Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

PROGRAMA CARIRI ENCANTADO PROTAGONISTAS – 05/08/2011

Lançamento radiofônico do disco “Santa Fé em Cantos”, com Emerson Monteiro e Francisco Silvino

Tem novidade no ar. Uma agradável surpresa. Um disco musical voador. Que plana fagueiro e alegre pelos céus do Cariri, anunciando coisas boas, um bom agouro de paz e fé.

Trata-se do disco Santa Fé em Cantos. Uma bem elaborada coletânea de composições musicais, reunindo músicos, compositores, letristas e intérpretes, dentre veteranos e novatos, com canções e arranjos bem urdidos e tramados.

A direção do projeto foi de Emerson Monteiro (foto ao lado). E é o próprio Emerson que o apresenta:

“Veja o que acontece quando um grupo de amigos, de apreciadores da boa música, poetas, cantores, compositores nas horas vagas, resolve somar a força da inspiração e chegar ao público com suas canções e vozes. Os meios técnicos contemporâneos permitem atitudes semelhantes. Ainda que o mercado teime em oferecer música massificada que esqueceu os tempos áureos da estética, existem as alternativas de renovação. Assim se propõe Santa Fé em Cantos, que ora lhe chega às mãos, trabalho afinado de sentimentos, acima de tudo fruto de autores que acreditam na melodia e no verso quais valores permanentes para alegrar e sentir o poder da beleza musical. Vamos cantar juntos a riqueza deste mutirão de qualidade sonora do Cariri Cearense.”

Onde ouvir
Todas as sextas-feiras, das 14 às 15 horas na Rádio Educadora do Cariri AM 1020 e www.radioeducadoradocariri.com.

AMIGO

AMIGO

Você já disse, obrigado meu amigo por ser meu amigo ...!?

Uma palavra fácil de dizer “amigo”

Mas verdadeiramente amigos são poucos

Um amigo é um ser altamente especial

Vejamos dessa forma, quando nascemos e temos irmãos, quer queira ou não, eles

são seus irmãos “ isso é imposto pela paternidade e ponto final”

Mas um AMIGO é escolhido, você o escolhe como amigo e ele a você

Um amigo sabe quando estamos tristes, mesmo quando nós estamos com um sorriso na boca

Um amigo chega sempre junto nas horas difíceis

Um amigo é mais um irmão

Um amigo sabe dizer não

Um amigo é um casamento inseparável

Um amigo é o primeiro caminho para paz

Obrigado meu amigo por ser meu amigo

Dedico a todos meus amigos, dizendo, amo vocês

Daniel Hubert Bloc Boris (Jacques)

Artista Plástico

Nota de Falecimento

A familia de Emilia Figueiredo Pimentel comunica o seu falecimento e convida para o sepultamento a se realizar amanhã, 05.08.2011 às 8.00h no cemitério local. Antecipadamente agradece.

Xeque-Mate


Entre 1997 e 2007 houve 41 chacinas em escolas americanas. A sociedade IANQUE ainda hoje se debruça sobre essa epidemia, sem conseguir entendê-la. Por que ? Cultura? Facilidade de acesso às armas? Desagregação familiar? Em Abril, tivemos um ataque semelhante aqui no Brasil , numa escola de Realengo, no Rio, quando treze estudantes foram trucidados. Em todos esses casos, aparentemente, personalidades psicopatas agiram como atores das tragédias. Diferente de outras tantas ocorridas no Brasil, de fundo eminentemente político-social : Carandiru (1992), Candelária(1993),Vigário Geral (1993), Eldorado do Carajás (1996), Presídio de Porto Velho (2003),Reserva Roovselt-Rondônia( 2004), Baixada Fluminense( 2005), Guaíra –Paraná (2008). Tantos e sucessivos massacres por um lado assombraram a população pela crueldade, mas de tão sub-reptícios terminaram por adquirir um estranho ar de normalidade, até porque os culpados raramente pagam penas condizentes com as atrocidades cometidas.

