Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cearense de escola pública acerta 95% do ENEM

João Vitor dos Santos, 16, acertou 172 questões das 180 do Enem. O estudante do 2º ano de uma escola pública quer cursar Ciências Biológicas
Ver João Vitor falar sobre a recente conquista é assistir à luta entre a timidez do garoto mais acostumado aos livros do que a grandes conversas e o orgulho de quem está vendo o esforço recompensado. O número da vitória é de impressionar: João Vitor acertou 172 questões das 180 que compõem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O equivalente a 95,5% de acertos. Mas João Vitor Claudiano dos Santos, 16, aluno do 2º ano da Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, ainda não consegue mensurar o significado do feito.
O menino agora espera o resultado oficial, que deve sair em janeiro de 2015, mas, em um comparativo, João Vitor ultrapassou os 164 acertos da estudante mineira Mariana Drummond, que conquistou o primeiro lugar no Enem 2013. A nota final ainda depende do desempenho na Redação, que João acredita ter sido a mais difícil das avaliações.
“Sempre ouvi falar da dificuldade que é o Enem e tinha medo. Mas quando vi, sinceramente, achei muito fácil. Quando corrigi pelo gabarito, não fiquei assustado, apenas lamentei pelas oito (questões erradas)”, diz com a simplicidade de quem dormia em média quatro horas por dia para garantir o bom desempenho, que ele credita também ao apoio recebido dos professores.
A ficha da biblioteca, lugar preferido de João, já vai na segunda folha e ultrapassa os 40 livros. A leitura assídua é o segredo dele. “O que tem de cansativo no Enem são os textos grandes. Então, minha estratégia foi me adaptar à leitura, ler livros grandes, alguns com linguagem rebuscada”.
João, cujo maior orgulho é ter estudado a vida toda em escola pública, ainda não sabe se irá cursar o 3º ano, mas quer fazer Ciências Biológicas e sonha em viajar para o Reino Unido pelo Ciência Sem Fronteiras. Aos 16 anos, ele tem muito bem traçados os planos da vida. “Sempre me vejo fazendo especialização em bioquímica e biologia molecular. Quero ser pesquisador e estudar o resto da vida”.
Criado pela mãe, a aposentada Ana Maria Santos, morador do bairro Vila União, quarto de cinco irmãos, João será o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Os estudos foram, para ele, a forma de transformar o próprio destino. “Sou um garoto que não conheceu o pai, que sempre sofreu bullying por ser nerd, por causa do cabelo, do sapato, da magreza. O estudo não combateu minha timidez, mas me ajudou a ser feliz”.

Fonte: Blog Conversa Afiada com Paulo Henrique Amorim

domingo, 16 de novembro de 2014

Quem não possui talentos? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

"O homem que trabalha faz a terra produzir, o trabalho multiplica os dons, que iremos repartir."
   

Ter talento é possuir algo muito parecido com os dons, porém com uma diferença substancial. Dons são capacidades inatas que todos nós possuímos para realização de certas tarefas. Algumas pessoas com maior facilidade do que outras. Como tão bem definiu São Paulo: "Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito." (1Cor,12,4)  Uns dominam a matemática com muita facilidade, outros possuem o dom da palavra, fazem discurso eloquentes ou são possuidores de boa redação. Há os que têm o dom de elaborar projetos, enquanto outros receberam como dom o domínio da música. São capazes de tocar instrumentos musicais, mesmo sem o conhecimento da teoria. Salve o grande dom da poesia com o qual foi dotado o saudoso Patativa do Assaré, humilde camponês, mas dono de uma admirável cultura, apesar de seu aprendizado escolar não ter ido além da Cartilha de Felisberto de  Carvalho. São tantas as atividades com as quais nos defrontamos, que para uns são mais fáceis e para outros muito mais complexas. Depende portanto dos dons com os quais cada um de nós fomos agraciados.

Já o talento é um gosto especial para alcançarmos determinados objetivos, independente de possuirmos alguma herança genética para tal. Talentos são portanto, atributos que podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados pelo treinamento e muita perseverança. Poderá também ser entendido como a capacidade de colocar à serviço os dons de que cada um nós dispomos.
  
O termo "talento" da forma que hoje o usamos, teve origem na mensagem evangélica conhecida por "Parábola dos Talentos". Narra o evangelista Mateus que um rico proprietário empreenderia uma longa viagem e, portanto confiou os seus bens a seus empregados, tudo "de acordo com a capacidade de cada um". Ao primeiro entregou cinco talentos, a outro dois e apenas um talento ao terceiro. Em seguida viajou para o estrangeiro.

Depois de algum tempo, o patrão voltou e foi ajustar contas com seus empregados. Aquele que recebeu cinco talentos, trabalhou e entregou-lhe mais cinco que havia lucrado. O patrão o elogiou: "Empregado bom, e como foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe entregarei muito mais". O que recebera dois talentos, da mesma forma recebeu idênticos elogios do patrão; mas aquele que recebeu apenas um talento, disse: "Senhor, eu sei que és um homem severo pois colhes onde não plantastes e recolhes de onde não  semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence". O patrão lhe respondeu que se aquele empregado o julgava tão cruel ele deveria ter depositado o dinheiro no banco, para que rendesse com juros. Em seguida ordenou: "Tirem dele o que tem e dêem ao que tem mais. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais e terá em abundância. Mas daquele que não tem, tudo lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão, onde haverá choro e ranger de dentes".

Quem é esse proprietário que distribui os seus bens (talentos) com os empregados, para depois cobrar de cada um o que realizou com eles? Provavelmente ele conhece profundamente seus empregados, pois distribuiu os bens de "acordo com a capacidade de cada um." E não foi pouco o bem confiado. Segundo estudos históricos, a moeda de um talento equivalia aproximadamente a 34kg de ouro. Assim sendo, ninguém poderia reclamar que recebeu pouco.

Resumindo: a parábola nos ensina que Deus, o proprietário, confiou a cada um de nós os seus bens, que são nossos talentos de acordo com as nossas limitações ou seja: conforme nossa capacidade de colocá-los a serviço da construção do Reino. E o Reino de Deus é uma sociedade pautada pelo respeito à vida, onde haja justiça, liberdade e paz. Conforme tão bem afirmava o teólogo alemão Bernhard Häring: "Se não nos convertermos profundamente a favor da paz, da justiça e da nossa responsabilidade com a criação, não haverá futuro".

Se enterrarmos nossos talentos e não contribuirmos com a construção do Reino, correremos o risco de sermos lançados na "escuridão" onde haverá "choro e ranger de dentes". Melhor traduzindo: correremos o risco de vivermos uma vida sem sentido.

Por outro lado, poderemos interpretar a parábola como as injustiças praticadas por um sistema político-econômico opressor, que escraviza e sobrecarrega os mais humildes, isto é: os trabalhadores, enquanto os proprietários gozam de privilégios, passeando despreocupadamente. 

