhar o pão.”

Na semana seguinte, numa bela tarde, lá ia eu em direção à Coelce, meu local de trabalho, acompanhado pelos meus três filhos, com idade de oito, seis e quatro anos, respectivamente. Ao chegarem, desceram do carro feito loucos, correram pelos corredores e jardins, visitaram todas as salas e numa fração de segundo exploraram todos os pontos da repartição, um prédio de dois pavimentos, que ocupava quase um quarteirão. Depressa descobriram a cantina e eu os apresentei ao dono, dizendo que servisse tudo que eles quisessem. No final do expediente, faria o pagamento das despesas. Quanta coragem! Mas era assim que eu pensava: deixando-os livres, poderia ter um pouco de sossego e trabalhar com tranqüilidade.

Vez por outra, eles subiam ao andar superior, abriam a porta da minha sala de trabalho, olhavam de soslaio e desapareciam em seguida. Lá pelas quatro horas, o mais novo deles, cansou e sentou-se por alguns minutos num sofá defronte ao meu birô. Continuei trabalhando, atendendo ao telefone, recebendo clientes e registrando alguns dados para ordens de serviços. E o caçula, sentado ali, balançando as perninhas e observando tudo. Quando eu o olhava, ele sorria meio desconfiado.

Finalmente, o dia terminou e antes de sair, lembrei-me de pagar a conta que eles fizeram na cantina. Puxa! Que conta salgada! Os três consumiram todo o estoque de chocolates, bombons, sorvetes e comeram sanduíches por um ano inteiro, para felicidade do cantineiro, que nunca havia vendido tanto em tão breve espaço de tempo.

Mas ao chegar à nossa casa, é que notei a grandiosa besteira que fiz, indo pela cabeça daquele psicólogo. Ao receber as crianças, Magali exclamou para eles: “Ih! Passaram a tarde toda vendo o papai trabalhar...” Ao que o mais novo, aquele que demorou alguns minutinhos descansando na poltrona à minha frente, respondeu: “Papai não trabalha, não. Passa o tempo todo atendendo telefone e escrevendo uma cópia, sem olhar para nenhum livro...”

É isso mesmo! Eu mereci!... Quem mandou ir pela cabeça de psicólogo? Grande piolho é o que eu fui!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Baião Polinário - José do Vale Pinheiro Feitosa

O negócio é seguinte: de vez em quando um respiro. Aí vai um.

Posto a letra deste lindo baião de Humberto Teixeira antecipando as deturpações do baião. Se bem que pelo lado um tanto apolíneo, quase acadêmico, mas que cai muito bem nesta "lama" inominável do forró eletrônico, sem letra e sem música. Parece a repetição ao extremo da paciência das mesmas notas e ritmos e da enfadonha "iletrice" de letras que dizem pouco, pois nada há a dizer. Não é mais sertão, é apenas o "arralbe" sofrido das nossas cidades ajambradas em moradia, educação, saúde, esgotamento, água e transporte.

Aproveito para homenagear a todos que assim sentem, especialmente ao nosso Dihelson Mendonça que costuma entrar em erupção quando o seu limite já não suporta esta cultura de consumo que consome a alma nordestina.

Baião Polinário
Humberto Teixeira

Baião cantado em ternário
e até quartenário
Ô Ô Ô

Colagem de som e verso
Modismo ao reverso
Sim Senhor

Pode agradar não discuto
Se tem balanço eu escuto
Mas foge ao meu inventário

Este baião Polinário.
Pilantra,
Chibungo,
E sem cor.

Não, Não, Não,
Mais respeito com o sertão,
Esta coisa tão pachola,
Sem cabocla e sem viola,
Me perdoe não é baião.

Não, Não, Não,
Mais respeito meu irmão,
Fala a minha autoridade,
Num acorde de saudade,
De quem sabe o que é o baião


Obs. se alguém puder me explicar a palavra "polinário" pois não a encontrei no dicionário e não tive tempo de pesquisar na internet. A palavra que existe é "apolinário". O Humberto não cometeria um erro disso: ou existe a palavra no nosso meio ou Humberto quiz amatutar a pavonice de classe média do que ele ouvia de imitação na época.