Recentemente, o mundo extasiou-se com um episódio igualmente terrível. Desta vez, na Noruega, uma das únicas/últimas ilhas de pacifismo deste mundão conturbado. Um ex-cidadão modelo, chamado Breivik, chacinou 77 pessoas , montado em obscuras idéias de um Fundamentalismo de Direita. Os massacres americanos parecem fortemente relacionados com distúrbios comportamentais de mentes psicopatas impelidas por Bulling ou pela frustração de terem perdido o bonde da história do american way of life. As brasileiras, na sua maioria, advêm de conflitos de terra, brigas do tráfico e despreparo dos órgãos de repressão. O que ocorreu na Noruega, no entanto, nos remete imediatamente a uma das maiores chagas da história do homem na terra: à Intolerância que já nos turvou a história com episódios como : As Cruzadas, as Jirard´s, a Inquisição, o 11 de Setembro, os Campos de Extermínio de Judeus, os Gulag´s, o Colonialismo em suas mais diversas facetas. A Intolerância, a impossibilidade de conviver com as diferenças, certamente é o mais profundo pântano da história da humanidade e aquele que mais nos distancia da inteligência e racionalidade.

Reflitamos sobre algumas dessas formas de Intolerância. Primeiro , a Religiosa que sempre esteve como interruptor da maioria das guerras. O Afeganistão, o Iraque, a Ásia e a África vivem sob a cortina de regimes fundamentalistas em eterno confronto com os valores ocidentais. Essa violência, no entanto, sempre teve mão dupla e os islâmicos, historicamente, sofreram perseguições e violências de toda espécie. O colonialismo ibérico, inglês, francês e americano levou junto consigo a perseguição das religiões locais e a destruição implacável de templos, objetos sacros e sacerdotes.

A Xenofobia é uma outra forma terrível de intolerância e foi aquela que tangeu Breivik na sua loucura. Grupos de Extrema Direita pululam na Europa e se opõem aos imigrantes, combatendo-os e perseguindo-os, com a estreita visão que eles irão tomar os empregos disponíveis. No Brasil, os Skinheads voltam seu ódio contra os nordestinos. A crise global do Capitalismo tende a piorar o quadro. A Direita xenófoba esquece que a imigração foi criada pelo colonialismo dos países ricos que sugaram toda a riqueza do terceiro mundo, bailando depois como ilhas de felicidade e bem-estar, esquecendo que um dia chegaria a conta para ser paga. Historicamente, o Sul e Sudeste do país fizeram o mesmo com o Norte-Nordeste e agora reclamam das levas de nordestinos que vão para lá, buscando uma parte da verba de que têm direito. Sem esquecer que vítimas do Colonialismo predatório, boa parte dos migrantes são etnicamente europeus, se avalia que 3/ 4 dos Sul-Americanos têm origem perfeitamente européia.

A Homofobia é uma das outras graves facetas da Intolerância. Enquanto juridicamente se avança no sentido de reconhecer os gays nos seus mais primais direitos , recrudesce a perseguição e só no ano passado quase 7000 denúncias foram feitas no Brasil de casos vergonhosos de homofobia. Em pleno Século XXI, os homens não conseguem sequer uma convivência minimamente educada com seus semelhantes. Recentemente , em São Paulo, um pai teve a orelha decepada por um grupo de homófobos ao beijar o filho: imaginaram se tratar de carícias entre namorados .

O Racismo , por incrível que possa parecer, tem recrudescido em todo mundo. Países como Alemanha, Reino Unido e Rússia tem presenciado grupos neonazistas em desfile e ataques a negros repetidamente. O Brasil ,que dá um exemplo ao mundo pela sua fabulosa miscigenação, ainda convive com esse tipo de intolerância cotidianamente. Esquecemos a terrível dívida que temos para com os afro-descendentes que arrancamos dos seus países e os escravizamos em terras brasileiras por mais de 300 anos. É bom lembrar que a etnia afro, padecente de todas as inimagináveis vicissitudes, talvez tenha sido a que mais marcou o Brasil culturalmente.

Toda evolução, todo modernismo, todo desenvolvimento tecnológico do planeta, a aparente queda das fronteiras físicas com a Globalização , tudo isso tem apenas tornado , estranhamente, a humanidade mais intolerante, mais inapta a conviver com as diferenças. As novas gerações poderiam apagar esse estopim, mas as escolas já os formam intolerantes, estimulando a concorrência, formando soldados e não cidadãos. Breivik é apenas um pequeno peão no grande tabuleiro da política mundial, mas sua jogada é tão previsível como a do Bispo, da Rainha e do Rei, só que nesse jogo cruel não há ganhadores; no final as peças estarão todas desarrumadas pelo chão e o tabuleiro terá incendiado.