De nada adiantará lamentações do tipo: a vida é dura, não tenho tempo e por isso nada poderei fazer. Ou não sei nada, não tenho condições para desempenhar tais tarefas; por isso não poderei fazê-las. Como tão bem nos assegura a sabedoria popular: "Deus nos dá o frio, conforme o cobertor". Isto é, nenhuma missão que Ele nos confia é superior à nossa capacidade de realização, que são nossas aptidões, ou seja, a vontade de realizar; nossos talentos.

É sempre bom lembrar a frase atribuída a Albert Einstein, que ouvi certa vez de um amigo: "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.  Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança". Ou seja, de nossos talentos.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

De Paris a Roma a pé: - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Imagine se você, caro leitor, teria coragem de fazer uma viagem do Crato até Belém do Pará andando a pé os 1480 km de distância, sem aceitar carona, dormindo debaixo de barracas de lona, sobre esteiras ou colchonetes às margens das rodovias, ou em hotelzinhos de beira de estrada ou ainda em casas religiosas, se por acaso existissem? E se você tivesse 75 anos de idade, mesmo assim se arriscaria a tamanha aventura? Nem mesmo se tivesse uma causa tão importante que o motivasse para realizar tal jornada? Seria algum protesto de grande porte que chamasse a atenção da opinião pública mundial? Pois saibam todos, que uma distância um pouquinho maior do que essa foi percorrida pelo sacerdote redentorista francês, Padre Henry-Marie Le Bouriscaud,  quando ele tinha a idade de 75 anos. Ele viajou 1507 km à pé de Paris até Roma para apresentar ao Papa João Paulo II seus protestos sobre a forma como a Igreja Católica enfrentava as questões vitais para o cristão de hoje. Para o teólogo alemão Bernhard Häring, "Henry teve a coragem de se por a caminho, porque estava convencido de possuir dentro de si uma mensagem que devia transmitir aos outros, a mensagem da liberdade e da felicidade criadora." O próprio padre Henry escreve na abertura de seu livro: "PARIS-ROMA, 1500km a pé". "Meter-se na aventura de percorrer a pé 1500km, de Paris a Roma pelas perigosas auto-estradas nacionais, não foi fruto de entusiasmo irrefletido de um septuagenário, mas o fecho de ouro de uma longa caminhada pessoal." Para ele, essa decisão não foi um ato individual, mas algo repleto de reciprocidade, pois jovens e idosos reagiram à essa sua idéia.

O Padre Henry foi ordenado sacerdote aos vinte e seis anos, tendo iniciado sua vida sacerdotal no Seminário Redentorista de Paris, como professor e missionário. Logo percebeu que ele tinha tudo em sua vida, nada lhe faltava. Boa alimentação, um leito confortável, bons agasalhos, bem diferente daquilo que Jesus Cristo viveu e que milhões de pobres no mundo atual vivem. Então decidiu sair de sua zona de conforto e morar no meio dos pobres, em barracas junto a milhares de imigrantes portugueses. 

Após conhecer Abbé Pierre, como era mais conhecido entre os pobres da França o frade capuchinho Henri Antoine Groués, fundador do Movimento Emaús, o Padre Henri entrou para a comunidade como simples companheiro de rua. Em 1972 fundou o Movimento Emaús Liberdade, em Charenton-Paris. Em seguida não se acomodou. Levou a idéia do Movimento Emaús a outros países, inclusive o Brasil. Em Fortaleza existe em pelo menos cinco bairros pobres: Pirambu, Vila-Velha, Jereissati I -Maracanaú e Pajuçara. Para quem não conhece o Movimento Emaús, ele funciona como uma espécie de cooperativa, que recebe doações de móveis usados, eletrodomésticos defeituosos e outros artigos inservíveis, que após recuperados, reformulados, são vendidos nos bazares do movimento. É fonte de emprego e renda para os participantes, uma forma concreta de retirá-los da miséria absoluta.  

A Viagem do Padre Henry de Paris a Roma durou três meses e oito dias. Partiu da praça de Notre Dame, em 15 de junho de 1995. Para sua surpresa, Jürgen Falkenberg, um jovem alemão, que o conhecia do Movimento Emaús resolveu acompanhá-lo, pois temia que ele partisse sozinho, sem experiências de caminhada pelas auto-estradas francesas, pelas travessias de túneis cheios de curvas, alguns deles com mais de 20km de extensão. Todo o percurso teve um roteiro previamente preparado, contendo a distância a ser percorrida a cada dia, algo entre 15 e 20km, dias de repouso semanal, lugares para pernoites e alimentação, que era preparada pelos próprios viajantes. A chegada em Roma se deu a 23 de setembro de 1995, três meses de uma longa caminhada.

Infelizmente, ele não pode ser recebido pelo Papa, que partiria no dia seguinte em viagem a Nova Iorque. Então solicitou ao seu compatriota, o Cardeal Etchegaray, vice-decano do Colégio Cardinalício, para entregar ao Papa João Paulo II uma carta com críticas e sugestões, tudo o que ele sentia. Entre os principais pontos: o excesso de gastos que os países pobres realizavam com as viagens e a segurança em torno do Papa, a condenação que o pontificado dedicou à Teologia da Libertação, citando entre outros, o teólogo brasileiro Leonardo Boff. Também tratou de temas polêmicos como a abolição do celibato para os padres, ordenação de casais e também das mulheres, entre tantos outros, ainda hoje uma esperança de serem postos em prática por reformas mais profundas.
   
Eu e Magali tivemos a alegria de conhecer o Padre Henry que desde 2009 reside em Fortaleza. Atualmente aos 94 anos, vive com os pobres da Vila Velha, sob os cuidados do advogado Airton Barreto e sua esposa, cristãos autênticos, que deixaram o conforto proporcionado por sua família de classe média, para viver como pobre, entre os pobres do Pirambu e da Vila Velha.    

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Para maiores informações ou aquisição do livro do Padre Henry:
Movimento Emaús Vila Velha
Rua Moraújo, 651 - Jardim Guanabara
CEP  60 346 770 Fortaleza- CE
emausvive@emausvive.org
emausvila@yahoo.com.br

domingo, 9 de novembro de 2014

Um Jornalista Distraído! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O que esperar de um jornalista? Que ele seja antes de tudo um vocacionado. Uma pessoa que abrace a profissão com isenção e vista-se com ela durante todos os segundos de sua vida. Um tipo que esteja antenado com a dinâmica da política e da vida em sociedade, da qual ele, além de testemunha, é um importante ator. Espera-se dele também honestidade na informação, muita vivacidade, clareza de redação e contínua atualização com a "Aldeia Global" na qual todos nós habitamos.

Pois não é que contrariando essas expectativas, há exceções? Aqueles que são tremendamente distraídos, que vivem no mundo da lua, mas tão bem escondidos, que parecem estar na face mais oculta do nosso satélite.

Havia no Rio de Janeiro dos últimos anos do Século XX, um jornalista tão distraído, cujas "voadas" faziam a alegria de todos os seus colegas de trabalho. Era mais conhecido pelo apelido de "Habi Sorto", nome fictício para o qual são dispensadas as necessárias justificativas. Não era por racismo, mas por puro hábito, que ele batizava qualquer interlocutor que não possuísse a pele totalmente branca pelo nome de "Moreno", apelido distribuído aos milhares de conhecidos dele ou não. 