Manhã de Setembro- por Socorro Moreira


As luzes estão acesas. O dia ainda é escuro.
Meus escuros são claros.. Vida besta. Vida  fácil , e farta de aflições.
A palavra de ordem é relaxar, ter paciência, não se estressar.
Já fiz a primeira refeição. Já postei  alguns textos, escolhidos pela intuição, e pelo prazer de ler determinados autores.
Queria vestir  farda no cotidiano, mas ele está sempre de férias ou de licença especial, pastorando  as horas que  saltam, nos dias ensolarados.
Daqui a pouco tem cheiro de café  na casa. Nena faz a tapioca, e eu procuro alguma frutinha, enquanto a mesa fica posta.Depois tiro um novo cochilo com os anjos, e escuto os cochichos das almas que  aproveitam pra enviar seus recados.Devo esse tempo às madrugtadas insones com a TV ligada, interferindo nos sonhos.
Bom dia, Crato e amigos !
Vou batalhar uma nova casa .Uma casa que tenha um jardim. Ontem meu pé de algaroba resolveu secar, e foi sacrificado,  mas a raiz ainda ficou lá... Resistindo  vida , desesperançada.
Minha manhã é azulada. O sol não castiga. É discreto neste novo dia de setembro, quando a festa dos passarinhos reomeça !

A conquista nda velhice- Lya Luft


"A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela, alegre e apreciada enquanto não for amarga"

Uma das melhores frases que escutei sobre velhice e envelhecer, porque realista e bem-humorada, foi: "Velhice? Eu acho ótima, até porque a alternativa seria a morte!" Não é em geral o que se escuta. Mesmo velhos que têm boa saúde e poderiam estar curtindo alguma coisa costumam se lamentar em lugar de viver. E, acreditem, sempre há o que fazer, aprender, renovar. Vai-se, é verdade, parte da energia (a lucidez, não necessariamente, e se a perdermos não saberemos: a natureza pode ser misericordiosa).

Para quando a inevitável velhice chegar, tomei como meu modelo, talvez inatingível, minha comadre, madrinha de um de meus filhos, minha amada amiga Mafalda Verissimo, viúva de Érico e mãe de Luiz Fernando. Sei que ainda hoje, esteja onde estiver, ela sabe de mim, me cuida. Se pudesse me aconselhar, como costumava fazer, haveríamos de dar juntas boas risadas.

Essa velha dama, que, como minha mãe, morreu aos 90 anos, detestaria ser lembrada com tristeza. Uma de suas marcas era o bom humor, que nessa idade, mais do que em todas, é essencial: divertidos eram seus olhos muito azuis revelando o interesse múltiplo e alerta, aberto o coração.

A gente não a visitava para lhe fazer companhia (sua casa abrigava família e muitos amigos), mas porque nós precisávamos dela, ela nos alimentava com seu interesse, nos animava com sua vitalidade. Lia todos os jornais, entusiasmava-se com novidades, e as que não aprovava lá muito eram comentadas, também, com seu jeito divertido. Mafalda sempre me fez refletir sobre a velhice que escolhemos ter, para além das inevitáveis transformações que de preferência não escolheríamos. Com ela entendi melhor que velhos não são isolados porque os filhos não prestam ou os amigos morreram, mas também porque se tornaram chatos demais: reclamando, querendo controlar, chantageando e cobrando.

A gerontocracia pode ser cruel: é urgente rebelar-se contra ela, se queremos conviver com os velhos. E, se queremos ser um dia velhos com quem os outros gostem de estar, é bom evitá-la a qualquer custo. Velhos, como todos nós, podem ser vítima de seu próprio preconceito – além da rejeição generalizada a tudo o que não for jovem e fulgurante. É comum encontrar alguém que bem antes da velhice já não diz duas frases sem acrescentar em tom lastimoso "na minha idade". Por que não encarar o tempo como transformação da beleza enérgica da juventude na serena beleza da velhice?

Hão de arquear as sobrancelhas, mas eu lhes digo que, se hoje me divirto mais do que aos 30 anos, espero aos 80 achar ainda mais graça em muitas coisas que, décadas atrás, me fariam arrancar os cabelos em desespero. Se alguém na velhice é realmente só, sem ninguém, nem vizinho nem conhecido nem parente nem mesmo o quitandeiro da esquina com quem falar, me perdoe: a não ser que uma tragédia tenha devastado sua vida sem deixar pedra sobre pedra, possivelmente faltou cultivar interesses e afetos, em vez de esperar por eles como obrigação alheia. Sinto muito: se o velho sempre bonzinho é um mito, o velho simpático, aberto e otimista é uma realidade. Quando comentei isso, alguém retrucou: "Mas todos morreram, não tenho ninguém da minha idade para conversar".

É bem possível e até provável, mas você nunca fez amizades com gente mais jovem? Nunca se abriu para o que há de estimulante no outro tempo da vida? Nunca se renovou, nunca se abrandou? Quem não tiver obsessão pela juventude perdida pode se interessar pela imensa variedade de assuntos que todo dia entram em nossa casa pelos jornais, pela televisão e – por que não? – pelo computador. E não me venham com "na minha idade".

