Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 11 de outubro de 2011

BlogHUMOR - Você quer ser político ? Pois veja o dia-a-dia de um Político. Imperdível...


Você quer ser político ? Pois se prepare para a realidade, o dia-a-dia de um político. Depois dessa, você vai pensar 2 vezes, rs rs

Vale a pena ouvir. Um dos melhores textos sobre Política:





E aqui, parte do texto:

Você quer ser político ?

"Eu não! Olhe coroné! Como eu sou um cabra vivido e espromentado nas beira de postulança political, eu vou lhe dizer um retalho de sabença, que é a pronunça mais apronunciada sobre política, que inxeste nesse mundaréu selvageado pelos animá, vegetariado e barrido pelas palha dos coqueiro e aguado pelas onda do mar: Além de sintoma prefeituroso, embocadura deputadal, cancha pra governador e senador e sustança de presidente, o cabra pra ser político no Brasil, precisa no mini-minimóro dos seguintes adjutórios: ( dois pontos )

"Começar a juntar dinheiro, pra depois começar a juntar gente; engolir muita rimunheta de cabra falso, felaputista e pidão; desatar nó-cego de convenção; escutar caquiado dificultoso de partidário que só tem um voto e olhe lá; entrar em embuança de campanha; prometer como sem falta e faltar como sem dúvida; ficar refém da língua do povo; pegar roleta de boca com camumbembe; fazer conchavo com reservista da ditadura; desgaviar o caminho mode os quixó da oposição; receitar pra má-de-monte; desmurmurar mulher falsa e coiseira; acompanhar inrrolamento de papé-de-justiça; levar fama de ter esfrabicado moça donzela; levar fama de ser corno, baitola e ladrão; agüentar fazimento de pouco de eleitor desbriado; botar tamanca pra opositor bom de peia; bater quinhento de bombo com xangozeiro; gritar aleluia em igreja Pegue & Pague; alegrar sessão espírita; assistir meia missa e sair comungado; batizar menino feio com o nome de Dysmeniélisson Jerry; dar dicomer do bom e comer porcaria; almoçar em lata de goiabada; despronunciar discurso má-feito de candidato tabacudo; aplaudir discurso desvirgulado, sem rumo e sem ponto final; cair do palanque e sair todo ralado e se abrindo; aturar converseiro duplicado mesmo depois de banzeiro; aturar gente furona e desconhecida dentro de casa; viver rindo e fumaçando pelo fundo, feito ferro de engomar; acabar sua D-vintezinha na buraqueira; aturar babões civis e militares; botar no braço menino novo do fundo cagado; tomar cerveja quente de espuma murcha; tomar uísque Drury's sem gelo, numa xícara de louça com tira-gosto de canjica; beber naquelas mesona de imbuia, numa saleta escura e abafada, encostado numa cristaleira, e cercado de cabos eleitorais com cada sovaqueira de torar; entregar taça de campeão a time safado;

chorar em velório de desconhecido; escrever bilhete com lápis de ponta quebrada; professorar as iniciais do nome de campanha pra eleitor tapado; escorregar em lama de esgoto; gritar ô-de-casa em casa oca; se abrir pra eleitor desabrido; pagar cana pra pinguço desocupado; farejar poeira de bunda em palanque; levar dedada no cá-pra-nós quando está nos braços do povo; escutar destampatório de foguetão no pé do ouvido; magoar o dedo mindim em passeata; dormir chiqueirado da mulher e dos filho;

apertar mão de cotó; ganhar abraço fedorento; receitar caixão de defunto e ambulânça; enfiar a mão em saco de dentadura pra distribuir com a mundiça; comprar votos em dia de eleição; estelionatar voto em boca de urna; entrar em embuança de apuração; dar cobro de voto roubado; apertar mão de traidor oportunista, e depois de eleito começar essa camumbembage toda de novo... DEUS O LIVE d'eu sair candidato! Chega me faltou suspiração... E eu vou epilogar por aqui, porque conversa de política é feito coceira, só quer um pezim Coroné! "

Autor: Jessié Quirino

O linguajar matuto


Pedro Esmeraldo

De vez em quando, tenho vontade e a sensação de reavivar a memória com o intuito de estudar a origem das palavras primitivas do Nordeste.