Em certa tarde de um final de ano, "Habi Sorto" foi convidado para uma recepção que o poderoso dono da Rede Globo ofereceria à sociedade carioca em sua mansão do Cosme Velho. "Habi Sorto" passeou por todas as seções do jornal onde trabalhava, visitou cada um dos birôs de seus colegas, exibindo orgulhosamente o convite, mesmo sem lhe passar pela cabeça que seus colegas haviam sidos distinguidos com idêntica honraria.   

No dia marcado, "Habi Sorto" foi gentilmente recebido no portão de entrada da mansão por um senhor distinto, de tez levemente morena, vestido rigorosamente com uma casaca branca, calça escura e gravata borboleta. Ao cumprimentar os convidados, acompanhou o jornalista até a uma mesa reservada para imprensa, colocada nos jardins, à margem da passarela de entrada, na qual já se encontravam alguns colegas de "Habi Sorto". Este não perdeu tempo e logo ordenou ao acompanhante:
- Oh Moreno, traga um whisky e um salgado! - Em poucos minutos, o cidadão de casaca branca apareceu com uma bandeja numa mão, e uma garrafa de whisky "royal salute" na outra, tendo servido ao grupo de jornalistas que acompanhava "Habi Sorto".

À certa altura, notou-se uma grande movimentação nos jardins, com as pessoas se dirigindo para a entrada, pois anunciara-se a chegada do embaixador americano. "Habi Sorto" e os colegas foram assistir. O embaixador ao descer do carro abraçou calorosamente o anfitrião. E então, o jornalista "Habi Sorto" comentou com os colegas.
- Esse garçon, o Moreno, só quer ser o cão! Nunca vi sujeito mais metido! Pois não é que o bicho é conhecido até pelo embaixador americano?
- Esse Moreno, que você acha que é um garçon e, que ficou muito seu amigo a ponto de atender pessoalmente seus pedidos é o dono da casa, o Dr. Roberto Marinho, seu patrão!  -  Completaram seus colegas.

O nosso herói, o jornalista "Habi Sorto", campeão mundial de mancadas, murchou, procurou no chão algum buraco onde pudesse se enterrar e nada encontrou, somente grama. Pediu licença para ir ao banheiro e sumiu de vez!

Mais de vinte anos depois, "Habi Sorto" foi na visto no Estádio Olímpico de Porto Alegre, no meio da torcida do Grêmio, gritando o nome "Moreno!" para o goleiro do time adversário. Livrou-se de um processo por racismo graças a uma jovem, alguns degraus à sua frente, que pronunciava ofensas racistas bem mais graves.


Por Carlos Eduardo Esmeraldo 

 OBSERVAÇÕES:  Esse texto foi inspirado numa história que me foi contada pelo meu primo e amigo, o jornalista José Esmeraldo Gonçalves, para lembrar aos amigos que muitas vezes eu tenho meus momentos de "Habi Sorto".
***
Posteriormente a história que me foi narrada oralmente constou do livro: "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou". Organização de Jose Esmeraldo Gonçalves e J. A. Barros, Rio de Janeiro, Desiderata, 2009; página 108. gentilmente cedido pelo autor. 
Abaixo, o texto original de autoria de José Esmeraldo Gonçalves, que se encontra no livro "Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou."

***
Me vê um uísque aí, moreno! -

Flávio Aquino, grande figura e crítico de arte da Manchete, era, diga-se, desligado. E bota desligado nisso. Ele mesmo contava uma historinha deliciosa. O poderoso Roberto Marinho convidou embaixadores e adidos culturais para uma recepção na sua mansão do Cosme Velho. Entre outros intelectuais, estava na lista o nosso Flávio. Ao chegar à mansão, ele logo tratou de pedir um uísque duplo ao primeiro "garçon" que encontrou. "Moreno, me vê uma dose com duas pedras de gelo, faz favor", decretou, dirigindo-se ao sorridente senhor de "summer" impecável e pele queimada do sol. Solicito, o "garçon" se mandou e logo retornou com o pedido prontamente cumprido. Flávio agradeceu e foi circular, de copo na mão, pelos salões da mansão. Papeando com amigos, não pôde deixar de notar que o "garçon" que o atendera era festejadíssimo pelos demais convivas. Embaixadores o abraçavam, jornalistas o paparicavam, enfim, o homem era a "alma" da festa. Antes de pedir mais uma dose de uisque, Flávio olhou melhor para a cara do sujeito e .... caiu-lhe a ficha. O "garçon" de branco e gravatinha borboleta era ninguém menos do que o anfitrião. O próprio Roberto Marinho. Flávio se mandou da festa sem se despedir do "Moreno".

Por José Esmeraldo Gonçalves
      
Nota:  Flávio Aquino era dono de uma vasta cultura. Foi arquiteto, jornalista e crítico de arte. Faleceu aos 67 anos, em 19 de janeiro de 1987.  




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Eita Nordeste da Peste! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Longe de mim atiçar o separatismo latente que tem surgido ultimamente nos estados mais ricos do Brasil, entre os quais São Paulo se destaca como líder. Que esses nossos irmãos do sul-sudeste me perdoem. Mas o Brasil nasceu aqui! Nesse Nordeste sofrido, de muito sol, muito calor humano, suor e trabalho. Sem racismo, sem preconceitos, mazelas importadas por imigrantes estrangeiros que trouxeram tais sentimentos impregnados no sangue, como herança genética de seus antepassados, que aqui chegaram das mais diferentes nacionalidades, muitos dos quais provavelmente expulsos de suas pátrias. Aqui, diferente do outro Brasil que o Nordeste viu nascer, vive um povo cheio de brasilidade, irmanados por um imenso sentimento de solidariedade e muito amor à pátria. Sem divisionismo, desde quando foi consolidada a independência do Brasil. O nordestino é antes de tudo um povo rico em cultura e arte popular.

Não é exagero afirmar que o berço da cultura brasileira está aqui no Nordeste! Na literatura temos uma inesgotável relação de escritores que se destacaram no cenário nacional: José de Alencar, Graciliano Ramos, Raimundo Magalhães Jr., Rachel de Queiroz, Humberto de Campos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Adonias Filho, Aluísio Azevedo, Gilberto Freyre, Josué de Castro, João Ubaldo Ribeiro, Gustavo Barroso, Domingos Olímpio, Jader de Carvalho, Raimundo Girão, Tomé Cabral e muito mais, sem deixar de acrescentar novos escritores cearenses que surgem a cada instante, como os médicos cratenses José Flavio Vieira e José do Vale Pinheiro Feitosa, Everardo Norões, e o já consagrado saboeirense Ronaldo Correia de Brito, além de tantos outros.

Na poesia temos Manoel Bandeira, Castro Alves, Ferreira Gullart, Gonçalves Dias, João Cabral de Melo Neto, o cratense Wellington Alves e o nosso genial Patativa do Assaré.