J. Flávio Vieira

Por quê ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Meses atrás, no transcurso e após a horripilante e pavorosa tragédia que se abateu sobre a decantada cidade do Rio de Janeiro (sem favor nenhum, uma das mais belas e sofisticadas metrópoles do mundo), pela insistência e recorrência um detalhe chamou a atenção de todos nós: quando algum sobrevivente ou membro de alguma família envolvida na tragédia provocada pelo excesso de chuvas tinha a oportunidade de manifestar-se ante as câmeras televisivas, não perdia a chance de louvar a Deus, de garantir ter sido a “mão de Deus” responsável por retirá-lo do meio da enxurrada, de reafirmar que somente a “intervenção divina” explicaria sua sobrevivência e, enfim, que por sua benevolência e magnanimidade “Ele” seria merecedor de todos os créditos e honrarias por ali se encontrar, vivo.
Mas...
Como explicar, então, às famílias enlutadas, o destino fatídico e cruel de quase mil pessoas, dentre as quais dezenas de crianças inocentes e idosos ainda saudáveis, PAVOROSAMENTE SOTERRADAS (vivas) pelos deslizamentos, ou levadas de roldão, ribanceira abaixo, sem qualquer chance de reação, pela força descomunal das águas das chuvas (vindas do céu) ??? Como justificar, de forma consistente e convincente, que a “mão de Deus” não haja guiado essas dezenas de centenas de pessoas, em meio à violência do turbilhão, a uma ilha qualquer, a um porto seguro, salvador e de águas plácidas e cristalinas ??? Como explicar que a benevolência e magnanimidade do “homem lá de cima” (como o rotulou um dos sofridos sobreviventes) hajam contemplado alguns, enquanto, desafortunada e desgraçadamente, famílias inteiras (pais, mães, filhos, parentes outros e simples conhecidos) desciam de roldão na enxurrada, evidentemente que aterrorizados, sem vislumbrar qualquer perspectiva de salvação ??? Que Deus é este que, ao tempo em que concede a “graça e salvação” a alguns, despreza ou esquece de tantos outros fervorosos adeptos ??? Ou será que a “graça e salvação” estariam no desaparecer prematuro, no ir-se mais cedo desse mundo conturbado e violento e, portanto, os que prematuramente pereceram seriam, em verdade, uns privilegiados, ou “escolhidos” de Deus ??? Quais os critérios determinantes para se esclarecer quem deve ou não deve ser salvo pela “intervenção divina”, numa tragédia de tamanha proporção e força ???
Se a chuva é uma “benção dos céus” ou uma “dádiva divina” ou "um presente de Deus", existirá um “Deus” magnânimo e benevolente e um outro cruel e maldoso, capaz de fazê-la provocar tamanha catástrofe ???
POR QUÊ ???

Coisas nossas, por Zé Nilton

Memória dos velhos.

Este é Antonio Inácio da Silva, morador no Sítio Ramada, na Serra do Araripe. Homem honrado e prestigiado por todos os moradores daqueles rincões. Ele é caladão, mas simpático. Aqui e acolá diz umas “brincadeiras” para divertir a quem o escuta.


Morou, quando adolescente, na Comunidade do Caldeirão sob o Beato José Lourenço. Acompanhava o Beato em suas andanças pela Serra. Teria sido uma espécie de “secretário” do famoso Zé Lourenço.

Antonio Inácio mantém a tradição da Renovação do Sagrado Coração de Jesus, um culto resistente do catolicismo popular, chamado ainda de festa, onde o sagrado e o profano ocupam o mesmo espaço – a residência, o lar, síntese do patrimônio da família. O oficiante da Renovação é sempre alguém letrado, vizinho e amigo da família. Neste dia a casa se reveste de elementos festivos, e os fogos são o convite para todos participarem.

Como todos os velhos habitantes da Serra do Araripe, que vieram de longe, no tempo da pressão populacional sobre Juazeiro do Norte e da fome que grassava o Nordeste do polígono das secas, suas histórias são de um heroísmo sobre-humano, com façanhas incomuns na luta para se estabelecerem nas terras que, embora devolutas, sempre estiveram nas mãos de ricos agropecuaristas.