É um linguajar eivado de erros que faz todos nós matutarmos como se fossem palavras modernas e eficientes, mas com atenção pronunciados nesses tempos modernos. Com efeito, há pronunciamento errôneo que vem sendo falado através dos tempos por um povo risonho, mas possuidor de pouca prática do uso do ofício.

Como convivi desde minha infância com o pessoal da roça, habituei-me a dialogar os dizeres desse povo, pois tinha intimidade em ouvir as suas orações provenientes dos costumes antigos.

O matuto caririense era intuitivo, dotado de um saber medieval que às vezes causava admiração quando alguns deles se deparavam nas disputas de violeiros, quando freqüentavam os terreiros da casa grande do patrão do Sertão. Contudo reinava entre eles sabedoria, pronunciando versos elevados, mostrando saber que deixavam todos boquiabertos. Entre meios rústicos havia pessoas cultas que demonstravam loquacidade, deixando muitos admirados, como é entre os homens moradores do Sertão nordestino. Eram estudiosos, narravam com dignidade as histórias dos feitos heróicos dos tempos da dinastia da época de Carlos Magno.

Por isso, desejo contar para reavivar a memória, fatos acontecidos do segundo quartel do século XX. Esta história foi narrada pela minha mãe, visto que durante a costumeira visita à sua terra natal do médico cratense, psiquiatra, professor da Universidade do Brasil, membro de uma ilustre família local, rumou para um outro mundo no início de sua juventude a fim de buscar conhecimentos médicos – para nunca mais morar em sua terra.

Pois bem, certa vez retornando ao Crato com ânsia de matar a saudade e rever seus familiares não estava mais habilitado a observância dos costumes matutos; estranhou quando ouviu os hábitos alimentares dessa gente com pratos elevados de comida, cheios de gordura; então teve a idéia de perguntar ao pobre matuto se essa comida não repugnava. O matuto atoleimado ficou perplexo e não entendeu palavra do médico, respondendo apenas a palavra errada, dizendo: Cuma? Novamente o médico repetiu a pergunta e o matuto não entendeu patavina de suas palavras. Daí minha mãe vendo que o matuto não entendia a pergunta do médico tomou a palavra e disse: espere aí Zaqueu, é assim que se fala: não arripuna não? Aí o matuto entendeu respondendo: arripuna inhô sim. Aí o médico não teve outra coisa senão rir. Por certo, nunca mais esqueceu estas palavras erradas pronunciadas pelo matuto.

Naquela época a civilização ainda não tinha chegado ao interior do Nordeste. Somente em algumas cidades mais evoluídas tinha o desejo de se estudar com mais perfeição. Somente com uma dosinha elevada de sacrifício tinha de se deslocar para os meios maiores procurando com o desejo de aprimorar os seus conhecimentos como foi o caso desse médico que teve que ir para o Rio de Janeiro e lá então foi uma pessoa influente já então na capital federal.

Autor: Pedro Esmeraldo

Pensando bem...

"Sobre os vestibulares:
 

Se eu fizer os exames vestibulares, não passarei.
E se o novo reitor da UNICAMP fizer os vestibulares, não passará.
Se o Ministro da Educação fizer os vestibulares, não passará.
Se os professores das universidades fizerem os vestibulares, não passarão.
Se os professores dos cursinhos que preparam os alunos para passar nos vestibulares fizerem os vestibulares, não passarão (cada professor só passará na disciplina em que é especialista...).
Se aqueles que preparam as questões para os vestibulares fizerem os vestibulares, não passarão.
Então me digam, por favor: por que é que os jovens adolescentes têm de passar no vestibular?
Os vestibulares são um desperdício de tempo, de dinheiro, de vida e de inteligência.
Passados os exames, a memória (inteligente) se encarrega de esquecer tudo
A memória não carrega peso inútil. "

Rubem Alves

Cid Gomes: Personagem Trágico - Por: Douglas de Paula (Professor do Curso de Letras da UECE)

Douglas de Paula (Professor do Curso de Letras da UECE)