Na música popular, as mais belas canções do cancioneiro brasileiro com uma rica variedade de ritmos musicais, nos quais se destacam nacionalmente os cantores e compositores: Luis Gonzaga, Dominguinhos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymi, Morais Moreira, Pepeu Gomes, Fagner, Belchior, Ednardo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Elba Ramalho, Chico Serra, Zeca Baleiro, Lenine, Geraldo Azevedo, Gal Costa, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Cláudia Leite.

Apenas uma breve amostra da riqueza cultural imensurável de que o nordeste é possuidor. Para o pessoal do outro Brasil conhecer, tem que pisar o solo nordestino, conhecer nosso sertão, conviver com a poesia que brota do nosso viver, dentro da nossa caatinga, com plantas que são somente nossas e muita sabedoria popular do nosso povo. 

Por Carlos Eduardo Esmeraldo     

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Egoísmo Humano. – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Dizem que o Brasil é um País Cristão. Segundo o IBGE 86,8% da população do Brasil é de cristãos, sendo 64,6% católicos e 22, 2% protestantes, todos seguidores da mensagem libertadora de Jesus Cristo. Seguir Jesus não é fácil, pois o ser humano não se dispõe a sair do egoísmo. Numa sociedade capitalista concentradora de renda, é uma oportunidade para quem tem fé em Jesus Cristo se dispor a querer sair do egoísmo e se tornar uma pessoa mais humanitária e solidária. O acúmulo de bens para poucos deveria dar ao cristão o mínimo de sensibilidade para querer a justiça social e a distribuição de renda.

Jesus veio para pregar a justiça e a paz, para transformar o coração de pedra do homem em coração de carne. Mas o coração humano está tão fechado dentro do seu egoísmo que não se lembra do irmão mais necessitado. A fé não é só louvar a Deus, é também ver Deus através do irmão, do próximo. Fé e vida caminham juntas, oração e ação, essa deve ser a atitude do cristão.

Durante a campanha eleitoral, nas redes sociais, observei cristãos radicalmente contra os programas sociais do governo, principalmente o Bolsa Família, maior programa de transferência de renda, que conseguiu nos últimos doze anos tirar o Brasil do Mapa da Fome. Esse programa ganhou prêmios no exterior. Deve ser orgulho para nós brasileiros ver que os nossos irmãos mais injustiçados estão se alimentando e  tendo mais oportunidades. A torcida do cristão deve ser para que a fome seja erradicada totalmente do Brasil e do mundo.

Porque todas as políticas para melhorar a vida dos pobres, são combatidas pelas elites? Jesus é a favor da partilha. O milagre da multiplicação dos pães está narrado nos quatro Evangelhos: Mateus ( 14,13-24), Marcos (6,30-46), Lucas (9,10-17 ), João (6, 1-5).  Quando os discípulos sugerem a Jesus despedir as multidões para que possam comprar alguma coisa para comer; Jesus responde: "eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer". Então os discípulos disseram: "só temos aqui cinco pães e dois peixes". Jesus pediu que trouxessem os pães e os peixes e mandou que as multidões sentassem, olhando para o céu abençoou os alimentos e os deu aos discípulos para que fosse distribuídos as multidões.

É tão simples partilhar, muito mais do que acumular. O mais importante é aproveitar a vida para fazer o bem. Viver em sociedade é exercitar a solidariedade. E como cristão é nosso dever torcer e querer o melhor para os injustiçados. Vamos abrir mais o nosso coração para os excluídos da vida?
Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

sábado, 1 de novembro de 2014

Pelas Estradas do Brasil - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A gente corre na BR-3. E a gente morre na BR-3....

Quem não lembra dessa música interpretada por um cantor até então desconhecido, Tony Tornado, que venceu a fase brasileira do I Festival Internacional da Canção em 1970?

Um ano depois, as rodovias federais brasileiras tinham recebido novas denominações. A nossa BR 13 que ligava Fortaleza ao Rio de Janeiro passou a ser chamada BR 116. De Fortaleza até Feira de Santana era uma extensa faixa de terra, esburacada e poeirenta no verão e um grande lamaçal no período das chuvas. Era a época do Brasil "ame-o ou deixe-o". Estradas eram pavimentadas e construídas em todas as direções. A mais famosa de todas era a transamazônica.

Eu já estava formado e obtive o meu primeiro emprego numa empresa de engenharia que elaborava estudos técnicos de solos e projetos geométricos para pavimentação de estradas, tendo ido parar em Oeiras e Ypiranga no Piauí. Em um ano elaboramos os projetos dos trechos da BR 230 e BR 316, respectivamente entre Gaturiano e Floriano e Valença, num total de 210 km de muita poeira e sol quente. Quem realiza esse tipo de trabalho em rodovias, anda por péssimas estradas. Entre tantos aprendizados, aprofundei meus conhecimentos de mecânica dos solos e da nomenclatura das rodovias federais, creio eu que por muitos ainda desconhecidas.

As nossas rodovias federais são nominadas por BR como todos sabem, seguida por uma numeração que indicam o seu sentido. Dividem-se em rodovias radiais, longitudinais, transversais, diagonais e de ligação.

A BR 020 e todas as demais cuja numeração se inicia pelo número zero são as estradas radiais que  partem de alguma capital de estado para Brasília. As mais conhecidas dessas rodovias são a BR 010 de Belém a Brasília, BR 020 Fortaleza a Brasília, BR 040 Rio de Janeiro a Brasília entre outras.

A nossa BR 116 e todas as demais rodovias que se iniciam pela número 1 são as rodovias longitudinais, aquelas que cortam o país no sentido norte-sul. A BR 116 liga Fortaleza até Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Num trajeto que compreende em seu roteiro as cidades de Russas, Brejo Santo, Salgueiro, Belém do São Francisco, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Teófilo Otoni, Governador Valadares, Barra Mansa, Lorena, Guarulhos, São Paulo, Curitiba, Lage, Florianópolis, Porto Alegre, Pelotas, Jaguarão e Rio Grande. A BR 101 a partir de Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Feira de Santana, Itabuna, Vitória, Campos, Rio de Janeiro, Santos, Antonina-PR, Florianópolis, Osório, Rio Grande.

As rodovias transversais são aquelas que cortam o país no sentido leste-oeste. Suas denominações têm como prefixo o número 2 seguido de 00 a 50 se situadas ao norte da capital federal e 50 a 99 se ao sul de Brasília. Exemplo a nossa BR 222, de Fortaleza a Sobral, Piripiri, Santa Inês, Açailândia, Marabá. A BR230 a partir de João Pessoa, Patos, Lavras da Mangabeira, Várzea Alegre, Farias Brito, Picos, Oeiras, Floriano, Carolina, Estreito, Marabá, Altamira, Humaitá, Labrea e Benjamim Constant.

As denominadas rodovias diagonais são aquelas no sentido Nordeste/Sudoeste ou Noroeste/Sudeste. Temos a BR 304 de Boqueirão do Cesário até Natal; BR 316 de Maceió a Belém e todas que tem o prefixo iniciado pelo número 3.