É verdade que os pequenos agricultores resistiram a toda a sorte de ameaças a expropriação, e lutaram para manterem-se como produtores livres, resultando dessas lutas não só a manutenção das comunidades baseadas nos limites das posses como também das antigas referências distintivas dos lugares. Num mundo sem “lei e nem grei”, a lógica do mais forte é usar a violência de todos os matizes para deserdar impiedosamente da terra o outro desprestigiado socialmente.

Algumas lutas narradas, hoje, vêm carregadas de todas as nuances de uma ação heróica. A rememoração de algumas resistências traz um imperativo sagrado na narrativa, misturando mito e realidade, mas nem por isto deixando de ser uma história.

Em minhas andanças pela Serra, um dia ouvi de seu Antonio Inácio, contado pausadamente, um fato inusitado por bater as portas de um milagre ou, se quiserem podem encaixá-lo no campo do realismo fantástico.

“...Eles deram pra gente se arranchar aqui. Nós tinha uma barraquinha ali, uma barroca mesmo. Aí se arranchemos lá e papai tocou umas roças. Aí depois que ele estava com esta roça, aí o dono [ das terras] botou ele pra correr. Pra nós ir embora, pra nós sair. [...] Papai disse: - não saio, não; só quando eu colher a roça. Aí ele disse: - Se não sair nós tocamos fogo, vou tocar fogo no mato... Aí ele disse: - pode tirar os troços de dentro da casa, senão eu toco fogo. Aí papai disse: - eu não tiro um lenço de dentro de casa... Aí ele veio e tocou fogo no mato ao meio dia em ponto. O fogo açoitou de cabeça afora em procura da barraca... Mamãe disse: - vamos sair de dentro de casa senão vamos morrer todos queimados. Papai disse: - daqui não tiro um lenço, e daqui ninguém sai. Aí ele entrou pra dentro do mato e o fogo veio e veio, quando chegou onde ele estava, veio um vento e açoitou o fogo todinho pra cá, pra trás. Ai ficou a lista (de carvão) no chão de fora a fora. Aí ele voltou e veio ver se a gente tinha se queimado. Ele chegou e nós estava todos dentro da barraca e o mato ao redor, que não tinha queimado. Aí nessa hora chegou o irmão do homem e disse: - olhe, com este velho aqui ninguém bole.”

Fiquei olhando para aquele senhor sem saber o que esboçar. Nessas horas, pensei comigo, é melhor a gente citar a famosa frase de Miguel de Cervantes: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”

E para quem gosta, hoje no programa Compositores do Brasil, na Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducadora1020.com.br) , o famoso Canhoto da Paraíba, o homem que reinventou a música.

Bom fim de semana.

Sentir a dor alheia - Emerson Monteiro



Isto já ensinam as religiões desde priscas eras, em se colocar no lugar do outro nas horas necessárias, para saber o que ele sentirá diante das circunstâncias que o levaram ao erro de comete delitos graves ou leves quais sejam. Antes dos julgamentos prévios há de haver essa formação de uma consciência da dor que ele amargura, e, só então, agir e condenar.

Tais avaliações anteriores às sentenças previnem o risco das limitações humanas; o impulso dos interesses particulares e injustos. Invés de jogar mais carga nas costas dos semelhantes pela precipitação, buscar, sim, diminuir o peso que outros carregam, porquanto, no solo comum das existências, funcionam bases maiores da justiça que predominam todo tempo.

Inúmeras vezes, o egoísmo dos desejos próprios determina as ações das criaturas, levando-as ao tribunal antes de realizar os julgamentos a que se propõem. No Evangelho, Jesus trata o assunto com extrema clareza quando fala de quem enxerga o argueiro no olho dos outros e não vê a trave que existe no olho de quem julga. Bem humano esse jeito de laborar, no transcorrer dos séculos.

Com isso, aprender a lição da transferência para si mesmo das agruras alheias, o que facilita sobremodo o gesto de viver, orientação dos campos da sabedoria. Observar na distância de algumas braças até compreender e julgar, e procurar a justiça nos armários da consciência individual, pois a lei superior mora gravada no íntimo do ser que somos, a fim de enquadrar os companheiros de viagem nos artigos em que é sujeito lá estarmos escondidos, eis uma norma de real valor, neste mundo ainda contraditório.

O resultado dessa atitude refinada produzirá frutos bons junto ao direito universal da Natureza, nos momentos que virão depois, guardando saldos positivos de bênçãos em forma de saúde perfeita, amizades, respeito coletivo e construção definitiva das esperanças de um paz social duradoura em benefício de todos nós.