Creio que o Pequeno Príncipe Cid Gomes está deixando de ser um personagem infantil para se tornar gente grande, mas, infelizmente, gente grande que não conhece sua própria medida: Cid está se tornando um personagem trágico, uma espécie de Édipo de Sobral. No lugar das pitonisas do Oráculo de Delfos, ele consulta o irmão Ciro Tirésias, um cego que pensa que tudo vê, mas que enxerga somente o próprio umbigo. Como todo personagem trágico, Cid Gomes está cometendo um ato desmedido (hybris), o que irá atrair para si inevitavelmente um erro, gerado por suas próprias ações. Todo personagem trágico erra porque se aferra obstinadamente a seu próprio ponto de vista e não consegue ouvir os outros.

Depois da truculência do Batalhão de Choque na Assembleia Legislativa contra os professores, a sociedade civil do Ceará demonstrou, através da imprensa e da Internet, sua solidariedade aos professores, mas isso em nada abalou os ouvidos do Príncipe (agora estou em dúvida: Cid está mais para o Príncipe de Maquiavel ou para o Pequeno Príncipe de Exupéry?).

O Dr. Mourão, em artigo de seu Blog, é que usou a palavra certa, sem deslizes: o que houve na Assembleia foi AGRESSÃO contra os professores. Enquanto os senhores de-putados se preocupavam com a destruição do “patrimônio público”, os professores eram agredidos pelo Batalhão de Choque, sem ter acesso às galerias da “Casa do Povo”. E a Educação, às portas do Plenário, bem próxima ao “quadrilátero de segurança” do Governa-dor, era agredida em seus pressupostos básicos. O professor precisa de condições materiais para viver. Ninguém trabalha por amor. Pensar que professor trabalha por amor reflete o amadorismo de um Pequeno Príncipe metido a Governador ou a ruptura da máscara ideológica do Príncipe maquiavélico.

Caiu a máscara de Cid? Creio que não. Não dá para esperar mais do irmão de Ciro Gomes. Dá para esperar menos. Menos respeito com os servidores, menos salários para os professores, menos democracia em seu mandato. De mais mesmo só seu orgulho e sua obstinação, pontos centrais de sua hybris trágica e do começo de sua queda. Seu irmão já experimentou tal queda, pois nunca terminou um mandato, foi o deputado federal que mais faltou ao Congresso e atualmente vagueia no limbo da política, assessorando (muito mal) o irmão.

Não sei se Freud explica, mas, inconscientemente, talvez um irmão sonhe com a queda do outro. A disputa entre irmãos é comum na história humana, e René Girard explica bem direitinho essa rivalidade mimética. Um irmão acaba refletindo o outro, tornando-se o outro. Até os nomes contribuem para esse mimetismo: Ciro/Cid, Cid/Ciro. E qual o erro trágico do Pequeno Príncipe?
Resposta: não querer conversa. Cid diz: “Só negocio com o fim da greve”, e estamos conversados. Édipo agiu assim. Antígona também. Creonte idem. Todos os personagens trágicos se julgam maiores do que são e acham que não precisam prestar contas a ninguém. Para eles, dar o braço a torcer é sinônimo de fraqueza. O personagem trágico, como diz Jean-Pierre Vernant, é pego pelas próprias palavras. Não admira que Cid tenha disparado tantas frases esdrúxulas nas últimas semanas. Ele não consegue ficar calado, porque não admite que alguém se lhe oponha resistência. Afinal, foi Ciro que disse, numa greve de médicos, que médico era como sal: branco, barato e se acha em qualquer esquina. Nada há de surpreendente que Cid, o “genérico” de Ciro, solte aos quatro ventos que professor deve trabalhar por amor.

É justamente aí que Cid/Ciro ou Ciro/Cid erram: tornam-se seres obcecados, obstinados. Somente a obstinação não reconhece que tudo flui, e a única coisa permanente do mundo são as mudanças das coisas. Parece que o Governador nem percebeu que, na Internet, seu nome está indelevelmente manchado. O sangue dos professores, que correu na Assembleia Legislativa, suja o assoalho muito limpinho do Palácio da Abolição, numa metonímia direta entre governo/Governador. O único modo de limpar essa sujeira é respeitando os professores, pagando-lhes um salário digno e, o mais importante, obedecendo ao que manda o STF, que concede ao professor 1/3 de sua Carga Horária para preparação de aulas.