Finalmente o último grupo de rodovias é o denominado de Rodovias de Ligação, que ligam duas rodovias federais, ou uma rodovia federal a uma cidade importante ou ainda às fronteiras. Nesse grupo temos em nosso estado a BR 403 Acaraú, Sobral, Crateús; BR 404 Piripiri - Crateús - Novo Oriente - Catarina - Iguatu - Icó. 

Nosso país adotou a opção errada pelo caminhão, construindo estradas em vez de ferrovias. O trem com ferrovias, mesmo que não fossem eletrificadas seria o meio de transporte mais econômico para as longas distâncias que nos separam. De Fortaleza ao Crato temos toda uma estrutura de caminho de ferro montada, mas nenhum trem a conduzir nossas cargas.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Fonte DNIT   

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma lição de civilidade – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Vivíamos no Crato, em outubro de 1958, eleições disputadíssimas. Concorriam ao cargo de prefeito o senhor Pedro Felício Cavalcante pelo PSD e José Horácio Pequeno pela UDN. Os comícios eram concorridíssimos de cada lado. Os udenistas chamavam os pessedistas de “gogó”, e eu nunca soube o porquê, e estes replicavam que os udenistas eram os “carrapatos”, talvez numa referência a esse partido ter vencido várias e sucessivas eleições. O meu pai concorria ao cargo de vice-prefeito na chapa da UDN. Era a primeira vez que esse cargo, na minha modesta avaliação, desnecessário ainda hoje, era disputado.  
 
Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.
 
Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu "teimosão", hei esta será a quarta decepção...”).
 
Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.
  
Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Uberaba, em Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.
     
Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os pessedistas já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.
 
Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. O senhor Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.
 
A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.
  
Quatro anos mais tarde, meu pai desligou-se da UDN. Sentiu-se traído por seus correligionários. Aconteceu o seguinte: em julho de 1962, a alta cúpula da UDN reuniu-se em nossa casa do São José para tentar convencer meu pai a ser candidato a prefeito. Havia o senhor Derval Peixoto pretendendo ser candidato a prefeito, mas conseguiram convencer meu pai a ser o candidato. Mas ocorreu que o Dr. Derval Peixoto, excelente estrategista, lançou-se candidato a Deputado Estadual. Era um tiro em mais uma eleição do Coronel Filemon para a Assembléia Legislativa. Na convenção, meu pai foi surpreendido com a escolha do doutor Derval Peixoto como candidato da UDN. Lembro-me quando que cheguei um pouco atrasado à convenção e ainda ouvi o meu pai dizer: “O resultado dessa escolha vai ser a derrota da UDN.” E a partir daquele momento, ele desligou-se da UDN e inscreveu-se num partido pequeno, para no que a imprensa passou a chamar anos depois, ser um "anticandidato". Nas eleições, Pedro Felício que se candidatara a prefeito pela quinta vez, foi eleito, também por pequena margem. Ele ainda foi reeleito dez anos depois.
 
Em julho de 1975, tão logo eu passei a trabalhar no Departamento Regional da Coelce, em Juazeiro do Norte, observei que a Prefeitura do Crato tinha um saldo elevado na conta da iluminação pública, suficiente para edificar alguns projetos de construção de redes elétricas. Minha primeira atitude foi telefonar para seu Pedro Felício e comunicar-lhe que aquela reserva poderia ser utilizada em obras. Ele eletrificou parte de um bairro pobre do Crato e no Natal daquele mesmo ano me convidou para inauguração da obra. Quando ele falou entregando aquela iluminação à população, agradeceu muito a mim e passamos a ser amigos.

Anos depois fui vizinho de sua filha, a dona Naylê, ainda minha parenta, pois sobrinha neta de minha bisavó Santana Gonçalves Esmeraldo. Não poderia ter melhor vizinha. Ela e seu marido sempre souberam tolerar com muita paciência as estripulias dos meus filhos, que tanto subiam no telhado da nossa casa, quanto no da casa deles, danificando algumas telhas. Nem ela, nem seu marido me cobraram nada. Eu mesmo, quando soube pelas telhas quebradas da minha casa, tomei a iniciativa de mandar repor as telhas danificadas, tanto da minha, quanto da residência dela.
 
A lição de civilidade de “seu” Pedro ficou projetada também nas suas duas filhas, genros e nos seus netos.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Publicado originalmente no Blog do Crato em 20.09.2008 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que me orgulho do Brasil de hoje! - Por Carlos Eduardo Esmerado

Somente muita miopia política daqueles que desejam que este pais retorne ao domínio dos tucanos neoliberais. Neoliberalismo, nada mais é do que um sistema político-econômico que acredita na autorregulamentação do mercado e no estado mínimo. Que significa isso? Para países em desenvolvimento ou emergentes, expressão que os neoliberais adotaram com eufemismo para substituir o que antes era denominado de países subdesenvolvidos, significa em primeiro lugar o desemprego em massa, arrocho salarial, privatização das empresas estatais, políticas voltadas prioritariamente para o capital; banqueiros, rentistas ou agiotas. Segundo sugeriu o Sr. Armínio Fraga, provável futuro ministro da Economia caso a maioria dos brasileiros prefira retornar ao passado que ninguém em sã consciência deseja revivê-lo, os bancos do Brasil, Caixa Econômica, e BNDES devem ser privatizados. Quem é esse cidadão? Armínio Fraga é um economista da mais alta confiança do governo americano, possuidor que é de dupla cidadania: brasileira e americana.
 
Somente quem não quer, ou por pura cegueira ou provavelmente paixão político-partidária não reconhece como nosso país melhorou nos últimos doze anos. Vivemos algo próximo do pleno emprego. Para o último mês de setembro a taxa de desemprego registrada foi de 4,9% menor do que a de muitos países da Europa. O salário médio do brasileiro em setembro foi de R$ 2067,10, conforme informações publicadas a muito contragosto pelo jornal fomentador de golpes "O Globo". E a inflação se encontra em queda, 6,5% bem distante dos 12% com os quais FHC nos premiou.

Acusar o Bolsa-Família como indutor de letargia do trabalhador faz parte da retórica de quem não deseja ver a fome do povo minorada. Como se uma pessoa possa viver sem trabalhar com a irrisória quantia de R$ 168,00 (cento e sessenta e oito reais) mensais, o equivalente R$5,60 diários (cinco reais e sessenta centavos). Quem assim pensa é aliado dos neoliberais que quando detêm o poder, combatem ferozmente "qualquer política voltada para extinção da pobreza", conforme constataram os bispos latino-americanos no documento de conclusão da Conferencia Episcopal Latino-americana (CELAM) realizada em Puebla.

O programa do Bolsa-Família não atende somente a Região Nordeste. Em São Paulo, o estado mais rico do país, existem 1,2 milhões de assistidos pelo programa, bem à frente do Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba e Maranhão.