Os grupos da chamada terceira idade podem ser divertidos, estimular amizades, fazer sentir que a gente não é a única nem a vítima do destino cruel... Mas, por favor, não botem as velhinhas a dançar com vestido de bailarina saltitando com balões nas mãos, ou para fazer teatro infantil. Não as maquiem em excesso, não as tornem caricaturas.

A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela na sua beleza peculiar; alegre na sua alegria boa; alerta na medida de seus interesses; procurada e apreciada enquanto não for amarga.

Enfim, que sejamos todos e todas Mafaldas Verissimo, a que até o fim nos amou, nos apoiou, nos divertiu, nos escutou, aquela a quem procurávamos pelo nosso próprio bem e que deixou uma saudade boa, não um vazio de sombra.

E assim, amiga, enfim te homenageei.

 Lya Luft

Democracia- Por Fábio Brüggemann


As ditaduras não precisam de reflexão quando instaladas. Basta um maluco qualquer dizer o que deve ser feito com o dinheiro que é de todos, uma elite aceitar e um povo calar-se (sob pena de de ser torturado, morto ou expulso). O mais repugnante das ditaduras é a aceitação dela, porque ainda é absurdo que alguém, em sã consciência, consiga viver sob o jugo de um déspota, ou de um grupo deles.
Já a democracia precisa o tempo todo de cuidados, precisa ser repensada todos os dias, tem que estar antenada com as mudanças sociais e de comportamento. As ditaduras odeiam mudanças, porque pra mudar tem que pensar, aceitar a diferença, ter paciência para ouvir também as minorias e reservar um espaço a elas. Ditadores odeiam pessoas que pensam.
Um dos modos mais fáceis de instalar uma ditadura é manter uma nação na ignorância e, é claro, rejeitar suas manifestações sociais, impedir seus avanços, não respeitar as minorias. O outro modo é a força. A ditadura militar quando instalou-se no Brasil, primeiro exilou seus pensadores, depois queimou livros, e, por último, torturou e matou os que pensavam diferente.
A democracia brasileira é muito recente. E se olharmos em volta, estamos cercados de prefeitos, governadores e deputados que apoiaram o golpe militar e a ditadura. Muitos partidos, apesar de terem mudado de nome, sustentaram o regime autoritário.
Mas o grande barato da democracia é sua imensa bondade intrínseca (coisa que ditadores são incapazes de compreender), porque na democracia até os malucos (incluindo ditadores) têm seu direito a voz e voto. Democracia é dar ouvido também aos imbecis. Isso não seria tão ruim e assustador se tivéssemos eleitores com formação histórica e cultural suficientes apenas para rir destas candidaturas. Infelizmente, não é bem assim. Daí, que é preciso estar atento, olhar para a história recente, para que não tenhamos que dizer mais uma vez, depois das eleições, que cada povo tem o governo que merece.


Fábio Brüggemann
Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, Santa Catarina, Brazil
Editor, escritor, roteirista e diretor de alguns filmes, e pai da Luna. Os textos postados neste blogue, com uma ou outra exceção, foram publicados no Diário Catarinense.

Sombrios umbrais de silêncio- por Ana Cecília S.Bastos

Sombrios umbrais da noite sem esperança.
Frágeis silhuetas de homem recortada. 

Tempo de total pobreza. 

Sombrios umbrais de silêncio.

Temas se calam
proíbem
ou se espreguiçam na noite parda
em que por palavras desterro
o essencial.

Aiunda Estátuas- por Everardo Norões



Na TV
antigos oficiais alemães
lembram seus homens transformados
em estátuas de gelo
enquanto contempalvam
brancas estepes da Rússia.

No vale do Sidim
estátuas de sal :
viram, ao longe,os espectros
de Gomorra e Sodoma.

De que mat´-eria
serão feitas as estátuas
dos que avistam
a faixa de Gaza?

Liev Tolstói


Liev Tolstói, também conhecido como Léon Tolstói ou Leão Tolstoi ou Leo Tolstoy, Lev Nikoláievich Tolstói (Yasnaya Polyana, 9 de setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910) é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos.

Além de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias batiam de frente com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza.

Junto a Fiódor Dostoiévski, Gorki e Tchecov, Tolstói foi um dos grandes da literatura russa do século XIX. Suas obras mais famosas são Guerra e Paz, sobre as campanhas de Napoleão na Rússia, e Anna Karenina, onde denuncia o ambiente hipócrita da época e realiza um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura.

Morreu aos 82 anos, de pneumonia, durante uma fuga de sua casa, buscando viver uma vida simples.
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