Se não estava nos planos do Governo aprovar um Plano de Carreira para os professores e, como disse o próprio Governador, por ele, nem Carreira existiria, que ele agora aproveite o momento para mudar de planos. Falta dinheiro? Duvido muito, pois parece que não falta para os escândalos dos banheiros ou do Cartão Único, ou para o famigerado Aquário de Fortaleza. Mas tudo bem: aceitemos a conversa fiada: falta dinheiro. Mas diz a Lei do Fundeb que, se o Estado não tiver condições para arcar com as despesas do Piso, a Federação entrará com a contraparte. Basta “apenas” que o Estado abra suas contas e prove que já investiu o máximo do orçamento em Educação. Onde está o problema, meu povo? Na falta de dinheiro, na sobra de insensatez, na desculpa esfarrapada, na maldade pura e simples ou num projeto político para deixar a Educação Pública sempre precária? Talvez um “malte” de tudo isso junto. Se o Governador não encontrar uma saída madura, será o início do fim de seu governo. Talvez de seu Principado. Talvez do Principado de todos os Ferreira Gomes.

Lembrete ao Pequeno Príncipe, parodiando Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que tu agrides”.

Eliane Carvalho

"Nós amamos as pessoas por aquilo de belo que elas fazem nascer em nós." ( A Selva e o Mar - Rubem Alves).

Pensamento para o Dia 11/10/2011


“Muitas pessoas realizam Sadhana (exercícios espirituais) a fim de perceber a Divindade. Mas, se eles não entendem as qualidades humanas, todos os esforços tornam-se exercícios de futilidade. Sem aprender o alfabeto, como se pode adquirir o significado e o uso de palavras, frases e sentenças? Valores humanos são os alfabetos básicos da espiritualidade. Desenvolva valores humanos e fé inabalável no Divino. Domine isso e seu Sadhana será eficaz. Você também deve compreender que não existe prazer sem dor e que a dor é apenas um intervalo entre dois prazeres. Sempre que tiver uma experiência desagradável, você deveria ter a fé inabalável de que isso é para algo bom que você estará desfrutando em um futuro próximo e, portanto, pare de se preocupar.”
Sathya Sai Baba

"Tem, sim" - José Nilton Mariano Saraiva

Contando com o beneplácito da imprensa cearense – que é pródiga em propagar seus arroubos e pavonadas, mas incapaz de aprofundar e cobrar de forma mais incisiva certos questionamentos - o senhor Ciro Gomes (atualmente desempregado) saiu pela tangente quando questionado “en passant” a respeito da denúncia de um colega de partido (Sérgio Novais) de que teria sido designado pelo irmão-governador Cid Gomes para a função de assessor político do PSB, percebendo remuneração mensal de R$ 22.000,00 (o correspondente aos salários de 41 trabalhadores/mês) ou R$ 264.000,00 anualmente.
Pois bem, mesmo sem desmentir a denúncia (sinal de que tem fundamento ???), segundo o jornal O POVO, de 11.10.11 - “...O ex-deputado federal Ciro Gomes reagiu irritado ao ser questionado pelo O POVO sobre recursos de R$ 22 mil que receberia para dar consultoria política ao PSB cearense – cuja executiva estadual é presidida por seu irmão, o governador Cid Gomes” (ipsis litteris).
Para justificar tamanho descalabro, Ciro Gomes teria declarado simplesmente que “...nunca recebi nenhum centavo ilegal na minha vida...” enquanto um dos áulicos integrantes da executiva estadual (Zezinho Albuquerque) teria confirmado que “...Ciro vem sendo pago pela legenda há cerca de quatro meses, com o consentimento do grupo”.
Segundo ainda o jornal, Ciro Gomes, com cara de poucos amigos, teria afirmado arrogantemente que “...não tenho de dar satisfação a ninguém”, esquecendo que o dinheiro é do contribuinte e este TEM, SIM, interesse em saber como, quando, onde e porque é empregado (e se a imprensa cearense fosse honesta e imparcial, mergulharia fundo na questão).