Mas o nosso país nos últimos doze anos viu crescer consideravelmente o número de universidades, de Faculdades de Medicina, de Escolas Técnicas, do programa Universidade sem Fronteiras, onde nossos jovens têm oportunidades de complementarem seus estudos em universidades estrangeiras, além do Pro-Uni, em que estudantes da rede pública obtém acesso às vagas ociosas de faculdades particulares, com financiamento do programa Fiés, além de cursos de formação técnicas para capacitação das pessoas para o trabalho. Pessoalmente eu conheço muitas pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa-Família que dão duro no trabalho diário do campo. Como também muitos universitários que estudaram parte de seu curso em universidades da França, Espanha, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra, recebendo diploma das duas universidades estejam satisfeitos com o atual governo e reconhecem que o objetivo do programa não é eleitoreiro, mas o de solidificar a formação dos brasileiros. Todos esses programas são de cunho social. Somente muita paixão político-partidária para não reconhece-los.
    
O Brasil atual enfrentou mais de seis anos de uma dura crise mundial, onde Estados Unidos e a Europa foram duramente atingidos por adotarem políticas neoliberais. É claro que o Brasil foi atingido em sua balança comercial. Ao contrário dos governos tucanos, ninguém alegou crise dos países chamados de "Tigres asiáticos". Pois não vivemos dentro de uma economia neo-liberal. Nossa política externa não ficou apenas atrelada ao Estados Unidos. Um leque de relações mútuas foi aberto para China, Rússia e países africanos.
  
Orgulho-me desse país, pois em quase setenta anos de existência jamais havia visto experiência governamental tão exitosa quanto essa.  Que Deus ilumine nosso povo, soberano em suas decisões para que não opte pelo retrocesso.  

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Retorno - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O senso comum afirma que o brasileiro tem memória curta. Confirmamos essa assertiva no desenrolar da presente campanha eleitoral. De repente, como que anestesiados pelas inserções sublimares da grande imprensa, tendo à frente a diabólica Rede Globo, grande parte do nosso povo passou a admirar o sociólogo, aquele mesmo que recentemente considerou o nordestino um povo ignorante e, que há pouco menos de duas décadas, trouxe-nos o caos quando aderiu ao "Consenso de Washington" e implantou políticas neoliberais em seu famigerado desgoverno. O que vimos, lembram-se? Arrocho salarial, fome, salário mínimo abaixo de cem dólares, menor do que o de países mais pobres, como o Paraguai, a dilapidação do patrimônio do estado brasileiro, quando todo nosso setor de distribuição de eletricidade, nosso precário sistema ferroviário, que no caso do Ceará simplesmente foi extinto, nossas siderúrgicas e mineradoras, e tantas outras empresas estatais foram vendidas na "bacia das almas", mas cujo resultado ninguém soube qual foi, além de altas tarifas e a descapitalização do nosso país. 

No final do desgoverno de FHC, no centro comercial de Fortaleza, inúmeras casas comerciais foram fechadas e transformadas em estacionamentos. Gigantes do comércio varejista, lojas tradicionais cujo capital era nacional, como a Mesbla, o Mapin, a Lobrás, a Eletroradiobrás, as Casas Pernambucanas, o Romcy e tantas outras sumiram para sempre do mercado. Lembram ainda delas? Muitos dos nossos jovens não as conheceram. As políticas neoliberais aplicadas no desgoverno tucano quebraram o país três vezes, tendo que ser socorrido pelo FMI, (Fundo Monetário Internacional).  

A Europa e os Estados Unidos vivem no presente uma grande crise econômica, justamente por ter abusado da aplicação do receituário neoliberal. Crise essa que de certa forma também nos atinge.

Agora esse grupo sediado em São Paulo, o mais nordestino dos estados brasileiro, pois até a seca já chegou por lá, com direito a falta d'água e muita sede de um povo satisfeito com seus atores, pois anestesiados pelas novelas globais, está querendo reassumir os destinos desse país, alardeando uma grande crise em que vivemos. Será por que os aviões saem lotados dos aeroportos? Ou por que as lojas estão cheias de gente comprando? Ou será por que o povo está comendo? Pelo menos três refeições diárias estão tendo e não mais vimos retirantes da seca estendendo a mão em nossas esquinas.

Pensem nisso! Libertem-se das paixões partidárias. Faço esse apelo porque em 2004 fui um dos responsáveis por ter colocado FHC no governo. Penitencio-me hoje. Minhas esperanças foram então frustradas e não desejo ver repetido o filme dos que não olham para o bem estar do nosso povo, mas apenas para os banqueiros e grandes empresários, priorizando o capital à frente do social. Pensemos no futuro dos nossos filhos e netos. Não desejemos para eles o desemprego e desesperanças.

