Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Caju


D. Anfrozina , com a sabedoria que os anos lhe foram concedendo , percebera ,cedo , a implicância da filha com o marido : Sebasto. Giselda parecia uma bacurinha de pé de pilão: não deixava o homem em paz um só instante . Fuçava daqui, esperneava dali, roncava acolá. Anfrozina não morava com o casal, mas desfazia, por inteiro, a terrível fama das sogras. Sempre tomara partido do genro, talvez porque soubesse que a maior parte dos arrufos dependia da pouca tolerância da filha. Giselda, ao que parece, buscara sempre a figura perfeita de marido: íntegro, rico, romântico, viril, domesticável, sem vícios e barriga branca. Anfrozina fora a primeira a dissuadi-la de tal pretensão. O almejado ser apolínio e imaculado só existia nos livros de Mitologia.

--- Santo não casa minha filha ! D. Hélder, o Dalai Lama, Buda contraíram núpcias com Deus e não com essa rafaméia aqui da terra! Você devia dar graças aos céus ter conseguido encontrar ainda um beato feito Sebasto.

A opinião de Anfrozina não era muito diferente daqueles que conviviam de perto com o casal. Giselda, no entanto, não se convencia e continuava sua cruzada interminável em busca do companheiro perfeito. E a grande verdade é que a esposa não tinha lá razões para tanta choradeira e insatisfação. Sebasto não era rico, mas tinha um emprego estável de barnabé que os permitia levar uma vidazinha tranqüila e sem muitos atropelos. Era homem de casa e do trabalho, de temperamento dócil e deu a Giselda uma récua de filhos que, crescidos, assumiram o destino cigano do cearense e se espalharam Brasil afora. Beirando os sessenta, ainda tinha um fogo invejável, com muitas brasas inflamadas ainda por baixo da cinza acumulada por tantos anos. O marido só tinha um defeitozinho. Gostava de uma biritazinha diária, de queimar os dentes, mesmo assim raramente foi flagrado bêbado. Com o álcool mantinha a mesma compostura da sobriedade, apenas ficava um pouco mais palrador e extrovertido. Não se transformava em macaco, porco ou leão: virava papagaio. Giselda já o conhecera com este hábito, não comprou gato por lebre. Nos primeiros anos até que suportou a caninha do marido. Com o passar do tempo, no entanto, aumentou a implicância: vivia a reclamar pelos cantos e fazer cara de cobrador, quando Sebasto chegava mais alegre e falante. Os reclamos extrapolaram quando Giselda resolveu tornar-se evangélica. Aí o vício do companheiro tomou ares de pecado mortal e de artes do capeta. Sebasto ainda contra-argumentou : Jesus não era contra bebida de jeito nenhum, fosse assim , nas Bodas de Caná, teria transformado a água em cajuína e não em vinho. Giselda, desarmada no seu fundamentalismo, não se convencia e armava brigas que se estendiam por semanas. Vivia trombuda, amarga, sem compreender que destilar fel também podia ser pecado mortal. Já velho, em meio à saraivada inexplicável de impropérios, Sebasto foi compelido ao adultério. Arranjou uma gambiarra : uma viúva fogosa da repartição. Levou a coisa em banho-maria por uns dois anos. Ficou mais feliz e imune às implicâncias giseldianas. Um dia, no entanto, como sói acontecer, a mulher descobriu a tramóia e armou um barraco horroroso. Despiu-se de todas as lições de compreensão, solidariedade e perdão que aprendera nos cultos. Resolveu separar-se, mas foi dissimulada por Anfrozina e pelo pastor da sua igreja. Depois que a poeira sentou , chamou Sebasto que estava recolhido à casa da sogra e foi clara. Disse , com voz chorosa, que assumia sua parcela de culpa e que queria reatar o casamento. Sob duas condições apenas: que ele abandonasse de vez a viúva e mais : prometesse nunca mais pôr uma gota de álcool na língua. Sebasto estendeu os olhos para o jardim e , com água na boca, observou o cajueiro defronte à casa coberto de frutos rubro-amarelados, com o cheiro invadindo o mundo. Um manancial interminável de tira-gostos ao alcance das mãos. De língua seca, negociou:

--- Tá certo, Giselda, paro de beber, mas deixe ao menos passar a safra do caju...

A mulher, enraivada, sacou o temperamento velho ofídico que guardara cuidadosamente dentro da bíblia e rasgou:

--- Você é um bêbado inveterado mesmo, Sebasto ! Acho que esse seu vício não tem jeito. Mas a rapariga da viúva, esqueça, viu ! Ou ela ou eu !

Sebasto, calmamente, renegociou:

--- Mulher, já faz uns dois anos que estou com ela. Ela é depressiva, não posso chegar assim e acabar tudo de uma hora para outra! Tenho medo de suicídio. Preciso de um tempo !

Giselda, já exasperada, gritou:

--- Um tempo, é ? Um tempo, seu engraçadinho? Quanto tempo?

--- Uns quatro, cinco anos tá bom...


J. Flávio Vieira

O "analfabeto cosmopolita" - José Nilton Mariano Saraiva

Olha o “analfabeto” aí, de novo, gente. Depois de ser agraciado com o título de “Doutor Honoris Causa”, em Portugal, Lula cumprirá extensa agenda: hoje estará nos USA, amanhã vai pro México, o fim de semana Londres, e a semana que vem desembarcará na Espanha. Como se vê, o “aleijado-quatro-dedos” é sucesso em tudo que é canto, inclusive na culta e exigente Europa. Aliás, sucesso que muito gente não aceita e nem em seus piores pesadelos imaginaria que Lula alcançasse quando foi eleito em 2002. Mas, como o “homi” transformou o Brasil, taí no que deu. Vejam e matéria abaixo:
Com um discurso sobre educação no Brasil em evento da Microsoft, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura hoje em Washington uma série de palestras internacionais, que promete manter sua agenda cheia por um bom tempo. Será sua primeira fala remunerada no exterior desde que deixou a Presidência. Nos próximos dias, Lula fará outras duas: na sexta-feira, em Acapulco, para a Associação dos Bancos do México; e na próxima semana, em Londres, para investidores em evento da Telefônica. O valor da remuneração que ele vai receber pela palestra nos EUA não foi revelado, mas deve ser superior ao cachê previsto para o Brasil (em torno de R$ 200 mil). Lula chegou à capital americana ontem, em avião emprestado pela Coteminas. Pela manhã, se encontrou com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. Os dois discutiram a possibilidade de ações comuns entre o órgão e o Instituto Lula. Um ponto de interesse é a aproximação do Brasil com a África.
O ex-presidente almoçou com o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira, e pretendia passar a tarde revisando o discurso de hoje e passeando --queria ver as cerejeiras locais. Lula deve partir hoje mesmo para Acapulco e viajar para Londres na próxima terça. Na capital inglesa, além de fazer o discurso a investidores, o ex-presidente pretende se reunir com o historiador Eric Hobsbawm. No fim de semana, Lula vai para a Espanha para receber o prêmio "Libertad Cortes de Cádiz" (mais um). Há uma preocupação nesta viagem --ele quer assistir ao jogo de futebol entre o Barcelona e o Real Madrid, mas ainda não sabe se haverá tempo. Bem remunerado com as palestras, o ex-presidente não pretende receber recursos federais com duas de suas iniciativas - o Instituto Lula (que viverá de contribuições, inclusive do PT) e a empresa que gerencia suas palestras.
Enquanto isso, à “tucanhalada” e adeptos só resta uma saída: ficar chupando o dedinho, ad eternum.