Doutor Lula – por Ricardo Vélez Rodrígues (*)

Lula, como Brizola, é um grande comunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista.
A característica fundamental desse tipo de líder é, como escreve o professor Pierre-André Taguieff (A Ilusão Populista - Ensaio sobre as Demagogias da era Democrática, Paris, Flammarion, 2002), que se trata de um demagogo cínico. Demagogo - no sentido aristotélico do termo - porque chefia uma versão de democracia deformada, aquela em que as massas seguem o líder em razão de seu carisma, em que pese o fato de essa liderança conduzir o povo à sua destruição.

O cinismo do líder populista já fica por conta da duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperança (e como Lula sabe fazer isso: "Os jovens devem ter esperança porque são o futuro da Nação", "o pré-sal é a salvação do brasileiro", e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir, com a falência das instituições que garantiriam a esse povo chegar lá, à utopia prometida...

Lula acelerou o processo de desconstrução das instituições que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representação, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente que se tratava de mais uma prática de "caixa 2" exercida por todos os partidos (seguindo, nessa alegação, "parecer" do jurista Márcio Thomas Bastos) e proclamando, em alto e bom som, que o "mensalão nunca existiu". Sob a sua influência, acelerou-se o processo de subserviência do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritários da História republicana se acirrou, mas que sob o PT voltou a ter uma periclitante revivescência, haja vista a dificuldade que a Suprema Corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo mensalão ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de dois anos, para salvar um membro de conhecido clã favorável ao ex-mandatário petista).

Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consigna de um "Brasil grande" que é independente dos odiados norte-americanos, mas, certamente, está nos causando mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o País não conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direção da Unesco, nem a presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), nem a entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.

Lula, com a desfaçatez em que é mestre, conseguiu derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo as torneiras do Orçamento da União para municípios governados por aliados que não fizeram o dever de casa, fenômeno que se repete no governo Dilma. De outro lado, isentou da vigilância dos órgãos competentes (Tribunal de Contas da União, notadamente) as organizações sindicais, que passaram a chafurdar nas águas do Orçamento sem fiscalização de ninguém. Esse mesmo "liberou geral" valeu também para os ditos "movimentos sociais" (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursos da Nação para suas finalidades políticas de clã. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenções da imprensa marrom a serviço dos poderosos.

A política social do programa Bolsa-Família converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou à dependência do favor estatal milhões de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos sem contrapartida nem fiscalização. Enquanto ocorria isso, o Fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. "Nunca antes na História deste país" se tributou tanto como sob os mandatos petistas, impedindo, assim, que a livre-iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, não inflacionárias.
Isso sem falar nas trapalhadas educacionais, com universidades abertas do norte ao sul do País, sem provisão de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionarem. Nem lembrar as inépcias do Inep, que frustraram milhões de jovens em concursos vestibulares que não funcionaram a contento. Nem trazer à tona as desgraças da saúde, com uma administração estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidadãos morrem na fila do SUS.

Diante de tudo isso, e levando em consideração que o Brasil cresceu na última década menos que seus vizinhos latino-americanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada ou fruto de tremenda ignorância do que se passa no nosso país. Os doutores franceses deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada, fruto da era lulista, para o desmonte das instituições republicanas promovido pelo líder carismático e para as nuvens que, ameaçadoras, se desenham no horizonte de um agravamento da crise financeira mundial, que certamente nos encontrará com menos recursos do que outrora. Ao que tudo indica, os docentes da Sciences Po ficaram encantados com essa flor de "la pensée sauvage", o filho de dona Lindu que conseguiu fazer tamanho estrago sem perder a pose. Sempre o mito do "bon sauvage" a encantar os franceses!

O líder prestigiado pelo centro de estudos falou, no final do seu discurso, uma verdade: a homenagem ele entendia ter sido feita ao povo brasileiro - que paga agora, com acréscimos, a conta da festança demagógica de Lula e enfrenta com minguada esperança a luta de cada dia.
(*) Ricardo Vélez Rodrígues, coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora.
e-mail: rive2011@gmail.com
(Transcrito de  “ O Estado de S.Paulo”)