domingo, 20 de julho de 2014

5 mil fiéis recepcionam imagem da Padroeira de Crato em Juazeiro do Norte

Texto e fotos de Patrícia Silva(*)
Entrada triunfal da imagem de Nossa Senhora da Penha, na Praça do Romeiro
No dia 19 de julho aconteceu a peregrinação com a imagem de Nossa Senhora da Penha, padroeira da Diocese de Crato, saindo da Catedral Nossa Senhora da Penha, em Crato- CE, a forania II, em Juazeiro do Norte- CE. O momento celebrativo, que está dentro da programação do centenário da Diocese, contou com a participação de 5 mil fiéis em missa presidida, às 19h, na Basílica Nossa Senhora das Dores, por Dom Fernando Panico e concelebrada por padres da região.
A imagem da padroeira diocesana foi doada no ano 1745 por frades capuchinhos do Convento da Penha, da cidade de Recife, a Missão do Miranda, atual cidade do Crato e sede da diocese e pela primeira vez sai do altar da Catedral para visitar as regiões forâneas.
A peregrinação traz como proposta deixar a diocese cada vez mais próxima do povo, fato que vem animando a fé dos fiéis. Segundo o advogado o Antônio Macêdo, 47, o que está acontecendo é um marco na história da Diocese. Ele considera que a visita da imagem fortalece a fé dos fiéis por deixa- los mais próximos da padroeira diocesana e considera necessário devido favorecer o ardor missionário dos fiéis.
Celebração da missa presidida por Dom Fernando Panico e concelebrada pelos padres da Forania, na peregrinação da imagem de Nossa Senhora da Penha, em Juazeiro do Norte-CE. (Foto: Patrícia Silva)
A Diocese de Crato foi fundada em 20 de outubro de 1914, pelo Papa Bento XV, através da bula papal Catholicae Ecclesiae, e até hoje tem uma grande contribuição para o crescimento espiritual do povo. Para a professora Francisca da Silva, 47, cem anos de história é o suficiente para se avaliar a maturidade da fé, do compromisso que os cristãos católicos da Diocese têm para com o projeto de Deus. “Celebrar 100 anos é para avaliar, dar uma olhada pelo retrovisor da história e observar o que foi positivo, mas também perceber aquilo que precisa melhorar e mudar para que a mensagem do evangelho continue cada vez mais acessível ao povo. A Diocese de Crato está de parabéns pela caminhada tão significativa na evangelização que vem fazendo em nosso meio”, afirmou.
A professora ainda disse que a peregrinação com a imagem de Nossa Senhora da Penha as foranias proporciona que os fiéis sintam, de forma mais intensa, Maria no meio deles. “Para nós que fazemos a forania II, e acolhemos essa imagem hoje em nosso meio, nos faz sentir Maria, que não está apenas no altar, mas Maria que se faz uma com as outras Marias, uma com os outros Josés. É uma experiência de se colocar realmente em peregrinação, romaria. Já que a nossa Diocese tem como projeto viver na pratica do dia-a-dia a experiência de ser romeira e missionária, então temos que colocar Maria no meio do povo, assim como foi a sua prática na época da formação do próprio filho Jesus” disse.
Altar, em frente à Basílica Menor de N.Sra.da Dores,com bispo e padres celebrantes
O vigário Forâneo, Pe. Francisco Luiz dos Santos, disse que todos da forania II estão muito felizes pela visita da padroeira diocesana e acredita que a presença dela faz com que o povo sinta o jubileu, pelo centenário da Diocese, acontecendo em seu meio.
Dom Fernando falou da importância de Maria no projeto de Deus para a salvação do mundo, recordou a importância histórica da imagem de Nossa Senhora da Penha, agradeceu a presença dos romeiros que já estavam neste dia para participarem da celebração dos 80 anos de falecimento do Pe. Cícero, que acontecerá no dia seguinte, e expressou a alegria de estar vivenciando o ano jubilar com muita festa de fé e demonstração de amor a igreja, através do anúncio do evangelho de Cristo. “Maria é a mãe de Deus, é a mãe do Filho encarnado de Deus, Jesus Cristo. Nela resplandece toda a beleza da glória do Pai. Ao longo desses 100 anos de caminhada da Diocese de Crato, Maria significou um baluarte seguro em nossa experiência, de um povo que avança no meio de alegrias e tristezas, de vitórias e derrotas, desafios e conquistas. Ser o povo de Deus significa ser romeiro e peregrino e aqui em Juazeiro, na terra do Pe. Cícero, aprendemos que temos que ser um povo que caminhada, com Jesus a nossa frente”, afirmou.
Representantes de todas as paróquia da Forania II, após receberem as réplicas da imagem de Nossa Senhora da Penha. (Foto: Patrícia Silva)
Ao final da celebração cada uma das quatorze paróquias da Forania II receberam uma réplica da imagem da padroeira diocesana que deverá peregrinar por todas as comunidades paroquias. Dom Fernando também concedeu a indulgência plenária aos fiéis, de acordo com a autorização que recebeu do Vaticano para as comemorações do centenário de criação da Diocese de Crato.
Essa foi a terceira peregrinação com a imagem da padroeira as foranias. Ela já aconteceu na Forania V, em Campos Sales, no dia 14 de junho, e na Forania IV, em Várzea Alegre, no dia 21 de junho. Segundo o secretário geral da Comissão para o Jubileu, Pe. Weslley Barros, a Forania II, como as demais, respondeu muito bem a proposta da Diocese com esta peregrinação e agora a expectativa é de que as programações continuem sendo momentos enriquecedores da fé do povo nesta Diocese centenária.
(*) Patrícia Silva, jornalista e Assessora de Imprensa da Diocese de Crato

sábado, 19 de julho de 2014

A crônica do domingo -- por Armando Lopes Rafael (*)

A psicologia coletiva do cratense 
     Uma cidade não se resume a mera aglomeração de indivíduos. Uma cidade, ou melhor, qualquer sociedade, se constitui numa comunidade de comunidades, pois dotada do espírito de coletividade e certa unidade social. É o que se poderia denominar de “psicologia coletiva”.
     O Crato são muitos! poderíamos afirmar, parodiando Carlos Drummond de Andrade.
     E no entanto, existem vínculos coletivos nesta Mui Nobre e Heráldica Cidade de Frei Carlos Maria de Ferrara que unificam; Que obtém alto percentual de consenso; Que se integram ao imaginário popular e à memória coletiva desta urbe.
    Isto posto, poderíamos afirmar que na psicologia coletiva cratense há um lugar de destaque para a ufania, para um bairrismo – às vezes exagerado – por esta cidade aristocraticamente crismada por Princesa do Cariri.
   Tudo que acontece de perda ou prejuízo para esta cidade é culpa “dos políticos”. Fica esta impressão: o habitante de Crato desconhece os limites de um deputado. Este apenas legisla, não tem poder de executar obras. Mas, triste de quem se eleger deputado com votos do Crato, pois o povo atribui ao legislador poderes maiores do que os do  presidente da república.
   Ser cratense é ser religioso e devoto da Virgem Maria! Deu para perceber isso, recentemente, na coroação e inauguração do monumento de Nossa Senhora de Fátima. Uma sensação de orgulho, de vaidade mesmo, percorreu – naqueles dias – todas as camadas sociais desta terra. Já perceberam que o habitante desta cidade finge respeito por quem se autoproclama ateu? Pura falsidade! No íntimo, passa a desconfiar do descrente. E pelas costas do coitado (Ah! a velha falsidade!) quando alguém fala do ímpio, o interlocutor dá a clássica rabissaca seguida da frase: “Fulano? Tenho lá minhas dúvidas. Não deve ser boa bisca”.
   Agora o que o cratense gosta mesmo é das atividades culturais. Está no sangue desta gente. Tem participante de anônimo jogral dos anos 60 que hoje se ufana: “Fui uma das vítimas da ditadura! Uma vez fomos recitar nossas poesias no grêmio do ginásio e agentes do Dops e SNI baixaram na hora. Felizmente fugimos pegando o rumo do Rabo da Gata, até sair no Cafundó e escapamos”...
    Uma verdade: o cratense é super-hospitaleiro. Quando chega, por estas bandas,  gente de fora, o visitante vira logo celebridade. Nos primeiros dias o adventício é lisonjeado de todas as maneiras. Passado algum tempo cai na rotina. Perde o status, a ponto de quando um amigo encontra outro vai avisando: “Evite passar na Siqueira Campos que o “beócio do fulano” está lá, julgando-se o Rei da Cocada Preta. Vôte!”
     Afora isso, o cratense é uma homem cordial, solidário, gosta de um bom papo, de contar a última piada, de frequentar a ExpoCrato... O jornalista Antônio Vicelmo cunhou até esta expressão: Ser cratense é um estado de espírito.
       São muitas as características que plasmaram a psicologia do cratense. Ainda voltaremos ao assunto.
Missa do Divino Pai Eterno, celebrada no Mirandão, em Crato,  para cerca de 50 mil pessoas. O evento foi televisionado para todo o Brasil

(*)Armando Lopes Rafael, historiador.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

URCA realiza I Feira de Cultura e Turismo de Municípios do Cariri na ExpoCrato, em parceria com cidades da Região



A abertura oficial será na noite deste domingo e na segunda-feira, acontece o cortejo da cultura popular, com mais de 600 brincantes de nove cidades da região e interior de Pernambuco

Pela primeira vez municípios do Cariri estarão apresentando suas principais potencialidades em caráter conjunto, por meio da I Feira de Cultura e Turismo de Municípios do Cariri. Serão nove cidades, com os seus principais atrativos na área do turismo, além das riquezas culturais sendo expostas para um público estimado em cerca de 20 mil pessoas, de 13 a 20 de julho, no Ginásio Poliesportivo da Universidade Regional do Cariri (URCA), em Crato.