Uma jornada republicana (editorial do jornal Estado de S.Paulo)

-- postado por Armando Rafael -- O senador Alfredo Nascimento teve os seus 15 minutos de glória - vá lá a palavra - ao subir à tribuna, 27 dias depois de ser obrigado a deixar o Ministério dos Transportes, para dar o show de indignação de todo político alvejado pela revelação de ilícitos. No caso, a denúncia de contratos superfaturados e cobrança de propinas em benefício do PR que Nascimento preside e que controlava a pasta. Dedo em riste, conforme a expressão corporal dos injustiçados, o notório político amazonense se disse "julgado e condenado sem que pudesse me defender" e acusou a presidente Dilma Rousseff de não lhe ter dado o apoio que prometera quando rebentou a crise.

Aproveitou para assinalar que estava licenciado do Ministério, no ano eleitoral de 2010, quando, na gestão do secretário executivo (e atual titular) Paulo Passos, os gastos do PAC no setor saltaram de R$ 58 bilhões para R$ 72 bilhões. Ao voltar ao cargo, teria informado a presidente do que escolheu chamar de "descontrole". Mas não foi pela dupla insinuação - contra o substituto e sobre o eventual elo entre a campanha presidencial e o "descontrole" - que ele ganhou as manchetes. Foi graças ao achado de criar uma versão particular da canção de Waldick Soriano Eu não sou cachorro, não.
Reagindo com o necessário ardor à faxina empreendida por Dilma nos Transportes, que até o começo da semana já derrubara 27 servidores da área, exclamou: "Eu não sou lixo, meu partido não é lixo, nós somos homens honrados".

O PR está representado no Congresso Nacional por 47 políticos assim qualificados. Pouco depois da fala de Nascimento, os 7 com assento no Senado, decerto para fazer jus à designação, anunciaram o seu desligamento do bloco que faz parte da maioria governista na Casa, integrado pelo PT, PSB, PC do B, PRB e PDT, e liderado pelo petista Humberto Costa. No mesmo tom de ira justa do titular da legenda, o seu líder no Senado, o exuberante Magno Malta, atribuiu a saída do bloco à "execração pública de inocentes que estão sendo arrastados para o esgoto porque alguns estão se fazendo de paladinos da moralidade". Mas, na mesma veia republicana do nome da agremiação, anunciou que "daremos apenas apoio crítico" ao governo.

Ou seja, o preço aumentou. E, além disso, se bem se entendem as palavras do seu colega Blairo Maggi - "Daqui para a frente deixa-se livre quem tem mais afinidade com a matéria" -, cada membro da confraria dos homens honrados terá liberdade de praticar o preço que lhe convier. Como diria o velho Marx, "a cada um segundo as suas necessidades". Rememoram-se os melhores momentos da jornada republicana da segunda-feira porque contêm os ingredientes dessa geleia indigesta que a presidente da República não podia ignorar que lhe seria servida se desse certo o plano do patrono Lula de fazê-la sua sucessora.

Ao longo de julho, ela conquistou a opinião pública com a sua pronta resposta às denúncias da esbórnia nos Transportes. Mas até os companheiros - se não o próprio Lula, de viva voz - já a advertiram para a inconveniência de ser a palmatória do mundo político de que depende. É o que parece explicar a sua decisão de não mais se pautar "por medidas midiáticas" em face da corrupção. Ministros na berlinda devem se explicar no Congresso. Foi o que tocou ao titular peemedebista da Agricultura, Wagner Rossi, ligado ao vice-presidente Michel Temer. Depois de perder a boca na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) por autorizar um pagamento indevido, Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, também do PMDB, acusou Rossi de ser mais corrupto que o pessoal dos Transportes.

No dia em que Nascimento roubou a cena no Senado, a caciquia da legenda decidiu que o problema dos Jucás não era político, porém familiar, e que não há problema algum com Rossi. Como prova de que os costumes da política brasileira não correm perigo de melhorar, o registro se completa com a reflexão do presidente do Senado, José Sarney, sobre o episódio. "Parentes no governo", ensinou, "sempre criam problemas, ou para o governo, ou para o parente." Como se ele tivesse aprendido essa verdade olhando o entorno - e não por alentada experiência própria.