O evento poderá passar a integrar um calendário permanente durante o período da ExpoCrato e envolver mais municípios da região nos próximos anos. Neste primeiro ano, uma homenagem especial a um dos expositores, na cidade sede da I Feira, com o tema “Abraçando os Municípios, nos 250 anos do Crato”.

No momento em que se debate várias formas de viabilizar e fortalecer o turismo na região, os gestores junto com a Pró-reitoria de Extensão da URCA buscaram debater novas alternativas de divulgação. Segundo a pró-reitora, Sandra Nancy, a ExpoCrato é o maior evento da região e a própria universidade já tem um espaço determinante, levando aos visitantes, todos os anos, a sua produção científica, ações junto à sociedade e também essas riquezas. Conforme ela, a feira nasce com a diversidade e a cara do Cariri, com toda a sua riqueza e peculiaridades. “É uma forma não apenas de fortalecer esses segmentos, mas divulgar”, diz.

As cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Santana do Cariri, Missão Velha, Nova Olinda, Assaré estão entre as que deverão compor o consórcio de turismo a ser criado, e para isso contará com um mapeamento das principais potencialidades dessas localidades. Também foram convidados para participar das feiras os municípios de Várzea Alegre e Exu, no Pernambuco. A pró-reitora justifica a participação dessas cidades por conta de várias ações já desenvolvidas em conjunto.

Como forma de divulgar a gastronomia desenvolvida na região e mais especificamente nessas localidades, será criado espaço regional, com a degustação dos principais pratos com o sabor caririense. A feira terá abertura oficial no dia 13, às 20 horas.

Foto: arquivo/URCA
No dia 14, acontece um grande cortejo saindo da praça da Sé, às 17 horas, em direção ao parque de exposições e a feira. Serão cerca de 60 grupos, com mais de 600 brincantes, representando todas as cidades, com maneiro-pau, reisados, quadrilhas, bandas cabaçais, grupos de coco, escolas de samba, sanfoneiros, repentistas, grupos de xaxados, penitentes, incelências, lapinhas, dentre outras manifestações da cultura. Durante a semana haverá roda de conversas, com representantes dos municípios, à tarde, e à noite, no espaço do Ginásio Poliesportivo, com apresentações regionais.

Fonte: Assessoria de Comunicação da URCA

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Perder, Ganhar, Viver- Carlos Drumond de Andrade

(Após desclassificação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982)

Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados para a alegria; vi o técnico incansável e teimoso da Seleção xingado de bandido e queimado vivo sob a aparência de um boneco, enquanto o jogador que errara muitas vezes ao chutar em gol era declarado o último dos traidores da pátria; vi a notícia do suicida do Ceará e dos mortos do coração por motivo do fracasso esportivo; vi a dor dissolvida em uísque escocês da classe média alta e o surdo clamor de desespero dos pequeninos, pela mesma causa; vi o garotão mudar o gênero das palavras, acusando a mina de pé-fria; vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições; vi a aflição dos produtores e vendedores de bandeirinhas, flâmulas e símbolos diversos do esperado e exigido título de campeões do mundo pela quarta vez, e já agora destinados à ironia do lixo; vi a tristeza dos varredores da limpeza pública e dos faxineiros de edifícios, removendo os destroços da esperança; vi tanta coisa, senti tanta coisa nas almas…

Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.

Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos? Se a Seleção fosse à Espanha, terra de castelos míticos, apenas para pegar o caneco e trazê-lo na mala, como propriedade exclusiva e inalienável do Brasil, que mérito haveria nisso? Na realidade, nós fomos lá pelo gosto do incerto, do difícil, da fantasia e do risco, e não para recolher um objeto roubado. A verdade é que não voltamos de mãos vazias porque não trouxemos a taça. Trouxemos alguma coisa boa e palpável, conquista do espírito de competição. Suplantamos quatro seleções igualmente ambiciosas e perdemos para a quinta. A Itália não tinha obrigação de perder para o nosso gênio futebolístico. Em peleja de igual para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da volubilidade das coisas.

Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.
E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?

terça-feira, 8 de julho de 2014

A Força dos Meios de Comunicação - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

No inicio do ano de 1965, um comentarista esportivo de uma emissora de rádio de Salvador, conhecido por Cléo Meireles, torcedor fanático do Bahia e por isso mesmo critico feroz do rival Vitória, foi violentamente surrado, segundo "diz que me diz", por ordem de dirigentes do Vitória. O fato gerou uma crise no futebol baiano, com a proibição de jogos de clubes locais pela Conselho Nacional de Desportes até a apuração dos fatos. Entretanto os clubes baianos estavam autorizados a realizarem partidas amistosas. Mas houve uma unânime omissão de toda crônica esportiva, que nada noticiava sobre os amistosos que os clubes baianos realizavam, nem mesmo sobre o campeonato estadual, quando esse foi reiniciado.

A atitude tomada pela crônica esportiva gerou um esvaziamento das arquibancadas. Mas colocava em risco o emprego de muitos que dependiam do futebol para continuarem no rádio e jornal. Não tardou que uma saída honrosa fosse encontrada. Promoção semanal de jogos com equipes do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, todas às quintas-feiras, seguida de um bingo, cujo premio era um automóvel fusca zero km.  

Naquela época, eu cursava o 2° ano do Curso Científico no Colégio Central da Bahia, distante do Estádio da Fonte Nova pouco mais de um quilômetro e meio, quando muito. Morava com uma tia, que comprava os cartões dos bingos e pedia que eu fosse marcar.  Graças a isso, mesmo tendo que marcar o bingo após as partidas até duas horas da madrugada, pude assistir a jogos do Santos, São Paulo, Vasco da Gama, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Palmeiras, Grêmio, Portuguesa de Desportos, enfim, somente times de ponta. Oportunidade que tive de ver jogar os consagrados campeões Pelé, Belinni, Mauro, Tostão, Piazza, Raul, Jairzinho, Gerson, e tantos outros craques. O jogo que mais me impressionou foi a partida Santos X Cruzeiro. Havia chovido e o campo estava muito molhado. Dava gosto ver a tabelinha de Pelé e Coutinho, sempre municiados pelo jogador de meio campo Mengálvio, alto, magro e muito elegante. O restante dos jogadores dos Santos estavam com as camisas todas encharcadas de lama. Somente Mengálvio estava impecavelmente limpo.

A promoção executada pelos profissionais da imprensa esportiva quase falia os clubes baiano. Mas foi um grande exemplo como os meios de comunicação usam a enorme força de que são possuidores,  força essa que pode ser construtiva, mas muitas vezes destrutiva. A Rede Globo sabe bem como usar essa força, eleger quem ela quer e derrubar num golpe qualquer presidente. O exemplo de Fernando Collor de Melo jamais deverá  ser esquecido.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo